Uma paciente diagnosticada com câncer no cérebro, passou por uma operação no hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo, em janeiro deste ano. Enquanto estava na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), usou maconha para aliviar efeitos colaterais do tratamento, como falta de apetite e vômitos.
Maria Antonia Goulart, de 68 anos, contou que usava a maconha aos 20 anos, esporadicamente. A planta só passou a ser usada com frequência após um câncer de intestino, diagnosticado em 2007.
“O que eu gosto na maconha é que ela tira o foco. Você está ali mas ao mesmo tempo não está. Fica mais fácil de lidar com a quimioterapia e as dores do câncer”, conta.
O marido de uma enfermeira era quem conseguia a droga para a paciente na época.
“Depois do câncer de intestino, parei de usar por um tempo. Mas logo voltei por causa da fibromialgia [síndrome que causa diversas dores pelo corpo], para a qual a maconha também é indicada”, revela.
A paciente conta que ao descobrir o câncer no cérebro no começo deste ano, o médico e o hospital liberaram o uso da planta durante o tratamento.
“Todos os profissionais que eu conheci por lá se empolgaram com a possibilidade. Dei até palestra para três enfermeiras que me visitaram na UTI. Expliquei o que era CBD, THC [canabidiol e tetra-hidrocanabinol, princípios ativos da maconha]”, diz.
“Para qualquer médico que chegasse, alguns guiados pelo cheiro, eu dizia que era usuária. E eles perguntavam como era o tratamento, os efeitos e como eu tinha conseguido autorização para usar maconha no hospital. Muitos disseram que iam estudar o assunto, e isso me deu um pouco de esperança”, completa. Para Maria, a doença parece ter tido um objetivo maior. “Acho que esse câncer no cérebro tem um propósito. Estava meio devagar no meu ativismo, acho que precisava mesmo de um chacoalhão”, revela.
Fonte: Folha de S. Paulo