Dona de uma silhueta incomum para o universo da dança, a bailarina Thais Carla, 25, afronta muitos preconceituosos. Contratada para reforçar o time de dançarinas de Anitta, a fluminense, de Nova Iguaçu, sobe ao palco com um objetivo claro: “Mostrar que toda mulher pode ser o que quiser. Assim como a Anitta, tenho meu lado guerreira, de lutar pelo que quero e conquistar”, diz.
Ela já ganhou concursos de dança regionais, venceu o quadro “Se Vira nos 30”, do “Domingão do Faustão”, e trabalhou por quatro anos como bailarina no programa “Legendários”. Os números na balança e da fita métrica são apenas detalhes que contribuem para uma longa lista de conquistas. Com 140 kg e manequim 56, ela se orgulha de exibir o corpo: “Gorda pode, sim, ser sexy!”
Thais tem um rebolado de babar e curte mostrar sua sensualidade. No Instagram, onde tem 100 mil seguidores, ela já compartilhou cliques em que aparece ora de lingerie, ora completamente nua ao lado do marido, o fotógrafo baiano Israel Reis, 23. “Algumas pessoas ficam chocadas e dizem que eu deveria me envergonhar, mas sei que inspiro muita gente. Ainda quero posar para uma revista masculina.”
Aos 4 anos, Thais foi matriculada no balé e no jazz pela mãe, para emagrecer. “Aprendi a dançar e continuei gorda”. Na adolescência, Thais chegou a recorrer às anfetaminas, que só lhe renderam mal-estar. Agora, a saúde em dia é o que a motiva a não brigar com a balança. As curvas voluptuosas são, segundo ela, resultado de um metabolismo lento com a qual aprendeu a lidar. “Decidi assumir meu peso e não lutar contra ele. Não quero viver em função do meu corpo, é muito sofrido”, afirma.
A bailarina fala de sua relação com Anitta e dá lições de autoestima poderosas.
“A Anitta tem um poder absurdo”
“Foi uma experiência incrível subir no palco ao lado dela. Nós temos uma relação estritamente profissional, mas tem sido ótimo. Sou bailarina contratada desde o lançamento de ‘Paradinha’ e participo dos shows por escala.”
“A minha primeira apresentação foi em um festival no Rio de Janeiro. Senti uma vibração maravilhosa do público. No fundo, eu era só um complemento, porque a Anitta já arrasa sozinha. Ela é uma grande referência para mim –tem origem humilde [nasceu em Honório Gurgel, no subúrbio carioca] e provou que é possível vencer no funk.”
“O balé tem bailarinas negras, brancas, de diferentes orientações sexuais… Já está na hora de a diversidade ser tratada como algo normal. A dança é para todos e espero inspirar muitas mulheres. Recebo muitas mensagens de meninas que aprenderam a se amar depois de me ver dançando. Inclusive, muitas são magras.”
“Sou mais do que uma silhueta”
“O sobrepeso já me gerou sofrimento. Eu me questionei muito por que não conseguia emagrecer, mesmo gostando tanto de dançar. Tudo mudou aos 16 anos, quando ganhei meu primeiro concurso de dança, na minha cidade. Eu era a única gorda entre as candidatas. Naquele momento, decidi que não só queria, como poderia fazer só isso da minha vida.”
“Já ouvi muitas críticas e recebi muitos ‘nãos’ em trabalhos só por conta do meu corpo. Diversas vezes, não entrei no figurino. Ainda assim, não desanimei. Tenho saúde e quero vender autoestima, amor e alegria para as pessoas. Não faço apologia à gordura. Só não quero viver em função do emagrecimento, porque me deixa deprimida.”
“Alguém tinha que vir ao mundo para promover mudanças. Fui uma das escolhidas e já cheguei rebolando.”
“Me sinto segura, apesar da gordofobia”
“A dança sempre me deu muita autoestima. Essa segurança me blindou do bullying na infância. Por outro lado, no dia a dia, ainda tenho que lidar com algumas situações delicadas. No ônibus, por exemplo, ninguém aceita dividir um banco comigo. Tem gente que chega me dando conselhos de emagrecimento, sem que eu peça por eles.”
“Outro dia, me perguntaram por que não faço uma cirurgia bariátrica. Confesso que, enquanto trabalhei na TV, ganhei uma quantidade boa de dinheiro e poderia ter feito. O problema é que, se eu fizesse, estaria vendendo uma mentira, não a minha essência.”
“Quando olho no espelho, gosto muito do que vejo. Minha vaidade está na minha escolha de ser feliz. Não me escondo atrás das roupas. Dispenso lingerie sempre que posso, acho sexy usar vestido sem nada por baixo, e saio na rua de top cropped sem me preocupar com a opinião alheia. Esse é um segredo importante. Por mais que as pessoas te julguem, você tem o direito de vestir o que quiser.””Carrego como mantra a música ‘Máscara’, da Pitty: ‘O importante é ser você, mesmo que seja estranho. Seja você, mesmo que seja bizarro’.”
“Sempre fui muito namoradeira”
“Nunca tive problemas com relacionamentos nem enfrentei situações constrangedoras com ex-namorados. Muitos caras que falam mal de mulher gorda é louco para namorar uma. Já recebi incontáveis e-mails com convites para sair.”
“Uma única vez, na escola, lembro de um garoto ter me dispensado por vergonha dos amigos. Mas o preconceito nunca me atingiu ou me freou. Eu tenho o direito de ser desejada.”
“Conheci meu marido há dois anos, pelas redes sociais. Ele comentava em todas as minhas fotos. Eu me apaixonei assim que entrei no perfil dele. Poucos meses depois, ele veio para o Rio e nunca mais nos separamos. Há sete meses, dei à luz nossa primeira filha, Maria Clara. Na minha vida, tudo é muito maluco.”
Fonte: UOL