A Confederação Brasileira de Hóquei sobre a Grama e Indoor (CBHG) está na mira da Polícia Federal. A corporação recebeu dezenas de denúncias contra a entidade, que tem a família Rocha no poder desde 2004.
O ESPN.com.br apurou quais são as investigações em cima do esporte que, apesar de não ser popular no Brasil, recebeu mais de R$ 20 milhões em recursos públicos nos últimos anos. Só no ciclo olímpico para os Jogos do Rio, ou seja, entre 2012 e 2016, foram cerca de R$ 13 milhões, entre dinheiro oriundo da Lei Agnelo-Piva e convênios abertos junto ao Ministério do Esporte.
Entre as acusações estão: nepotismo e benesses; salários desproporcionais a parentes; acúmulos de vencimentos; compra de materiais com verba pública por empresa ligada a funcionários; informações privilegiadas; indícios de fraudes em contratação de empresa fantasma; conflitos em concorrências de passagens aéreas; entre outros.
Em resposta às 13 longas perguntas enviadas sobre as denúncias e toda a documentação recebida pela ESPN, o presidente da entidade, Sydney Rocha, confirmou ter conhecimento da investigação que corre na PF e limitou-se a dizer que “a CBHG está ciente do teor do inquérito mencionado. Porém, até o momento não fomos chamados a nos manifestar. Tão logo sejamos faremos os esclarecimentos necessários”.
O material denunciado é extenso, com diversos documentos anexados aos quais a reportagem teve acesso e que, agora, estão não apenas nas mãos das autoridades, mas também publicados abaixo.
A denúncia enviada à Polícia Federal cita o envolvimento da empresa Hook3 com a CBHG, mencionando que a firma foi criada por três profissionais da confederação: Cláudio Rocha (técnico da seleção e filho do presidente), Gabriel Fernandes (ex-fisiologista, chefe de equipe da seleção feminina entre 2011 e 2013) e Christian Quintão (preparador físico da seleção).
Gabriel dava seu nome à razão social da firma, enquanto Christian identificava-se como diretor em diversos documentos e Cláudio participava da divulgação, segundo explica a denúncia em mãos da PF.
Cláudio e Christian, aliás, ainda surgiam como sócios em uma segunda empresa chamada Hook Brasil, que aparece dando seu nome em uma das propostas, mas com um CNPJ supostamente falso, de uma empresa de tecnologia chamada Proximus – mais abaixo, essa firma nega ter autorizado o uso de seu número de inscrição e prometeu ir à Justiça.
Chama a atenção o fato de que a Hook3 registrou baixa junto à Receita Federal em 21 de agosto de 2014, mas existem envios de propostas posteriores a essa data em nome da Hook3 – por meio do diretor Christian Quintão – para participação de concorrências para fornecimento de material à Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama e Indoor.
O fato, portanto, configuraria privilégios a funcionários da CBHG, além do fato de que a empresa já não existia mais quando enviou os orçamentos – ou seja, seria “fantasma”.
A denúncia cita que Rocha aparece relacionado à Hook3 fazendo a divulgação dos equipamentos entre os atletas, mostrando os materiais durante treinos e concentrações das seleções. E, quando conseguia alguma compra distinta, direcionava o comprador diretamente a Christian Quintão.
Outra citação feita na acusação é que um dos atletas da seleção masculina e do clube Carioca – onde Cláudio era técnico e Christian atuava como atleta – criou o site da Hook3 (hoje fora do ar) e ainda surgia como vendedor online da empresa.
A Hook3 fornecia tacos, bolas, equipamento de goleiro, GPS e outros equipamentos à confederação e aos atletas que desejassem.