HIPOCRISIA

Transexual demitida do “Amor & Sexo” diz que há “muita hipocrisia”

Transexual demitida do “Amor & Sexo” diz que há “muita hipocrisia”

A transexual Barbara Aires afirmou que o “Amor & Sexo” tem “muita hipocrisia”. Consultora da atração, ela foi demitida e resolveu desabafar, em post no Facebook, nesta sexta-feira (3/3). A última edição do programa arrancou elogios, justamente, por discutir o preconceito contra LGBTs.

Em sua página oficial do Facebook, Bárbara afirmou que foi demitida do cargo de consultora do programa quando a apresentadora Fernanda Lima se tornou também redatora final da atração.

“Muito fácil se dizer sem preconceito, fazer discursos lindos, falar de empregabilidade, e usar uma trans apenas como estilista. Mas, quando pode manter uma trans na produção, aí (é melhor) não”, critica Barbara. Depois da demissão, ela disse que conseguiu se recolocar no mercado. Atualmente, trabalha como assessora parlamentar.

Barbara escolheu expor a situação nesta sexta (3), quase três anos após sua demissão, por conta da exibição de um programa sobre o preconceito contra LGBTs. “Muita falsidade e hipocrisia, não aguento”, comentou.

Leia aqui a íntegra da postagem:

Sobre Amor & Sexo, Fernanda Lima e Meu trabalho por DOIS ANOS na produção

Em primeiro lugar, deixar nítido que não tenho nada contra os jurados, convidados, ou quaisquer participantes que participaram do programa. Principalmente LGBTs. Temos que ocupar tudo mesmo.

Em segundo lugar, agradecer imensamente ao antigo Redator Final e as meninas da produção, sei que por eles meu destino teria sido outro. Amo vocês e serei eternamente grata a oportunidade que me deram, não fosse ela, não estaria onde estou hoje.

Agora, vamos ao fato. Muitas pessoas não sabem, mas fui produtora do Amor & Sexo por 2 anos. De janeiro de 2012 a dezembro de 2013.
Devido a minha militância, em junho de 2011 fui ao programa falar na plateia sobre travestilidade e transexualidade. Dada a minha participação, fiquei em contato com a produção e quando uma das produtoras ascendeu a roteirista, me contactaram sondando sobre minha real vontade de empregabilidade no mercado formal. Depois de algumas conversas e entrevistas, fui contratada Consultora do programa. Não podia ser contratada como produtora por não ser jornalista formada. Vi ali uma oportunidade de aprendizado e de mostrar o potencial como profissional. Ganhei atribuições de produção e participei ativamente da produção. Reunião de pautas, de criação, pesquisa de personagem, gravação… Dois anos…

Quando fui contratada, a redação final era de outro funcionário, meu chefe direto. Uma pessoa maravilhosa, sem igual. Até meu crachá com nome social ele agilizou, algo inédito nas organizações Globo. O que inclusive me deu uma certa projeção e notoriedade na época. As meninas da produção, maravilhosas. Me ensinaram todo o ofício, e sempre me elogiando nas minhas atribuições.
Não vou citar nomes, essas pessoas sabem quem são e não preciso expor nessa situação.
Nessa época a Fernanda Lima era apenas apresentadora. Chegava, lia o texto e apresentava. Nunca me tratou mal, sempre educada. Mas sem intimidades, normal, distante. Com o passar do tempo, ela começou a opinar no texto, mudar uma coisa aqui e ali, até que de repente o texto estava todo modificado. Ela acabou se tornando Redatora Final juntamente com seu empresário/assessor. Essa informação está disponível no site do programa, só olhar lá.

Entre outras situações, que não vou expor para não ficar maior ainda o texto, quando meu contrato chegou ao fim, pela primeira vez em 2 anos, dois anos de serviços prestados, ele não foi renovado. Me vi desempregada em 1 de janeiro de 2014. E era justamente minha maior expectativa de empregabilidade fixa, pois dias antes eu havia tido uma conversa com o RH, mostrado meu serviço, e estava tudo acertado para na renovação eu deixar de ser, no contrato, consultora e me tornar pesquisadora. Por quê? Simplesmente porque consultora não é um cargo da grade da Globo. É um cargo que o programa tem que pedir, anunciar que irá precisar, e o próprio programa indica. E esse papel é do redator final. Já pesquisadora é um cargo fixo na globo, que trabalha de acordo com a demanda dos programas. E pelo trabalho que apresentei, julgaram que eu me encaixava como pesquisadora.

Mas olha que “coincidência”; Depois de 2 anos, dois anos de trabalhos prestados, elogiados e sempre renovados, foi só mudar a chefia, Fernanda e seu empresário assumirem, que eu não fui chamada, renovada… E fiquei 3 anos, três anos desempregada…

Graças a mim, a Deus, aos orixás, a vida, ao que acreditem, eu consegui a consultoria do Liberdade de Gênero, do Fantástico, entre outros freelas, e agora recentemente o trabalho de Assessora Parlamentar. E vieram de pessoas que eu não conhecia.

Mas por por que você está explanando isso só agora?
Primeiro, que a exibição do programa foi propícia. Muita falsidade e hipocrisia, não aguento. Muito fácil se dizer sem preconceito, fazer discursos lindos, falar de empregabilidade, e usar uma trans apenas como estilista. Mas quando pode manter uma trans na produção, não, imagina. Ou pra ter ibope, como foi hoje.
E segundo, que antes, eu não estava empregada. Não pegava bem eu falar sobre isso, poderia me queimar. Mas hoje conhecem meu potencial, meu trabalho. E eu era sozinha né. Se eles quisessem me cobrar eu estaria sozinha para me defender. Hoje eu sei que se eles quiserem fazer algo, tenho como e com quem me defender e onde me apoiar.

Enfim, bem resumidamente, é isso. Não falei tudo que queria pra não me alongar mais e não expor pessoas que não precisam ser expostas, mas, pra quem queria saber, está aí o motivo da minha não continuidade no Amor & Sexo. Pra quem não sabia, ficou sabendo.

Fonte: Metropoles