polêmica

Depois do PT, PSOL se divide sobre Assembleia Constituinte na Venezuela

Segundo Jean Wyllys, o governo Maduro não é de esquerda "sequer na política econômica, que é um desastre"

Venezuela’s acting President and presidential candidate Nicolas Maduro sings during a campaign rally in Caracas April 5, 2013. Maduro said on Friday that Venezuelan authorities have arrested several people suspected of plotting to sabotage one of his campaign rallies before an April 14 election by cutting the power. REUTERS/Carlos Garcia Rawlins (VENEZUELA – Tags: POLITICS ELECTIONS)

A crise venezuelana reverberou na esquerda brasileira. Depois do PT, nesta semana, foi a vez de o PSOL expor suas divergências sobre o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Na segunda-feira (31), o comando nacional do PSOL divulgou nota em apoio à convocação de uma Assembleia Constituinte nos moldes definidos por Maduro. Pelo modelo, os constituintes foram eleitos segundo cotas fixadas pelo governo. A oposição boicotou a votação.

Um dia após a eleição, marcada por conflitos violentos, a cúpula do PSOL publicou nota segundo a qual “a convocação de um processo constituinte visa ampliar a legitimidade de um governo que mudou a face do país, sob o comando de Hugo Chávez”.

Sob o título “Toda solidariedade à revolução bolivariana”, a nota do PSOL afirmava ainda que em um cenário de radicalização das posições “não há meio-termo”.

No dia seguinte, o deputado federal Jean Wyllys (RJ) protestou nas redes sociais, chamando de indefensável o apoio da esquerda brasileira a uma ditadura.

“Não sou neutro […]. Sou contra uma farsa de constituinte com regras eleitorais pelas quais, se a oposição participasse, mesmo vencendo, perderia, porque é um jogo de cartas marcadas”, reagiu.

Wyllys acrescentou:

“Sou a favor de uma esquerda do século 21… e o chavismo, além de autoritário, é anacrônico, machista, homofóbico, antissemita, militarista, chauvinista, atrasado”.

CONSTITUINTE VENEZUELANA
Votação convocada por Maduro é questionada pela comunidade internacional

Manobras do governo
– Dividiu as cadeiras da Constituinte por voto territorial e setorial
– No voto territorial, cidades menores (mais chavistas) tiveram mais peso que as grandes cidades
– No voto setorial, a divisão por associações de classe foi definida pelo chavismo

Indícios de fraude
– Empresa responsável pela votação afirma que resultado foi manipulado
– Segundo a companhia, o governo inflou os números em pelo menos 1 milhão
– O CNE não havia detalhado o resultado, como o número de votos nulos
– Tampouco foi divulgado o número de votos de cada membro eleito da Constituinte

Reconhecendo que o tema divide o partido, Wyllys afirma que a bancada não foi consultada sobre a divulgação da nota, assinada pela secretaria de Relações Internacionais do partido. Procurada, a assessoria da liderança do PSOL afirmou que a nota reproduz a opinião partidária.

Segundo Wyllys, o governo Maduro não é de esquerda “sequer na política econômica, que é um desastre”.

“O povo está passando fome, faltam remédios e comida. Esse governo é indefensável e não é agora, há muitos anos que é indefensável.”

Estimulado por Wyllys, a direção estadual do PSOL do Rio também protestou nas redes sociais, divulgando uma nota em que chama de absurda a manifestação de apoio sem prévia consulta e traz duras críticas à gestão Maduro.

Há duas semanas, a presidente nacional do PT, a senadora do Paraná Gleisi Hoffmann, provocou constrangimento entre petistas ao defender enfaticamente a convocação da assembleia.

Ela e a secretária de Relações Internacionais do PT, Mônica Valente, redigiram um artigo em defesa de Maduro, publicado na Folha no último dia 30.

Um dos principais interlocutores do ex-presidente Lula, o ex-chanceler Celso Amorim afirma que o diálogo “segue sendo a única saída para o drama venezuelano”.

“Não creio que a situação extremamente grave a que a Venezuela chegou se preste a simplismos. Não é possível basear o julgamento em único episódio, por mais importante que seja. O Brasil, durante a época em que fui ministro do presidente Lula, se empenhou em estabelecer as bases para o diálogo, com algum sucesso. Mas não se pode ignorar que a raiz dos males venezuelanos é a história de exploração e abandono do povo, em benefício de uma minoria, situação que o governo Chávez procurou corrigir”, disse Amorim.

“É lamentável que, por suas atitudes, além da falta de legitimidade, o governo brasileiro atual seja incapaz de ter qualquer papel em eventual retomada do diálogo.”

Fonte: Folha de S. Paulo