Além de implicar ministros do governo Temer, trechos já divulgados das delações de ex-executivos da Odebrecht envolvem os ex-presidentes petistas Lula e Dilma Rousseff e os dois últimos candidatos do PSDB à Presidência: José Serra, que concorreu em 2010, e Aécio Neves, vencido em 2014.
Investigações da Polícia Federal apontam que Lula pode ter recebido até R$ 23 milhões da empreiteira. Marcelo Odebrecht teria dito que a empresa manteve uma conta em nome de Lula com o objetivo de manter o petista influente depois de sua saída da Presidência.
Além de Marcelo, outros dois delatores, Alexandrino Alencar e Paulo Melo, disseram que a empresa comprou, em 2010, um imóvel em São Paulo para construir a sede do Instituto Lula — o terreno nunca foi utilizado.
PRIMEIRO DEPOIMENTO A JUIZ
Na terça-feira, Lula prestou depoimento pela primeira vez como réu no processo que investiga a acusação de atuação para impedir a delação premiada de Nestor Cerveró. Ele afirmou que vem sofrendo “quase que um massacre”. Ele foi perguntado pelo juiz Ricardo Leite sobre uma declaração sua no passado de que acompanhava tudo que acontecia na Petrobras. O juiz chegou a perguntar a Lula se ele desejava ver o vídeo em que fazia a declaração. Lula disse não ser necessário.
O presidente não indica, recomenda ao Conselho a indicação de tal pessoa recomendada por tal partido político a partir da capacidade técnica. Era assim que funcionava no governo anterior, no governo militar e deve funcionar hoje — afirmou Lula.
Desde novembro, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci é réu em uma ação em que é acusado de coordenar a distribuição de R$ 128 milhões pagos pela Odebrecht ao PT, entre 2003 e 2015, em troca de benefícios à companhia.
Em relação à ex-presidente Dilma, Marcelo afirmou em depoimento à Justiça Eleitoral que 4/5 dos cerca de R$ 150 milhões destinados à campanha presidencial de 2014 tiveram como origem o caixa 2. O dinheiro foi usado para pagar o marqueteiro João Santana. O empreiteiro disse, ainda, que a Odebrecht emprestou R$ 3,5 milhões à revista “Carta Capital” a pedido do ex-ministro Guido Mantega, alvo da Lava-Jato.
As delações da Odebrecht também atingem os tucanos. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi citado por pelo menos três ex-executivos da Odebrecht. Marcelo Odebrecht disse, à Justiça Eleitoral, que o senador pediu R$ 15 milhões no final do primeiro turno das eleições de 2014. Ele seria o “Mineirinho” nas planilhas de propina. No mesmo processo, o ex-executivo Benedicto Junior afirmou que a empresa repassou R$ 9 milhões via caixa 2 ao PSDB em 2014, após pedido de Aécio. Do total, R$ 3 milhões foram para pagar o marqueteiro da campanha Paulo Vasconcellos.
Benedicto Junior disse ainda que Aécio articulou um conluio com empreiteiras para fraudar a licitação da Cidade Administrativa, uma obra de R$ 2,1 bilhões, quando era governador de Minas Gerais, cargo que deixou em 2010. As empresas teriam que pagar de 2,5% a 3% do valor dos contratos como propina a um colaborador das campanhas do tucano mineiro.
Executivos também se comprometeram a detalhar pagamento de propina a pessoas próximas a José Serra no período em que ele foi governador de São Paulo, entre 2007 e 2010, na construção do trecho sul do Rodoanel Mário Covas, uma obra de R$ 3,6 bilhões.
Créditos: O Globo