Três décadas atras o jornalista Nonato Guedes, recém chegado a João Pessoa fugido da seca sertaneja, desabrochou na imprensa como o maior comentarista político do Estado.
Era o tempo em que o jornalismo impresso ditava ordens e a nenhum político era dado o direito de não ler Nonato na hora do café matinal.
As análises precisas e isentas do jornalista viravam norte para os atos cotidianos de vereadores, deputados, prefeitos e governadores.
Não ler Nonato era passar recibo de desinformação.
Depois Nonato se aquietou. Escrevia somente para seu consumo, afastado que compulsoriamente foi pelo medo e a ganância dos donos dos jornais, todos extravagantemente acumpliciados com as burras dos palácios e seus tentáculos maravilhosos no campo das fartas cifras.
Nonato era sério demais para ser mantido registrando o dia-a-dia da política com isenção e equilíbrio.
Seu espaço ficara para os Helder Mouras; os Dércios Alcântaras; os Rociberg Leandros; as Sony Lacerdas… Para confrades e confreiras que até escrevem direitinho, mas sempre com pauta ditada pelo patrão do dia.
Penas alugadas!
Graças a Deus de uns dois meses para cá Nonato, acho que convencido pelo talentoso irmão Lenilson, voltou a botar o dedo no teclado e nos ofertar jornalismo de qualidade no blog OS GUEDES, que fixei na minha lista de favoritos para diariamente ter acesso e me “nortear”.
Hoje, analisando o encontro Ricardo x Temer em Brasília, Nonato brinda a Paraíba com um texto primorosamente real que na verdade chega a ser uma necessária puxada de orelhas na capengante bancada federal paraibana que a cada dia mais se amiúda em meio à borra cheia de sebos da putrefata prática política infelizmente reinante nas cercanias de Tambaú e alhures.
Reproduzo o artigo, na certeza de estar prestando imenso serviço ao meu leitor:
O GESTO DA GRANDEZA É O QUE CONTA
O governador Ricardo Coutinho (PSB) e o senador Raimundo Lira (PMDB) protagonizaram, ontem, um dos mais épicos momentos da história política recente do país e, sobretudo, da Paraíba. Foram recebidos pelo presidente da República, Michel Temer, para desenrolar uma agenda de reivindicações de interesse do Estado que vinha se arrastando por força do impasse político decorrente do impeachment de Dilma Rousseff e por causa do pouco interesse de integrantes da bancada federal paraibana em facilitar um contato do gestor socialista com o chefe da Nação. Quando os fatos se tornaram praticamente consumados, agitaram-se membros da mesma bancada para comparecerem à cerimônia da fotografia. Era o que Ricardo menos desejava.
O episódio de ontem – não dá para ignorar – põe em xeque os métodos que alguns remanescentes da bancada federal paraibana insistem em pôr em prática e que se resumem a uma picuinha desprovida de grandeza ou de ineditismo: atrapalhar ao máximo a vida do governador Ricardo Coutinho para que, assim, outros se projetem. Essa técnica é habitualmente conhecida como “aposta no quanto pior, melhor”.
Por inúmeras vezes a referida teoria ficou desmoralizada quando se constatou que, quanto pior, pior mesmo. Mas é difícil para certos políticos de expressão largarem o uso do cachimbo que faz a boca torta. Ricardo vinha sendo punido pela própria bancada paraibana – salvo a exceção Lira – porque ousara ficar ao lado de Dilma Rousseff no processo de impeachment que ela enfrentou. Já não bastava o isolamento purgado por ele dentro do próprio PSB. Infelizmente para eles, os políticos paraibanos que agiram com mesquinhez tentando atingir Ricardo foram engolfados por uma estratégia da dupla dinâmica Raimundo Lira-Ricardo Coutinho. E o resultado é o que está na imprensa.
A população paraibana, por inúmeras vezes, foi obrigada a acompanhar o espetáculo da miudeza política. José Maranhão conspirou contra Cássio Cunha Lima quando este foi governador, Cássio Cunha Lima conspirou contra José Maranhão quando o governo estava com ele – e, assim, desenrolavam-se as coisas. Um enredo que já deveria estar ultrapassado até porque não comove plateia nenhuma. Quando está em jogo o interesse público, o que se exige é a postura da superioridade política, do gesto elevado.
Tivemos dissensões políticas antológicas na Paraíba, mas homens como João Agripino, José Américo, Argemiro de Figueiredo, souberam aderir à trégua em nome dos interesses do Estado. A porfia ficava arquivada para os embates em palanques, nos comícios a céu aberto. Na década de 90, eleito governador, Antônio Mariz cuidou de sepultar uma inimizade com os Gadelha, que remontava a décadas na história política de Sousa e convidou Marcondes para uma secretaria de Agricultura.
Na vida, e em especial na política, o que marca, o que conta mesmo é o gesto de grandeza. Ele foi protagonizado, ontem, por três figuras qualificadas: o presidente Michel Temer, o governador da Paraíba Ricardo Coutinho e o senador Raimundo Lira. De última hora, outros expoentes da bancada federal, que não acreditavam que Temer fosse receber Coutinho, batalharam para fazer parte da comitiva. Era o tropismo rumo ao poder funcionando a todo o vapor, o incenso palaciano deitando saudades nos convivas dos palácios.
Chegaram tarde porque não havia mais vaga. E talvez porque o presidente Temer suspeitasse que não havia interesse maior por parte desses expoentes políticos, a não ser por uma boa imagem fotográfica que emoldurasse a perspectiva de fim de ano. Alvíssaras e evoés que tenha prevalecido o tal espírito republicano na audiência de ontem. Fica como exemplo de que divergência não é sangria desatada nem pretexto para prejudicar o povo. Dá para decorar a lição, senhores políticos?
Fonte: A Palavra
Créditos: Marcos Marinho