Na época da ditadura, os militares não tiravam os olhos de três cardeais: Dom Hélder Câmara, Dom Antônio Fragoso e Dom José Maria Pires, também chamado de “Dom Pelé”. Formavam a “Tríade Vermelha”, por serem considerados da ala progressista da Igreja. Dom Hélder teve um secretário preso, torturado e morto.
Dom Fragoso era seguido e tinha os sermões gravados. Dom Pelé, arcebispo de João Pessoa, era considerado subversivo. Ao assumir o prelado da Paraíba, renunciou ao Palácio Episcopal, trocando o luxo pela simplicidade.
A última vez que o vira fazia uns dez anos. Foi durante uma reportagem sobre a Missa do Vaqueiro celebrada por ele no sertão paraibano. Na ocasião, ele praticamente não tinha cabelos brancos, vestia batina surrada, estava descalço e tinha um chapéu de couro na cabeça. Dessa vez, no Rio Grande do Norte, durante a visita do Papa João Paulo II, Dom José Maria Pires era um senhor já grisalho e impecável em sua roupa preta de arcebispo.
Recordei-me de quando Dom Pelé encerrava sua pregação:
– Irmãos, ide em paz e abençoados por Olodum e Oxalá, que são o Deus Todo Poderoso e o Senhor do Bonfim.
Depois, quando fui retratá-lo, mencionei sua elegância. Com um breve sorriso, diss:.
– Fiz uma exceção para rever um velho conhecido, o cardeal Karol Wojtyla, que também participava do Concílio Vaticano II, em Roma.
Hoje, prestes a completar 98 anos, Dom Pelé mora na pequena cidade de Araçuaí, em Minas Gerais, onde nasceu.
Fonte: OS DIVERGENTES