O Obama branco e inculto dos sopões

Gilvan Freire

Quarta-feira 11 de Janeiro de 2012 e uma chamada insistente, logo pela manhã, coloca Toinho do Sopão ao alcance de minhas orelhas, acostumadas, há anos, a desproteger meus ouvidos contra promessas políticas vindas de bons e maus homens públicos que são, como promitentes, os primeiros a desrespeitarem suas próprias promessas.

Pedindo tempo e paciência – duas coisas que só podem ser dadas por quem tem de sobra, e eu já tive mas o que me resta agora não quero estragá-las na política, desfilou o que seria seu maior sonho como pobre, depois da façanha de eleger-se deputado com votação superior às das figuras mais ilustradas e nobres do parlamento estadual: ser prefeito de João Pessoa, cidade onde chegou como retirante do Vale do Piancó e onde montou à beira da lagoa de Burle Max uma panela a céu aberto para matar nos outros o que lhe ameaçara durante anos antes – a fome.

Dias atrás, Toinho esteve com Luciano Agra, a quem expôs seus planos por cerca de duas horas, ao final de que – noticiou a imprensa – o prefeito da capital teria dito: ‘não entendi nada!’. Mas quem está disposto mesmo a entender Toinho do Sopão?

Ninguém sabe concretamente o que Luciano Agra ouviu nem o que passou pela sua cabeça diante de quem foi ungido por 46 mil eleitores pobres da capital, 10 mil votos a mais do que outro recordista, Ricardo Coutinho, antes ser semideus e candidato a deus completo e absoluto mas oniausente dos merecimentos divinos.

Teria Luciano Agra subestimado as idéias ‘tresloucadas’ do deputado cuja atuação parlamentar varia entre o aumento do hilário e dos pratos nos sopões? Em algum momento Luciano pensou nele como um concorrente ‘aloprado’ ou azarão com viés de fenômeno?

A INSUREIÇÃO DAS COLHERES VAZIAS

Toinho do Sopão nasceu no sítio Bom Jesus, no município de Piancó, de onde emigrou aos 13 anos. O nome do sítio teria a ver com suas palavras messiânicas, falando sempre em nome dos excluídos e famintos? Até onde ele é o que acredita ser?

Às vezes, penso em dar atenção aos que parecem loucos, já que muitos que parecem lúcidos enganam pelas suas anormalidades encobertas e assustam pela incapacidade de fazer o bem. Os quase malucos, como eu, via de regra, acreditam em Deus e apostam na revolução dos justos.

Na conversa longa, Toinho começou por um gesto de sanidade mental duvidosa. Disse – “se eu tivesse um vice bom, como sonho todo dia, ganharia a eleição de prefeito”. E apontou na direção mais temerária – “só tem três nomes dos meus sonhos, Gilvan Freire, Buega Gadelha e Ney Suassuna, duvido com um desses eu não ganhar!”. Não me ofendi.

Descontado o fato de que Toinho não sabe escolher vices tanto quanto sabe escolher sopas, pareceu-me que ele pensa como um sábio humilde da história antiga, que dizia – “Para dominar o mundo, só preciso não está sozinho”. E assinalou um rosário de projetos administrativos que gerariam empregos para os que tomam sopa gratuita porque não tem como fazê-la ou comprá-la. Na maior parte das idéias, são treinamentos de capacitação profissional a serem ministrados nas comunidades onde o desemprego campeia e as drogas e a criminalidade avançam ocupando o que seriam postas de trabalho.

No final de semana, quando Mitt Romney, o favorito das prévias do Partido Republicano, nos Estados Unidos, tropeçou nas palavras e ­­­declarou em entrevista que ‘Eu gosto de demitir pessoas’, seu adversário Jon Huntsman retrucou com fortíssimo apoio e reação da opinião pública americana ‘Eu gosto de criar empregos’.

Se os candidatos devem ter seus planos correspondentes à forma como encaram as necessidades da população, não faz mal que um candidato modesto possa mostrar o que os candidatos mais letrados nem sempre têm a oferecer: um projeto de governo que venha das ruas e dos pobres.

Livre de Buega Gadelha, Gilvan Freire e Ney Suassuna, que pertencem a uma elite política falida que não sabe encontrar solução para a maior parte dos problemas dos famintos, Toinho do Sopão pode ser a solução, ou pelo menos transforma-se num protesto ameaçador em volta dos que, em vez de emprego e sopa, desempregam e causam a fome.

Mas o deputado sopista precisa esclarecer primeiro de que lado fica no governo de RC, um aglomerado humano de um homem único que quer provar aos sábios de todos os tempos que é capaz de dominar o mundo sozinho. E precisa provar também com qual dos dois está o juízo.

Leia na sexta, a continuidade de ‘Os vesgos não vêem como são vistos’.