Réplica, tréplica, erros e desculpas

O procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho na Paraíba, Eduardo Varandas, histórico defensor da liberdade de expressão, criticou, através de artigo, a prática do jornalismo sensacionalista, após, segundo ele, ter tido a moral ilibada e a conduta funcional feridas pela prática do que classifica de ‘ jornalismo irresponsável‘.

No artigo, escrito com português impecável e clareza textual, o procurador reafirma compromisso exclusivo com a sociedade paraibana e critica duramente um texto escrito pelo jornalista Luís Torres, sobre a divulgação do relatório conclusivo realizado pela Secretaria de Controle Externo do Tribunal de Contas da União acerca da terceirização do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, autorizada pelo Governo do Estado.

Segundo o procurador-chefe o ‘post do jornalista é inverídico, irresponsável, tendencioso e transgressor da ética e dos primados da comunicação social‘. Após reconhecer a ‘pisada na bola’ o jornalista Luis Torres, escreveu em outro post que reconhece os excessos cometidos e fará até um pedido público de desculpas. ‘Aliás, cheguei a pedir desculpas por eventuais excessos no meu artigo e disse que esperaria pelo conteúdo da auditoria do TCU para publicar o material e fazer o pedido de desculpas a ele em público’, escreveu.

É isso aí.. feio é não reconhecer e permanecer no erro…!

Confira logo abaixo a coluna escrita pelo procurador-chefe do MTP-PB, Eduardo Varandas, e, logo após o post do jornalista Luis Tôrres, se desculpando e por fim o post que originou toda a confusão:

Post Eduardo Varandas:

Jornalismo Irresponsável

Não costumo responder ao que a imprensa publica a respeito de minha atuação como membro do Ministério Público da União. Sempre defendi a liberdade de expressão plena dos jornalistas e creio que um Estado Democrático de Direito não existe com censura à informação.

Contudo, ainda que eu seja um republicano, não devemos confundir liberdade de expressão com abuso de direito. Pois é! Sendo eufemístico, foi a isso, no mínimo, que o jornalista LUÍS TÔRRES procedeu em seu blog, ao estourar a manchete sensacionalistaTCU DESMENTE VARANDAS E NEGA CONCLUSÃO DE RELATÓRIO CONTRA CRUZ VERMELHA NA PB”.

Não devo explicações ao referido “folhetim” virtual. Não tenho o menor pudor em assegurar que meu trabalho é sério, imparcial e compromissado EXCLUSIVAMENTE com a legalidade e a Justiça. Aliás, se assim não o fosse, tamanha a quantidade de interesses que contrario neste feudo, os marginais de colarinho branco e gravata italiana já teriam estampado escândalos comigo na grande imprensa.

De toda sorte, a postura do senhor Luís Tôrres feriu minha moral ilibada e minha conduta funcional, e à sociedade, somente a esta, devo explicações na condição de homem público. Asseguro que o post do jornalista é inverídico, irresponsável, tendencioso e transgressor da ética e dos primados da comunicação social. Desprezando os erros crassos cometidos por ele, confundindo TCE com TCU, MPU com MP-PB, reafirmo que, em nenhum momento, o TCU desmentiu a nota emitida pela assessoria de comunicação do MPT. Estou, em mãos, com auditoria realizada pela Secretaria de Controle Externo do TCU, por minha solicitação, onde os auditores, agentes públicos federais concursados, apontam CONCLUSIVAMENTE inúmeras irregularidades existentes na terceirização praticada no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena.

Transcrevo, in verbis, os trechos nucleares:

2- ACHADOS DE AUDITORIA
2.1 – Ausência de comprovação de experiência técnica da contratada;
2.2 – Ausência de justificativa para a escolha da entidade Cruz Vermelha Brasileira/RS para operacionalização, apoio e execução de atividades e serviços de saúde no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, bem como justificativa do preço contratado;
2.3 – Qualificação/confirmação da Cruz Vermelha Brasileira/ RS como organização social, sem que fossem preenchidos os requisitos da Lei 9454/2011;
2.4 – Fundamentação indevida (art. 24, XXIV, da Lei 8666/93) para contratação de entidade com dispensa de licitação;
2.5 – Contrato de gestão celebrado sem definição de metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, mediantes indicadores de qualidade e produtividade;
2.6 – Realização de repasses financeiros à contratada sem vinculação quanto ao cumprimento de metas pactuados no contrato de gestão;
2.7 – Contratação de pessoal para exercer a atividade-fim do hospital sem a realização de concurso público;
2.8 – Aquisição de bens e serviços sem prévia licitação.

