Puxões, beijos forçados, mãos bobas, insistidas. Nada disso é estranho às 1,25 milhão de foliãs que marcam presença nos circuitos do Carnaval de Salvador. Andando pelas ruas vizinhas à Avenida Oceânica, por onde passam os trios do Circuito Dodô (Barra-Ondina), não é difícil encontrar histórias desagradáveis de violência contra a mulher ocorridas durante os dias da festa.
Segundo dados do Observatório da Secretaria Municipal de Reparação, foram registradas 2.025 agressões contra mulheres durante o Carnaval de 2016. Seguidora fiel dos trios da folia soteropolitana, Lene Souza, de 40 anos, não figura na estatística, mas já viu amigas sendo desrespeitadas na avenida. “Comigo é mais light, pois estou sempre com meu marido ao meu lado, mas já vi até homem metendo a mão por debaixo de vestido de mulher”, afirma a psicóloga.
Para ela e para tantas outras, não existe algo como um lugar seguro: em todos os pontos do circuito, dentro e fora da corda, na rua e nos camarotes, há assédio e agressão. Foi atrás do trio Burburinho, neste sábado (25/2), na Barra, em que a estudante de administração Rafaela Mascarenhas sofreu uma investida violenta de um rapaz que não aceitava ouvir um “não”. “Ele passou uns 30 minutos me importunando, dizendo que ‘não quero’ não é um motivo concreto. Foi muito chato”, explica ela, que, aos 18 anos, nunca tinha ido antes curtir o Carnaval.
Ainda mais jovem que a universitária, a estudante Ainara Monteiro, de 14 anos, já teve que lidar com atitudes desrespeitosa por parte de homens desconhecidos, neste Carnaval. “Estava andando de mãos dadas com minha irmã, quando um carro parou, perguntou se éramos lésbicas e nos xingou”, expõe ela, que ilustra esta reportagem com seu cabelo roxo e volumoso. Ainara foi a única entrevistada que topo ter sua imagem fotografada.
Faz sentido que as moças sejam tão reservadas: a violência contra a mulher no Brasil é expressa em números assustadores. De acordo com dados da ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2015, uma mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos no país. Expor-se dificilmente parece ser uma escolha segura.
Pensando no machismo que perturba as foliãs na Festa de Momo, a Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo do Estado da Bahia idealizou o trio Respeita as Mina, liderado pelas artistas Larissa Luz, MC Carol e Tássia Reis. A iniciativa visa chamar atenção para as práticas de assédio tão comuns no período e as diversas expressões da violência de gênero, banalizadas durante a festa. O trio sai nessa segunda-feira (27/2), no penúltimo dia de Carnaval, no Circuito Dodô (Campo Grande).
Créditos: Aratu Online