Eleito no primeiro turno das eleições com 3,1 milhões de votos (53% dos válidos), o empresário e jornalista João Agripino da Costa Doria Junior, 59, assume a Prefeitura de São Paulo neste domingo (1º) com uma bagagem pesada de compromissos assumidos em sua primeira disputa eleitoral.
Foram 118 promessas feitas em debates, sabatinas, programas eleitorais e entrevistas, segundo levantamento feito pela Folha. Para honrá-las integralmente nos próximos quatro anos, o prefeito terá que cumprir, em média, uma a cada 12 dias de mandato.
Doria, 62º prefeito da maior cidade do país, terá o duplo desafio de colocar em prática o gestor propagandeado nas eleições e transformar a capital em vitrine para seu principal cabo eleitoral, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), pré-candidato à disputa presidencial de 2018.
Alckmin é um dos convidados para a cerimônia de transmissão de cargo, às 17h, no Theatro Municipal, no centro de SP, onde Doria receberá o bastão do atual prefeito, Fernando Haddad (PT).
Na prática, restam apenas 117 promessas, já que uma das mais polêmicas tem até data para começar. Alvo de críticas de especialistas, o aumento das velocidades máximas das marginais Tietê e Pinheiros (para 90 km/h, 70 km/h e 60 km/h nas pistas expressa, central e local) passa a valer na manhã de 25 de janeiro, data de aniversário de 463 anos da cidade.
Os limites dessas vias foram rebaixados por Haddad em julho de 2015, com o objetivo de reduzir acidentes e melhorar a fluidez. Na campanha, a medida foi criticada por Doria: “Ela penaliza os motoristas”, afirmou ele.
O fato é que os acidentes com mortes caíram pela metade desde as reduções das velocidades, e a Marginal Tietê completou 19 meses sem nenhum atropelamento. São pontos de pressão a Doria.
METAS OUSADAS
Uma das mais ousadas promessas de campanha é a de zerar a fila por vagas em creches em apenas um ano. O deficit hoje atinge 133 mil crianças de zero a três anos. Para matricular todas elas até dezembro de 2017, Doria terá de entregar, em média, 2,6 creches por dia.
Ele também promete acabar até o final do ano com a fila de exames (são 417 mil pessoas à espera), por meio de convênios com hospitais e clínicas particulares, e renovar a frota de ônibus da cidade.
O cardápio tem ainda promessas vagas e sem metas definidas. É o caso do compromisso de ampliar o número de moradias sociais. Embora tenha dito que investiria no Casa Paulista, programa estadual de habitação, Doria não cravou objetivos claros.
Foi assim também com escolas em tempo integral, uma promessa ainda nebulosa. “Ensino em tempo integral em todas as escolas públicas onde for possível. Onde não for, vamos ampliar e construir mais escolas”, prometeu, em debate na TV Gazeta.
Também não se sabe quantos CEUs ou abrigos para moradores de rua o prefeito construirá –os dois temas são promessas de campanha.
Doria diz ainda que vai “impedir a pichação na cidade” com punições que, na prática, dependem da polícia e da Justiça, e não da prefeitura. “Quem for pego pichando será preso e vai responder criminalmente”, declarou.
Pichação pode ser enquadrada como dano ao patrimônio ou crime ambiental, infrações leves, que não são punidas com prisão.
Além de todos esses compromissos de campanha, em abril Doria terá de anunciar oficialmente o Plano de Metas, com objetivos claros e quantitativos para todos os setores. Isso poderá ou não agregar promessas de campanha.
No caso de Haddad, por exemplo, esse plano oficial tinha 123 metas, sendo que 67 (54,5% do total) foram integralmente concluídas.
Embora prometa austeridade e redução de gastos, Doria terá um gasto extra em 2017 criado por ele mesmo um dia após a eleição, quando anunciou o congelamento da tarifa de ônibus em R$ 3,80 ao longo de 2017.
O valor repassado pela prefeitura às viações de ônibus para cobrir a diferença entre o que os passageiros pagam e os custos reais dos serviços deve passar dos R$ 3 bilhões neste ano, ante ao menos R$ 2,5 bi de 2016.
CÂMARA
Para avançar com as dezenas de metas e de novos projetos, Doria terá apoio folgado na Câmara Municipal. Dos 55 vereadores, ao menos 38 deles devem integrar a base de apoio da gestão tucana. A oposição, ao menos neste início de mandato, será quase simbólica, com 11 nomes, sendo 9 do PT e 2 do PSOL.
Entre os principais projetos que dependem de aval dos vereadores, estão as privatizações de equipamentos municipais, como o Pacaembu e o autódromo de Interlagos, e alterações no Plano Diretor –texto aprovado em 2014 e que orienta o modelo urbanístico na cidade nos próximos anos.
Além disso, o futuro prefeito pretende fazer uma série de parcerias público-privadas, entre elas concessões para administração de parques e cemitérios da cidade.
Para os parques, já está em andamento o estudo de um projeto de parceria que permita a empresas a instalação de restaurantes e cobrança de estacionamentos. Quinze parques considerados com perfil adequado para exploração comercial já foram escolhidos.
Fonte: Folha de S. Paulo