Polêmicas

Deboche - Rubens Nóbrega

Na Paraíba de hoje, ou melhor, na ‘Nova Paraíba’, é assim: o governador não resolve nem ajuda, mas debocha, desdenha, zomba, escarnece, zoa, ironiza, ridiculariza ou acha feio tudo que não é espelho.

Porque não há outra palavra, além de deboche (e sinônimos), para traduzir melhor o que um governante faz ao dizer que vai resolver o problema de falta de água tratada no Brejo com a dança da chuva.

Da mesma forma, não deixa de ser gozação, além de deslealdade intelectual e política, o que o governador fez com o prefeito Veneziano Vital, de Campina Grande, durante a famosa audiência da semana passada.

Primeiro, o homem fez pouco do São João de Campina Grande. “Não é essas coisas todas que vocês estão dizendo não, procure saber direitinho que vocês vão se decepcionar”, disse Sua Excelência ao Cabeludo alcaide.

Depois, adrede e visivelmente armado para constranger o prefeito, exibiu pretensos indicadores sociais e humanos de Campina para mostrar que a própria gestão de Veneziano também “não é essas coisas todas que vocês estão dizendo não”.

Por essa e outras, começo a pensar que o governador resolveu debochar geral, começando pela impressão que ele passa de ter absoluta certeza de que todos os seus governados são burros, aí incluídos adversários do porte de um Veneziano.

Digo adversário porque foi como tal que o governador Ricardo Coutinho recebeu o alcaide da Vila Nova da Rainha. O Cabeludo foi tratado como adversário antes, durante e depois da audiência.

Antes, pelo chá de cadeira que levou. Durante, pelo que ouviu do governador, sobretudo pelo não ao pedido de apoio ao São João campinense. Depois, pelas declarações que o governador deu sobre o governo Veneziano.

Olha só quem está falando…

Quase cinco meses após assumir, Ricardo continua falando e agindo como se todo mundo acreditasse piamente nessa conversa de que ele pegou o Estado quebrado, com todos os serviços públicos paralisados ou funcionando precariamente.

Quem vê e ouve o Doutor Ricardo Coutinho insistindo no discurso do caos acredita que nem por um segundo ele desconfia que talvez mais da metade da população paraibana já tenha percebido que essa fala é enganosa ou não bate com a realidade.

Incluo-me entre os milhões de paraibanos com fundadas razões para suspeitar que o novo governo parou ou descontinuou o que funcionava até 31 de dezembro de 2010 só para tentar convencer que nada prestava até ele chegar no 1º de janeiro de 2011.

O mais triste de tudo isso é constatar que talvez por incompetência o governo ainda não conseguiu fazer o Estado funcionar e, seguramente por arrogância e soberba, recusa-se a admitir que só fez piorar enormemente o que já era ruim ou sofrível.

Se é questão de números…

E se Veneziano também tivesse se armado para aquela audiência? Poderia muito bem ter mostrado ao governador, por exemplo, indicadores do quanto João Pessoa piorou em saúde e educação nos anos em que o prefeito da Capital atendia pelo nome de Ricardo Coutinho.

E se o prefeito de Campina mostrasse que a gestão RC na Prefeitura de João Pessoa foi bacana em obras e péssima em serviços de saúde, entre outras cositas pela falta de médicos nos PSFs e falta de remuneração e condições de trabalho dignas para esses profissionais?

E se o prefeito campinense mostrasse que sob Ricardo prefeito a taxa de mortalidade infantil da Capital andava em 14,93 em 2007, caiu para 13,27 em 2008 e subiu para 14,50 em 2009, segundo números extraídos do Datasus?

E se o prefeito da Serra mostrasse que no governo do seu colega da praia a proporção de cura dos casos novos de hanseníase diagnosticados caiu de 80,23 em 2007 para 68,55 em 2010? Ou que os casos de hepatite B confirmados por sorologia subiram de 10,14 em 2007 para 41,53 em 2010?

E se o Cabeludo do Palácio do Bispo mostrasse que o grisalho de Água Fria pegou a Prefeitura da Capital com 67.785 alunos matriculados na rede municipal de ensino em 2005 e cinco anos de governo socialista depois aquele número caia para 61.091, segundo o último Censo Escolar da Educação Básica?

E se Campina mostrasse que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de João Pessoa ficou patinando em 3,1 (abaixo da média nacional de 3,6) nos anos Ricardo Coutinho na Prefeitura da Capital?

Evidente que a PMJP tem bons números de saúde e educação para mostrar, que o seu desempenho nessas áreas não se limita aos dados aqui apresentados, mas que aqui estão só para mostrar como é fácil usar ou manipular informações para o bem ou para o mal.

Afinal, como diria o poeta Roberto Carlos, “se o bem e o mal existem, você pode escolher”. No caso dessa arenga, a opção pelo mal é tão evidente quanto a crença de Ricardo Coutinho de que ele é o bom, é o cara e o resto, evidentemente, uma porcaria.

Poderia ter feito diferente

Que me perdoe o Senhor Governador do Estado, mas acredito que se ele tivesse agido de outro modo, ou melhor, de modo inverso com o prefeito Veneziano Vital, estaria hoje saboreando e comemorando o vazio de discurso na oposição.

Se não tivesse negado apoio ao São João de Campina, não estaria hoje enfrentando tanta repulsa e revolta dos campinenses, ao ponto de ser aconselhado publicamente a não pisar tão cedo o solo da Vila Nova da Rainha.

Se tivesse manifestado pelo menos disposição mínima de avaliar reivindicações sem ser tão peremptório nas negativas, estaria hoje amargando a fama de ingrato e insensível diante dos pleitos de cidade tão decisiva na fantástica vitória de 2010.

Se tivesse se portado como governador, enfim, o encontro com o prefeito teria transcorrido tal e qual se espera da interlocução entre dois governantes e não entre rivais políticos que se escaramuçam para ver quem queima mais o filme do outro.