Foi exonerado

Advogado defende delegado que culpa mães que querem novo relacionamento por abusos de filhos

Exonerado nesta segunda-feira depois de sugerir que crianças são abusadas sexualmente dentro de casa porque as mães delas fazem um “rodízio de padrastos”, o delegado Miguel Lucena garante que não se arrepende do que disse.

Lucena era diretor de comunicação da Polícia Civil no Distrito Federal (DF). Ao passar informações a jornalistas, num grupo de Whatsapp, sobre o caso de uma menina de 11 anos abusada pelo companheiro da mãe, o delegado disse que “as crianças estão pagando muito caro por esse rodízio de padrastos em casa”. Ele foi logo criticado pela maioria dos profissionais no grupo, que o questionaram dizendo que a culpa pelo estupro é sempre e exclusivamente do estuprador.

O renomado advogado Irapuan Sobral defendeu o colega e explicou a situação.

Confira o texto do advogado:

Conheço o Miguelzinho (assim, no diminutivo, porque, como eu, ele carrega o nome do pai), desde o início dos anos 80, quando ele fazia parte da escola de jornalismo do PCdoB, na Paraíba. Dessa escola saíram ele,  Zé Euflávio Horácio, Carlos César Muniz, Peninha, Walter Dantas, etc.

Fui reencontra-lo delegado da Polícia Civil, aqui em Brasília. Nossos fortuitos encontros são festivos, geralmente em família. Estamos nos devendo um acarajé em Taguatinga, há muitos anos.

Poeta e escritor, Miguelzinho não se exime da opinião (herança telúrica), nem do floreio irônico, quando pode – sequer da polêmica. Mas faz entre risos VERDADEIROS.

Taí uma expressão típica, em Miguel: o riso eloquente.

Quando falou sobre a questão do estupro, ele não estava eximindo o criminoso, a quem tem o dever de perseguir. Também não queria mitigar seu ato horrendo. Miguelzinho estava lá nas causas, forçado pela realidade, com a e da qual vive. A realidade tem essa mania de assombrar as opiniões que lhe são distantes. Mais assombrados ficam os que deixam no monopólio exclusivista do estado a solução de um problema endêmico que nasce, cresce e se reproduz, originalmente, em casa – nas famílias. A família não está fora do problema. Miguelzinho sabe da casuística.

Tanto sabe que a provocou por esgotamento. E não fez cobrança moral, mas de vigilância e responsabilidade primária. Não há uma polícia (como se fosse o olho do estado) para cada cômodo da casa. Ele, de certo, quis compartilhar a causa e a consequência.

A violência que domina o Brasil não será podada pela violência oficial, senão pela educação, cuja pedagogia será o emblema.

Se a gente não pode ouvir a outra opinião, e com um balizamento desse, a gente não sai do próprio círculo vicioso que estamos. É a outra opinião – Irapuan Sobral advogado

Fonte: Polêmica Paraíba