O presidente Donald Trump anunciou nesta quinta-feira que os Estados Unidos abandonarão o Acordo de Paris, alegando que o pacto climático “é desvantajoso” para os interesses da economia e dos trabalhadores americanos.
Segundo ele, os termos atuais levam ao fechamento de fábricas americanas e à exportação de empregos da indústria carvoeira para outros países.
Para críticos, porém, ao deixar o acordo, os EUA estarão abdicando de ocupar um papel de liderança em um tema de relevância global.
Assinado há um ano e meio na capital francesa por 195 de 197 países (as exceções são Síria e Nicarágua) na Convenção da ONU sobre Mudanças Climáticas, o Acordo de Paris tem como objetivo manter o aumento das temperaturas médias globais “muito abaixo” dos 2°C em relação à era pré-industrial.
Esse é o ponto a partir do qual cientistas afirmam que o planeta estaria condenado a um futuro sem volta de efeitos devastadores, como elevação do nível do mar, eventos climáticos extremos (como secas, tempestades e enchentes) e falta de água e alimentos.
A assinatura do acordo, em 2015, foi histórica por unir, pela primeira vez, quase todos os países do mundo em um pacto voltado às mudanças climáticas.
Mas o que a saída dos EUA do Acordo de Paris significará para o resto do mundo?
1. O acordo fica mais fraco
Não há dúvidas de que a ausência dos EUA dificulta o cumprimento das metas estabelecidas pelas nações globais no Acordo de Paris – sobretudo impedir que a temperatura global suba mais de 2ºC.
Em 2016, registrou-se no mundo um nível recorde de emissões de dióxido de carbono, algo que especialistas chamaram de “uma nova era” de aquecimento global e “prova irrefutável” da responsabilidade humana sobre as mudanças climáticas.
O acordo parisiense prevê limites à emissão de gases do efeito estufa e que países ricos ajudem os mais pobres financeiramente a se adaptar às mudanças climáticas e na adoção de energias renováveis.
Os EUA contribuem com cerca de 15% das emissões globais de carbono, mas ao mesmo tempo é uma importante fonte de financiamento e tecnologia para países em desenvolvimento em seus esforços para combater o aquecimento global.
Outra questão é a da “liderança moral” da qual os EUA abdicarão ao deixar de lado o acordo climático – algo que pode ter consequências no âmbito diplomático.
O ambientalista Michael Brune, diretor-executivo do grupo Sierra Club, considerou o recuo americano “um erro histórico que será analisado por nossos netos com decepção e surpresa sobre como um líder global conseguiu estar tão distante da realidade e da moralidade”.
2. A China ganha protagonismo
China e Estados Unidos foram atores cruciais na consolidação do acordo climático. O ex-presidente Barack Obama e seu par chinês, Xi Jinping, entraram em consenso quanto à criação de uma “ambiciosa coalizão” com pequenos países insulares e a União Europeia.
A China apressou-se em reafirmar seu compromisso com o acordo parisiense, e espera-se um comunicado conjunto de Pequim e União Europeia nesta sexta-feira prometendo maior cooperação no corte de emissões de carbono.
“Ninguém deveria ficar para trás, mas a UE e a China decidiram andar para frente”, disse o comissário climático da União Europeia, Miguel Arias Cañete.
É possível também que, além de aumentar o protagonismo chinês, a decisão americana abre espaço para que Canadá e México ascendam como “players” significativos nas Américas no esforço de impedir o aumento das temperaturas globais.
3. Lideranças empresariais globais se sentirão contrariadas
Líderes corporativos americanos formaram uma das mais fortes vozes em favor da permanência dos EUA no Acordo de Paris.
Centenas de empresas como Google, Apple e até mesmo produtoras de combustíveis fósseis como Exxon Mobil haviam pedido a Trump que se mantivesse nas negociações climáticas.
Darren Woods, executivo-chefe da Exxon, escreveu uma carta pessoal a Trump dizendo que os EUA “estão bem posicionados” para competir globalmente dentro do acordo, com o qual os EUA teriam “um assento na mesa de negociações de forma a garantir a igualdade” das regras de mercado.
4. É improvável que o carvão volte a ter protagonismo
Uma das forças eleitorais de Trump no pleito de 2016 é região americana produtora de carvão – em Estados como Virgínia Ocidental, Ohio e Pensilvânia, que ele diz terem sido prejudicados pelo Acordo de Paris -, à qual o presidente prometeu incentivos e empregos durante a campanha.
Mas o ocaso do carvão, que também está sendo abandonado em diversos outros países, dificilmente será revertido.
Além disso, a quantidade de empregos gerados nos EUA pela indústria carvoeira equivale hoje à metade dos gerados pela indústria de energia solar.
Ainda que muitos países em desenvolvimento ainda dependam do carvão, essa fonte de energia é alvo de críticas por seu forte impacto na qualidade do ar.
E a queda dos preços da energia renovável também tem levado nações como a Índia a adotar fontes mais verdes de combustível.
5. Ainda assim, as emissões devem cair
Mesmo com a saída americana, as emissões de carbono devem continuar a cair nos EUA – isso por causa do crescimento do gás como fonte de energia em substituição ao carvão.
O uso do gás de xisto – que também é alvo de polêmicas ambientais – cresceu exponencialmente com o aumento da produção e a queda dos preços.
Fonte: Terra