 

São trinta e nove páginas da mais completa e perfeita auditoria que já chegou às minhas mãos, em doze anos como Procurador do Trabalho. Os auditores federais Ronildo Ferreira Nunes e Fernando Castelo Branco Craveiro traçaram, com precisão arquimédica e competência singular, uma completa radiografia do órgão que serve de prova idônea, para que o Ministério Público, independente do resultado da deliberação do Conselho de Ministros, tome as providências judiciais que achar necessárias. Os tribunais de contas não integram o Poder Judiciário brasileiro, e suas decisões, conquanto sábias e respeitadas, não vinculam este Poder, eis que destituídas de coisa julgada material.

O Ministério Público, Senhor jornalista Luís Tôrres, goza de autonomia funcional assegurada pela Constituição da República. Seus membros são concursados e vitalícios, não sendo, portanto, vassalos desqualificados do partidarismo cancerígeno que assola a saúde do Brasil.

O MPT não se responsabiliza por notas divulgadas em sites nos quais o seu Procurador-Chefe na Paraíba “teria” dito que o TCU já havia deliberado sobre o tema. Na página oficial do MPT, no jornal Correio da Paraíba, assim está escrito:

“Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União confirmou que há irregularidade na terceirização das atividades do Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena (HETSHL). Segundo relatório do TCU, a Cruz Vermelha Brasileira não detém experiência técnica comprovada para administrar um hospital do porte do Trauma.” (Disponível em: http://www.prt13.mpt.gov.br/images/prt13/ascom/ascom_sede/mptemacao/mptemacaode09122011.pdf)

Em nenhum momento, foi dito que o TCU julgou o Estado da Paraíba ou impôs alguma multa aos administradores apontados pela auditoria como responsáveis.

Feitos os esclarecimentos, reafirmo minha fé na imprensa paraibana, que tem contribuído bastante para a melhoria da sociedade e, contrariando o adágio popular, revelo que “uma gota de lama fétida não compromete um balde de água limpa”.

Eis a verdade! Ponto final!

Eduardo Varandas

Post Luis Tôrres:

