A Roubalheira mostra as gravatas

Gilvan Freire

Nos últimos dias, mais por conta de uma matéria publicada na influente Revista Época, editada pela Editora Globo, mas também por causa do Polêmica Paraíba, programa de rádio comandado por Gutemberg Cardoso e Nilvan Ferreira na 101.7 FM, que converteu-se em espaço livre da mídia estadual, não se fala noutra coisa no Estado senão nos ‘escândalos dos livros’, uma tramóia envolvendo figuras próximas dos governos de RC e Luciano, com destino de verbas podres aos próprios governantes em seus projetos políticos.

Por sorte da sociedade, que é dona e usuária exclusiva do dinheiro público, já é possível saber quando, como e o que aconteceu com relação aos golpes aplicados contra o Erário, e quem são os mentores e indevidos usufrutuários dessa operação escabrosa que lesa escolas e alunos e cria uma nova modalidade de ensino: a educação para o crime, que usa como pano de fundo os livros escolares.

Se é verdade que as primeiras denúncias surgidas atingem perversamente o sistema educacional público, que seleciona os materiais de ensino pelo critério político, e não pelo critério técnico-pedagógico, é também verdade que a comunidade escolar está sendo usada para encobrir uma rede de criminalidade mista, onde entram como sócios os delinquentes do setor privado e os gestores públicos e seus auxiliares mais próximos. Professores e alunos são obrigados a consumir um produto de má qualidade, produzido nos laboratórios das organizações criminosas, sem que possam avaliar seu conteúdo didático e sem que tenham conhecimento das razões pelos quais o produto foi escolhido. Já seria um crime abominável por essas razões, se não fosse pela afronta que causa a toda a população, vítima também da roubalheira generalizada que pilha de mil formas os cofres de prefeituras e governos estaduais no Brasil de hoje.

OS SINOS JÁ TOCAM PELOS MORTOS MORAIS

Se as investigações se aprofundarem e as autoridades se comoverem com o achaque que sofre o Tesouro, é possível desbaratar por completo o aparelho criminoso, que não está noutro lugar senão perto das próprias autoridades encarregadas de identificar os crimes e punir seus autores.

Mas, se houver leniência ou omissão deliberada, teremos não só a impunidade dos crimes mas o aumento da criminalidade pelos estímulos dados por aqueles que deveriam combatê-los.

Essa questão dos livros escolares, que pode ter sido até uma compra de materiais sem a correspondente entrega, a chamada ‘nota fria’, ou entrega parcial, é um fato estarrecedor que fere o sentimento de pudor das pessoas honestas e as constrange diante da confiança que tinham nos líderes políticos dirigentes.

Se isso ainda não é o fim do mundo, porque as eleições democráticas estão selecionando pessoas suspeitas ou desonestas para ocupar os lugares reservados aos decentes, também não pode ser considerado o começo. O mundo que tivesse de começar assim não teria futuro – por enquanto, nós só não estamos tendo mesmo um bom presente.

Este final de semana, por conta da Assembleia, rádios livres e a internet, nós não teremos razões para tristeza, e sim para amarguras, porque a podridão existe mas não está mais coberta pelos tapetes do poder.

Mas o que deprime mesmo é ver que o lixo moral está muito perto de nós e não queríamos acreditar que ele fedesse tanto enganando o nosso nariz.

Por outro lado, é sempre bom saber que nada fica encoberto a vida toda e que assim como os vivos morrem, os vivos demais morrem moralmente antes que vivam acima do que esperam.