Ex-dirigentes do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) denunciaram a venda de tempo de rádio e TV à campanha de reeleição de Dilma Rousseff (PT) em 2014, que teve Michel Temer (PMDB) como vice.
Segundo eles, o PROS negociou também com candidatos que disputavam eleição para governos estaduais. As denúncias confirmaram conteúdos de delações de ex-executivos da Odebrecht investigados na Operação Lava-Jato.
O ex-tesoureiro e fundador do PROS, Niomar Calazans, disse ter testemunhado algumas transações, conforme informações da revista Veja e do Jornal Nacional. Ele afirmou que, antes do primeiro turno da eleição de 2014, o atual presidente do partido, Eurípedes Junior, que estava negociando o tempo de TV com o PT, teria comentado com ele: “Vai entrar uma grana boa aí, fechamos acordo com a Dilma”. Segundo Calazans, o dinheiro teria ido para o bolso do presidente do partido e abastecido campanhas políticas na forma de caixa dois.
O ex-presidente de honra do partido, Henrique José Pinto, também acusa Eurípedes Junior. Ele disse que, na época, chegou a comentar com Eurípedes se R$ 7 milhões não eram dinheiro demais. Segundo Henrique José Pinto afirmou à TV, Eurípedes teria respondido: “É pouco, vale R$ 50 milhões”.
Henrique José Pinto também afirmou que o PROS vendeu tempo de rádio e TV às campanhas de Paulo Skaf, candidato do PMDB em São Paulo; Delcídio do Amaral, candidato do PT em Mato Grosso do Sul; Marconi Perillo, candidato do PSDB em Goiás; e Anthony Garotinho, candidato do PR no Rio de Janeiro. Durante a entrevista, o ex-presidente de honra apresentou vários recibos de depósitos realizados antes das eleições. “Assumo cível e criminalmente tudo o que estou dizendo”, afirmou.
Esquema
Em depoimento ao Ministério Público Federal no acordo de delação premiada no âmbito da Lava-Jato, o ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, afirmou que o PT orquestrou um esquema para a compra do tempo de rádio e TV de cinco partidos que faziam parte da coligação de apoio à candidatura de Dilma: PROS, PCdoB, PRB, PDT e PP.
De acordo com Alexandrino, cada partido receberia R$ 7 milhões, que foram pagos pela Odebrecht. Ainda de acordo com ele, o intermediário da operação foi o então tesoureiro da campanha presidencial de Dilma, Edinho Silva, hoje prefeito de Araraquara (SP).
Outro lado
O PROS negou, em nota, as acusações. De acordo com o partido, todas as doações de campanha que recebeu foram “devidamente prestadas à Justiça eleitoral”. O partido afirmou ainda que os ex-dirigentes que passaram as informações “não fazem parte do PROS, foram expulsos e desde então tentam intervir na executiva por meio de ações judiciais infrutíferas, inclusive, com uma delas extinta diante da ilegitimidade ativa deles”.
O presidente Michel Temer afirmou que não vai se pronunciar. O PT disse que não vai comentar as denúncias. A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff não se manifestou.
O PDT informou que irá agir no âmbito da Justiça e tomar as medidas necessárias para que o delator comprove o que afirmou. Edinho Silva afirmou ser “muito estranho acusar as alianças da campanha Dilma de compra de tempo de televisão já que todas as demais candidaturas também formaram alianças”. Anthony Garotinho alegou que “nunca ouviu falar desse assunto”, assim como Paulo Skaf.
Já Marconi Perillo disse que a formação da coligação eleitoral “se deu segundo critérios de afinidade propositiva, estritamente de acordo com as regras estabelecidas pela legislação eleitoral”. A defesa de Delcídio do Amaral afirmou que “o PROS compôs a chapa majoritária ao governo de MS com consequente apoio ao partido e aos seus candidatos conforme demonstrativo do TSE”.
Uma poltrona de R$ 17 mil São Paulo
O ex-secretário de Governo do Rio Wilson Carlos, apontado na Operação Lava-Jato como operador de propinas do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), afirmou que ganhou “de um amigo” uma poltrona de R$ 17,3 mil. Denúncia do Ministério Público Federal aponta que a poltrona foi comprada “com valores provenientes de crimes”. “Eu recebi um amigo de fora do Rio de Janeiro. É até uma história um tanto quanto… Eu recebi um amigo de fora do Rio de Janeiro que me disse o seguinte: ‘Wilson, vou lhe presentear, vou te dar um presente que é muito interessante, que a gente só dá para amigo’. Eu disse para ele: ‘meu amigo, não precisa se preocupar, não’. Ele falou: ‘Eu faço questão, me dá seu endereço aí que eu vou te mandar esse presente’. Quando eu tive acesso ao que era o presente, que a nota fiscal estava no meu nome e do que se tratava quando recebi esse presente em casa. Mas não fui eu que adquiri, soube, inclusive, com a denúncia que a loja era aqui em Curitiba”, relatou.
Wilson Carlos é réu ao lado do ex-governador, em ação penal sobre propina de R$ 2,7 milhões da Andrade Gutierrez a Sérgio Cabral sobre obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Segundo a força-tarefa da Lava-Jato, a poltrona foi comprada em 10 de dezembro de 2013 mediante seis depósitos em dinheiro fracionados em valores inferiores a R$ 10 mil. O Ministério Público Federal quis saber quem era o “Amigo”. “Eu vou me reservar ao direito de não expor a identidade desse amigo, mas eu lhe afirmo que foi um presente”, afirmou.
O procurador da República Athayde Ribeiro Costa questionou a frequência com que Wilson Carlos recebia presentes. “Esse foi uma questão esporádica de um amigo que não era empresário, apenas um amigo e que não morava nem no Rio de Janeiro, se não me falha a memória, ele morava aqui em Curitiba”, relatou. O procurado disse então que, segundo o Ministério Público Federal, a compra havia sido feita em uma loja no Rio. “Eu desconheço, mas eu não tenho essa convicção, não, doutor procurador”, esquivou-se o operador de Cabral. O ex-governador está preso desde 17 de novembro, acusado de liderar um grupo que desviou R$ 224 milhões em contratos com empreiteiras, dos quais R$ 30 milhões referentes a obras tocadas pela Andrade Gutierrez e a Carioca Engenharia.
Fonte: Estado de Minas