A notícia de que o então presidente da Embratur João Doria (PSDB) propunha fazer da seca no nordeste uma atração turística voltou a repercutir nas redes sociais, trinta anos depois.
No dia 1º de julho de 1987, o Jornal do Brasil publicou a fala do agora prefeito de São Paulo: “Os turistas teriam a chance de ver de perto a caatinga nordestina, de travar contato direto com o sertanejo e de conhecer e comprar os produtos do seu artesanato”.
Segundo o JB na época, “Doria Júnior lembrou que algumas agências de viagem fluminenses e paulistas estão promovendo excursões de turistas ao garimpo de Serra Pelada. ‘com muito sucesso’. Por isso, indagou ‘por que, então, não proporcionar ao turista do Sul e Centro-Sul a oportunidade de conhecer os efeitos da seca que de novo se abate sobre o Nordeste?’”
O prefeito de São Paulo também afirmou então, para defender sua proposta, que o governo federal deveria aumentar os investimentos no turismo e reduzir a verba para a irrigação.
Doria conseguiu desagradar profundamente os cearenses com suas declarações, realizadas durante um encontro que teve com mais de 100 empresários cearenses e o então governador do Ceará, Tasso Jereissati, agora companheiro de partido, dizendo que a seca poderia ser um ponto de atração turística no Nordeste.
O próprio ministro do Interior de Sarney em 1987, João Francisco Cavalcante, foi um dos nordestinos irritados com as declarações do atual prefeito de São Paulo. Um dia após a declaração de Doria, Cavalcante disse que, como nordestino, não poderia concordar que se transformasse um problema como a seca em atração turística. Ele acrescentou que preferia “imaginar que essas declarações não existiram”, de acordo com a imprensa da época.
Na época, o JB também ressaltou as declarações da radialista Adísia Sá. Então responsável por um dos programas de maior audiência de Fortaleza, o Debate do Povo, ela prometeu “receber a primeira agência de viagens que chegar com uma excursão para visitar a seca liderando uma multidão para vaiar e fazê-la voltar”. Ela concluiu o programa chamando Doria de “dândi do society transplantado para a vida pública”.
A proposta do agora prefeito da maior cidade brasileira foi feita em 30 de junho de 1987, durante uma viagem de Doria a Fortaleza, em um período em que a região enfrentava uma dura estiagem, que motivou até uma CPI no Congresso sobre o tema. Na época, a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) cumpria o papel atualmente exercido pelo Ministério do Turismo.
“A Caatinga nordestina poderia ser um ponto de visitação turística e gerar uma fonte de renda para a população sofrida da área, respeitando as características culturais e humanas da população, sem exploração da miséria”, publicou a imprensa, em 1987.
De acordo com a publicação na época, Doria justificou a proposta afirmando que os brasileiros tinham o direito de conhecer “a riqueza e a pobreza do Brasil”. Ele também afirmara que a indústria do turismo era mais eficiente em comparação com as obras de irrigação no Nordeste.
O jornalista e professor Nilson Lage publicou no Facebook uma matéria da época, com a legenda “pensava isso quando tinha 30 anos. Hoje pensa o dobro.” Vários veículos jornalísticos também relembraram a história, que ressurgiu nesta semana.
João Doria se defendeu nesta sexta-feira (30), através da Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, alegando que na época as declarações sobre turismo na seca foram desvirtuadas.
Fonte: Jornal do Brasil