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EDITORIAL DO ESTADÃO: PMDB e PT disputam paternidade de Transposição

Michel Temer, que foi vice de Dilma, está sendo acusado pela oposição de aproveitar a visita para insistir no lema de marketing com que tenta melhorar a popularidade na região

Campina Grande, a segunda maior cidade da Paraíba, com 400 mil habitantes, festejou a chegada das águas do Rio São Francisco com desmedida euforia. Afinal, a cidade e mais 16 no interior paraibano consumiram quase toda a água do açude de Boqueirão, no Vale do Rio Paraíba. O volume está em 3,7%, incluindo o volume morto. Por isso, o presidente Michel Temer foi pela terceira vez ao sertão, tentando reverter a queda de seus índices de popularidade. O PT e seus aliados da esquerda acusam-no de se aproveitar da obra que não é sua.

“Todo o pessoal do governo, que nunca colocou uma pá de terra na obra, está querendo tirar uma casquinha”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE) ao jornal Valor. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cujo governo os trabalhos das obras foram iniciados, em 2007, já anunciou que também lá irá em março. Lula omite que passou oito anos no governo e não inaugurou “sua” obra. Dilma Rousseff passou mais 5 anos e 4 meses e meio no governo, mas não há notícia de que tenha dado alguma importância à transposição.

E, com sua exígua capacidade de perceber a realidade, a ex-presidente também tem dado sinais de que pretende fazer o mesmo que Temer acaba de fazer e Lula anuncia que fará. Em sua página oficial nas redes sociais, num texto intitulado A verdade sobre a transposição, ela defendeu-se: “Diferentemente do que tenta (sic) fazer crer os jornalistas da imprensa nacional, e mesmo o ilegítimo governo de Michel Temer, a obra da transposição jamais esteve paralisada durante o governo Dilma Rousseff”. Não há nenhuma prova de que nos 64 meses e 12 dias de sua gestão e meia tenha havido algum mínimo avanço das águas do rio sertão adentro.

Dilma maltratou o vernáculo, mas não aproveitou para dar notícia alguma de uma visita às obras que ela tenha feito. Falta-lhe, portanto, autoridade para acusar o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso de desprezar a obra, como o disse.

O adversário da hora, Michel Temer, que foi vice de Dilma, está sendo acusado pela oposição de aproveitar a visita para insistir no lema de marketing com que tenta melhorar a popularidade na região – o de que quer ser lembrado como o “maior presidente nordestino da História”.

Mas não se pode acusar o presidente de estar vendendo peixe roubado. No discurso que fez na chegada das águas a Sertânia e Monteiro, ele disse, com modéstia: “Não quero a paternidade desta obra. Ninguém pode tê-la. A paternidade é do povo brasileiro e do povo nordestino. Vocês é que pagaram impostos ao longo do tempo, vocês é que permitiram que pudéssemos fazer grandes investimentos nessa obra, que cada vez mais está sendo festejada”.

Brigas à parte pelo aproveitamento político do alívio experimentado pelas pessoas e pelos animais que passarão a consumir a água oportuna do Velho Chico, convém que agora não se perca de novo a oportunidade de corrigir os enormes erros que nela têm sido cometidos à custa de muito dinheiro público. Técnicos respeitáveis e imparciais têm apontado inúmeros.

Muito dinheiro foi desviado pela corrupção, o que ocorreu em todas as obras públicas contratadas nos governos federais do PT. Não há atividade capaz de pagar o custo da obra. Especialmente agricultura. Bendita é a água que mata a sede do semiárido, mas a que sairá do rio produzirá menos energia, e esta vai faltar. O canal aberto é outra escolha errada. Ninguém atentou para o volume de evaporação nos canais abertos. Calcula-se que metade da água se evaporará. Será impossível também evitar roubo significativo de um produto valioso como é a água na região.

E a pior de todas as consequências é a degeneração do rio do qual ela é transportada. Em 2009, Lula prometeu mandar fazer um estudo sobre o problema. Até hoje ele não foi feito. E, quando o São Francisco secar, que águas poderão ser transpostas para a agricultura e o consumo no sertão?

Fonte: Estadão