Quem tem uma fera dentro do coração?

Gilvan Freire

A política produz de tudo, no Brasil, até criminosos homicidas que são capazes de matar seus desafetos e concorrentes para lhes tirar o cargo ou desobstruir caminhos que levam ao exercício do poder. Nesse sentido, aliás, a criminalidade política não tem nada de novo, porque desde os tempos antigos os homens querem o poder a qualquer custo, ainda que possa custar a morte do pai, da esposa ou esposo, irmão, parente e até de filhos.

Também não é novidade que para preservar o poder que já têm, os homens causem não apenas mortes de seus concorrentes, mas guerras e genocídios. A cobiça é um pecado hediondo que se aloja no coração dos homens como uma fera indomável que come as entranhas do dono e sai para se alimentar depois lá fora.

Mas, por que os homens encampam essa ferocidade quando é para cobiçar o poder? Certamente é porque certos homens já trazem dentro de si a cobiça como um mal original, e ela age não só em relação ao poder político, mas em todas as formas de exteriorização do poder: o dinheiro, o prestígio, a fama e o poder de mando. Ou então é porque o poder tem a capacidade de transformar os homens, até mesmo tornando um homem bom num homem mau.

Estranho, contudo, é que nunca se vê a cobiça transformar um homem mau num homem bom. É como se a cobiça fosse um dote, um atributo específico do homem que já nasce com o coração de fera.

MAS ONDE MORAM AS FERAS E QUEM SÃO?

Atualmente, diante do vertiginoso aumento da ferocidade humana, que se manifesta de várias e novas formas, até nas coisas mais banais, há uma perturbadora inquietação na sociedade. O que é isso, qual é a causa, de quem é a culpa, para onde vamos? – são as perguntas soltas ao vento que o povo faz sem nem mesmo saber endereçar a quem.

Nos países e regiões pobres do mundo, essas questões levantadas têm sempre endereço obrigatório – os governos, instituições responsáveis pelo emprego, distribuição de renda, assistência social, moradia digna e, especialmente, pela saúde pública, segurança e educação. A regra de medição é simples: se esse sistema público não funciona, a sociedade paga as consequências.

Por causa disso tudo, entra de volta na discussão a cobiça e o poder, dois pecados mortais que se unem sem obrigação de fazer o bem a ninguém. Um alimenta o outro e ambos se nutrem em causa própria, descompromissados com o destino do mundo e dos povos.

Na Paraíba de RC, a serventia do poder parece não ser outra senão servir à cobiça, enquanto a população fica privada até de saber o que se passa no poder que a cobiça instalou mas foi o povo que deu. Os dois governam para si sós.

Mas RC quer mais. Quer colocar o governo a serviço de privilegiados e da ladroagem, ainda que tenha de gastar o dinheiro destinado à população carente para encobrir os escândalos quando forem descobertos.

É nessas horas que se sabe em que território habitam as feras, como elas agem, a quem servem e como ficam a sociedade e suas inquietações. E também se sabe, desgraçadamente, que as feras estão bem pertinho de nós.