‘De cabeça erguida

Não se trata de tréplica, nem muito menos de uma tentativa de polemizar o tema. Mas, pelo respeito aos leitores que tenho, e creio que sejam muitos e inteligentes, desejo apenas esclarecer alguns pontos sobre tema levantado pelo chefe da Procuradoria do Trabalho na Paraíba, Doutor Eduardo Varandas, acerca de nota publicada neste blog.
Não tenho nada de pessoal contra o nobre procurador. Aliás, como ele bem sabe, sempre fui um admirador do seu trabalho e, por ele, sempre nutri verdadeiro respeito.
Tenho, no entanto, a altivez de me colocar diante dos atos públicos de quem quer que seja, avaliando-os ao meu modo e opinando com a franqueza que a minha escrita permite.
Sei que isso tem um preço. Porque só dorme em brancas nuvens quem cala suas próprias opiniões. Ao expor meus pensamentos, estou exposto ao pensamento dos outros. É imprescindível que eu seja aplaudido ou reprovado.
Pois bem. No caso em questão, preciso reafirmar de público meu extremo e intocável direito de defender o que fiz.
E o que foi que eu fiz?
Simplesmente busquei, no mais livre e democrático exercício jornalístico, o Tribunal de Contas da União para me aprofundar sobre notícia veiculada pelo Doutor Eduardo Varandas afirmando que uma auditoria do TCU havia encontrado diversas irregularidades no contrato da Cruz Vermelha e do Hospital de Trauma e condenado a parceria.
Fui atrás do TCU pra ter acesso ao conteúdo dos posicionamentos daquele tribunal sobre o tema levantado pelo ínclito procurador. Por telefone, consegui contato. E sabe o qual foi a resposta que encontrei por parte do Setor de Comunicação do Órgão? Exatamente a que eu publiquei: que o processo em questão estava inconcluso e que não havia, por parte do Tribunal de Contas da União, nenhuma deliberação sobre o tema. E mais: que o processo ainda estava em fase de análise e que o Tribunal só poderia se manifestar após julgamento do caso pela Corte de Contas.
Eis também uma verdade. Podem ligar para o TCU. Podem ir atrás. Vão encontrar a mesma resposta. E que vocês fariam? Publicariam outra coisa?
Se o procurador Eduardo Varandas teve acesso a algo mais, conforme publicou, parabéns, mérito dele. Agora, repito, o TCU não divulgará nota alguma sobre o tema até que ele seja concluído.
Na minha opinião, coisa que reafirmo com todas as letras seja aqui no blog seja perante um juiz, e tenho todo direito de faze-lo, continuou considerando um açodamento por parte do Procurador Eduardo Varandas em trazer o assunto à tona antes de uma posição definitiva do TCU. Mesmo tendo eu a indiscutível consciência de que ele tem todo o direito constitucional, legal, funcional, universal, de fazê-lo.
E eu todo o direito de criticar tal ato. Ou não tenho? Será o procurador uma figura imune a críticas? Acho que não. Como também eu não sou, nem TCU, nem mesmo o nosso Deus, tão vilipendiado por posições metafísicas de uma humanidade materialista e pouco espiritual.
Não adianta. Vou continuar me valendo de tal direito.
Por telefone, na segunda-feira à noite, ao conversar com o Doutor Eduardo Varandas, tive a oportunidade de, na maior franqueza, dizer tudo isso que escrevi acima a ele diretamente. Aliás, cheguei a pedir desculpas por eventuais excessos no meu artigo e disse que esperaria pelo conteúdo da auditoria do TCU para publicar o material e fazer o pedido de desculpas a ele em público.
O procurador não esperou. Nem sei se devo mais. Afinal, como disse, tenho admiração por Eduardo Varandas. E respeito. Não medo.
Luís Tôrres’

 

Post Luis Tôrres:

TCU desmente Varandas e nega conclusão de relatório contra Cruz Vermelha na PB

Na última sexta-feira, o procurador chefe do Ministério Público da Paraíba, Eduardo Varandas (foto abaixo), usou a assessoria de comunicação do órgão para anunciar suposta decisão do Tribunal de Contas da União considerando irregular e determinando a suspensão do contrato entre a Cruz Vermelha e o governo da Paraíba para gerência do Hospital de Trauma Senado Humberto Lucena.

Segundo o procurador, o TCU teria detectado várias irregularidades em auditoria feita no Trauma e considerado o contrato ilegal. O curioso é que o material do MPT da Paraíba não possuía um documentou declaração oficial sequer do próprio TCU.

E sabe por que não tinha? Simplesmente porque o Tribunal de Contas da União sequer concluiu o parecer da auditoria feita no Trauma. De acordo com a Secretaria de Comunicação do TCU, com sede em Brasília, a investigação ainda está em análise bastante inicial, com as peças ainda em estudo. “Não há deliberação alguma por parte do TCU sobre este tema”, informou a Secretaria de Comunicação do TCU ao blog e aos veículos de comunicação que foram atrás do tema nesta segunda.

O número do processo é 029.124/2011-5. De acordo com o setor de andamento de processos do TCU, conforme se pode atestar no documento acima, ele ainda está “EM ABERTO” na Secretaria de Controle Externo do Tribunal.

É digna de aplausos a preocupação do procurador Eduardo Varandas em assegurar a legalidade das relações trabalhistas no Hospital de Trauma.

Mas o caso nos impõe uma pergunta que não quer calar: por que a pressa do procurador Eduardo Varandas em passar por cima do TCU pra divulgar algo em nome do Tribunal que a própria instituição ainda não concluiu?

Quem souber, me dê a resposta.

Luís Tôrres