Pietro, o fazendeiro

Rubens Nóbrega

Até ontem pela manhã todo mundo sabia que saíram dos cofres da Prefeitura da Capital os R$ 2,6 milhões pagos em cheques ao consultor editorial (de livros didáticos) Pietro Félix. Os cheques, ele confessou, foram sacados no Banco do Brasil de Taperoá.
Só faltava saber o destino dessa fortuna na versão de quem a recebeu. Agora, graças ao próprio Pietro, não falta mais. Conforme declarou ao portal MaisPB, o dinheiro foi usado para comprar uma fazenda em Taperoá e saldar “outros compromissos financeiros por lá”.

Sendo assim, desconfio que o Doutor Pietro tenha adquirido alguma fazenda dos admiráveis Manelito Vilar e Ariano Suassuna, primos famosos que em sociedade ou em separado fizeram do bode do Cariri Paraibano um bicho bom de carne, leite, renda e histórias.

Digo isso porque com R$ 2 milhões (tirando os R$ 600 mil que Pietro pode ter utilizado para saldar ‘outros compromissos por lá’) seria possível comprar cabalísticos 6.666 hectares em Taperoá, onde um hectare valeria, na média, R$ 300.

Evidente que o tamanho da propriedade diminui e o seu preço sobe se ela tem benfeitorias, açude, rio, plantações pra colheita etc. Ou se o seu valor é imaterial e imenso por ser ou ter sido patrimônio do genial Ariano ou do lendário Manelito.

Esses e outros detalhes a gente poderia estar sabendo hoje, também, se o Pietro tivesse revelado a quem comprou, por quanto comprou e o tamanho da fazenda que diz ter comprado com o dinheiro da venda de livros à Prefeitura da Capital.

Mas, infelizmente, nem ele disse nem o entrevistador do MaisPB perguntou, deixando aos demais interessados, jornalistas ou não, mais um mistério a ser investigado nessa intrincada história já batizada pela oposição de o Escândalo do Livro.

Escândalo que começou quando a revista Época publicou semana passada uma denúncia muito grave do empresário Daniel Gonçalves, dono da New Life, distribuidora de livros para a qual Pietro, agora fazendeiro, trabalhava como vendedor.

Segundo o denunciante, os R$ 2,6 milhões foram pagos pela Prefeitura, recebidos irregularmente por Pietro e boa parte da grana depositada na conta de campanha do candidato do PSB ao governo do Estado em 2010, o atual governador Ricardo Coutinho.

No que chama de golpe contra ele e sua empresa, Daniel estende suas acusações ao irmão de Ricardus I, Coriolano Coutinho, e ao professor Alexandre Urquiza, na época candidato a deputado estadual e agora secretário de Transparência da PMJP.

Cori e Urquiza teriam ajudado Pietro a receber um dinheiro que o edital da licitação da compra dos livros mandaria depositar na conta corrente da empresa vencedora do certame, e não pagar em cheque a um pretenso representante do fornecedor.

O pretenso aí faz sentido porque Pietro tratou de exibir – como prova de que tinha poderes para receber os cheques – uma declaração assinada por Daniel, documento de redação confusa que o outorgado garante ser uma procuração.

Pelo texto da ‘procuração’, o empresário nomeia Pietro procurador com ‘totais poderes’ para representar a New Life. Mas aí começam as complicações pro lado do suposto procurador e complicações outras ele pode ter criado para outros, nesse enredo.

O primeiro enredado seria quem, na agência em Taperoá ou por ordem de algum dirigente do Banco na Capital, autorizou o pagamento de cheques com valores tão elevados, da forma como se efetivou a transação.

Afinal, pra qualquer quantia acima de R$ 8 mil o Banco do Brasil não apenas checa direitinho com o emitente se realmente passou o(s) cheque(s) como apura com mais rigor ainda a autenticidade do documento que credencia alguém a sacar a dinheirama.

No caso da ‘procuração’ apresentada por Pietro, é complicado. Muito complicado. Ainda que fosse levada em conta como tal, ela tem todas as características de uma procuração particular, que não teria a menor validade perante um banco como o BB.

Além do mais, mesmo que fosse uma procuração pública, como se exige e é usualmente adotado por pessoas jurídicas, principalmente empresas, a procuração teria que ser específica. Bem específica, e não genérica.

Tamanho cuidado é perfeitamente compreensível. É pra que os tais ‘totais poderes’ não virem, no final das contas, ou da conta, ‘podres poderes’.

E não saiam por aí espalhando uma podridão de fedor insuportável, como o que parece exalar desse negócio.

‘A pérola do governador’

Sob esse título, desde a semana passada venho recebendo de diversos professores a seguinte mensagem (enviada por i-meio), no mais clássico ‘estilo corrente’:

– O Senhor Governador da Paraíba cometeu recentemente a seguinte pérola: “Quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai pro ensino privado”. Pois bem, se você acha que Ricardo Coutinho deve doar o seu salário e governar por gosto, passe adiante.

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É o que estou fazendo, amados mestres.