No senado

Lira e Deca: Destinos cruzados - Por Nonato Guedes

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Os mais experientes costumam dizer: política é destino. Na verdade, política é um somatório – o que não exclui o destino. Manuel Gaudêncio, que por muitos anos labutou na política paraibana, estando devotado a atividades empresariais, brincava com a sorte de alguns líderes da província quanto a exercerem cargos de projeção na hierarquia do poder. Dizia que era preciso consultar o horóscopo para checar se algumas pretensões ajustavam-se à vontade dos líderes. Manuel acertou quando deu o palpite de que Humberto Lucena dificilmente seria governador. Humberto morreu sem ter sido governador – em compensação, foi deputado federal e senador, presidindo por duas vezes o Congresso Nacional. Já Wilson Braga, que foi governador uma única vez, na década de 80, não se dava bem com o Senado. Foi derrotado inapelavelmente quando tentou chegar lá como prolongamento da sua biografia.

Poucos sabem, mas o atual deputado federal Wellington Roberto, do PR, assumiu o Senado para completar o último mandato de Humberto, que havia falecido. Era de supor que Wellington, na sequência, disputasse e ganhasse o Senado, mas assim não ocorreu. Seu habitat parece ser a Câmara Federal, onde pontifica ainda hoje. Essas divagações chegam a propósito dos destinos cruzados do senador Raimundo Lira (PMDB) e do suplente de senador José Gonzaga Sobrinho, o Deca do Atacadão. Lira era suplente e foi alçado à titularidade com a renúncia de Vital do Rêgo, nomeado para vaga no Tribunal de Contas da União. Hoje, Lira diz que seu projeto para 2018 é disputar a reeleição ao Senado – e tem chances. Deca fez seu primeiro estágio até recentemente, quando se tornou efetivo em virtude de licença requerida pelo titular Cássio Cunha Lima. Foi um aprendizado valioso, depõe Deca. Ele, de fato, cumpriu um mandato proativo e se assenhoreou dos caminhos por onde escoam as decisões em Brasília, o foco do poder por excelência. Deca sente-se habilitado a concorrer ao Senado em 2018, mas é realista e admite que pode disputar uma deputação federal ou figurar numa chapa como vice-governador. Um fato concreto é que foi fisgado pela mosca azul da política, que só enxerga quem tem negócio ou interesse nessa área.

Em relação a Lira, há uma particularidade que merece registro: ele já fora senador de fato e de direito na década de 80. Elegeu-se em 86 junto com Humberto, apoiando a chapa de Tarcísio Burity ao governo, que foi vitoriosa. Cumpriu integralmente o mandato, fez ensaios para tentar voltar mas o espaço estava tomado pela concorrência e, enfim, recolheu-se a atividades empresariais no ramo automobilístico, com base em Campina Grande. Até que a renúncia de Vital o retira do cochilo político e o devolve à ribalta. Lira voltou em alto estilo. Se no mandato anterior presdiu a poderosa Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, por onde passavam autorizações de concessão de empréstimos a governos de Estados influentes como São Paulo, agora voltou por cima, presidindo a Comissão Processante do Impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Uma causa controversa, claro, mas a posição a que Lira foi alçado assegurou-lhe visibilidade constante e natural nos holofotes da mídia.

Lira se impôs, também, à evidência nacional, pela postura que adotou na qualidade de presidente da Comissão Processante do Impeachment de Dilma, uma postura democrática, transparente. A ex-presidente dispôs de todo o tempo do mundo para apresentar sua defesa perante parlamentares que, depois, iriam julgá-la por atos cometidos à frente do Palácio do Planalto. Lira foi magistrado mesmo sendo filiado ao PMDB, teoricamente o partido mais beneficiado com o impeachment já que o vice era Michel Temer e ascenderia, como ascendeu, ao lugar de Dilma Rousseff. No âmbito partidário, não há restrições ao filiado Raimundo Lira. Em outros partidos, como o PT de Dilma, não pipocaram resistências à atuação do peemedebista paraibano. Lira guarda o reconhecimento como uma prebenda, no que faz muito bem.

Não sendo inimigos, mas adversários, Raimundo Lira e Deca do Atacadão são encarados dentro de uma perspectiva futurista. Mais precisamente: uma perspectiva focada em 2018. Será o ano do tira-teima para eles em termos de futuro político. Estarão no “front”, assumindo os desafios de candidaturas que serão bombardeadas por concorrentes até bem aquinhoados do ponto de vista econômico-financeiro. Terão o que exibir aos eleitores, ou seja, serviços prestados na etapa em que assumiram mandatos parlamentares. Mas, decididamente, constituem uma incógnita para 2018. Largam com chances. O que atrapalha é a ausência de bola de cristal para identificar se as chances serão materializadas em realidade. A conferir, portanto!

Nonato Guedes
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