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Marcela, uma primeira-dama infeliz num governo machista!

A primeira-dama do Brasil Marcela Temer passa a imagem – ainda que difusa – de uma mulher infeliz. As referências que seu marido, o presidente Michel Temer, lhe tem feito em público, em nada contribuem para fazer avultar qualidades latentes que estão obscurecidas nas entranhas da jovem primeira-dama.


A primeira-dama do Brasil Marcela Temer passa a imagem – ainda que difusa – de uma mulher infeliz. As referências que seu marido, o presidente Michel Temer, lhe tem feito em público, em nada contribuem para fazer avultar qualidades latentes que estão obscurecidas nas entranhas da jovem primeira-dama. Tivesse um mínimo de autocrítica, o presidente da República poderia se poupar das “boutades” que comete quando lança o olhar em direção à companheira e mãe de “Michelzinho”. De resto, o presidente é um machista à moda antiga, bastando lembrar que na formação da sua equipe, quando sucedeu Dilma Rousseff, recrutou um exército de machos para a cadeia de comando, ou seja, os cargos ditos estratégicos e influentes, nada reservando para o sexo feminino, exceto postos secundários de menor valia e menor visibilidade.

O palavreado de Temer, recheado de ênclises e mesóclises, já denuncia o quanto ele é arcaico numa conjuntura que, apesar de tudo, evolui porque o mundo se move, afinal de contas, queiram ou não os hereges e candidatos a Torquemadas da fase remanescente. É curioso que um político como Temer não tenha procurado assimilar as transformações velozes verificadas a cada dia em todo o mundo, em qualquer parte. No prefácio do meu livro “A Fala do Poder”, o ex-senador Marcondes Gadelha fala de um ciclo que abrange o fim de ideologias, desmoronamento de impérios e emergência de novas potências de alcance global. Igualmente assinala a revolução científica e tecnológica, “encurtando o tempo e o espaço, mudando a realidade de analógica para digital e instituindo a Internet como a grande Ágora eletrônica, restabelecendo, assim, práticas de democracia direta”. E, no fecho, acentuou Gadelha: “Assistimos, por fim, à formidável ascensão da mulher, livre, enfim, de seus condicionamentos físicos e sociais”.

Tudo isso é verdadeiro e tem ocorrido com uma velocidade estonteante, incorporando a cada dia novos mecanismos na relação de poder institucional e nas aspirações de homens e mulheres por inserção num mundo que seja de todos, que reserve espaços para as pessoas, independente de ideologias, credos religiosos ou questão de gêneros. O presidente Michel Temer, infelizmente, é refém do passado, da época dos velhos do Restello, que não aceitou se submeter à mudança, ainda que não possa detê-la porque o curso da história é inexorável e, consequentemente, incontrolável. Temer não tem o condão de, por controle remoto, criar situações ajustadas à sua mentalidade arcaica, ultrapassada. Ele é a Carolina da música de Chico Buarque de Holanda – que não viu o tempo passar na janela.

Quando se tornou inevitável o impeachment de Dilma Rousseff, tal qual foi inevitável o impeachment de Fernando Collor em 1992, ninguém, na sociedade brasileira, apostava no vice Michel Temer como um santo milagreiro, ou uma espécie de pomada Maravilha, que ascendesse ao Poder com a capacidade intrínseca de curar todos os males. Não se implanta felicidade por decreto – e no caso de Temer não há, sequer, registro de decretos que produzam felicidade ou satisfação plena. O governo é uma espécie de “correio da má notícia”. O grande exemplo de incompetência diante dos desafios postos é a forma como trata a reforma da Previdência. Mexeu num vespeiro sem ter, sequer, a mínima noção do que iria propor ou poderia propor ao debate com a sociedade brasileira.

Além das lacunas que dão a impressão de não haver governo – salvo quando algum mal sobra para camadas sociais já sacrificadas – não há nada de substancial que faça deslanchar a gestão de Michel Temer, por ora condenada a passar em brancas nuvens, pelo excesso de mediocridade e pela insistência nos retrocessos, em contramão absurda com os avanços que a sociedade reivindica. Mas o tratamento do governo e do presidente para com as mulheres é algo chocante. Reflete a filosofia de subestimar a capacidade feminina, de tentar recuar no tempo e exaltar um punhado de Amélias que não exilstem mais, nem na imaginação dos compositores de antanho. O mundo é das mulheres que conseguem avançar – e das Marcelas que tentam avançar mas estão agrilhoadas dentro da própria casa, como se dá infelizmente com a primeira-dama, forçada a se pôr à sombra de um presidente que cumpre tabela no ritual da Constituição.

Pelo fim do machismo, pelo respeito à Cidadania e ao contraditório. Estes são mantras que estão na ordem do dia. Pena que não cheguem aos ouvidos de Temer, encastelado no Planalto com a turma dos “compadres” do loteamento, do é dando que se recebe, da velha e malsinada política brasileira rediviva no que tem de pior. No que tem de suruba, como expressou em letras garrafais o ministro Eliseu Padilha. Marcela não é dessa grei, mas convive com o homem que tolera e até estimula absurdos. Pobre Brasil, tristes tempos!