Lá vinha ela… Garbosa. A exuberância deu ma deusa grega irmanada à altivez da dama vitoriana. A candura da cabocla entrelaçada ao charme de ninfa urbana. As negras madeixas, em ondas rebeldes, balançando ao inverso do corpo, em polvorosa harmonia. Sofisticada. Silvestre. Solene Serelepe. Mulher em flor, exalando solidário aroma em meio aos odores das rotinas. Muitas em uma: filha, irmã, neta, sobrinha, prima, tia, cunhada, mulher, amiga, vizinha, colega, gente… Maternal. Única entre tantas. Cidadã retilínea, profissional ascendente. Áspera, quando preciso. Doce quando necessário. Verdadeira. Estampava no brilho dos olhos as névoas do mundo em que pousara. Absorvia os seres. Eram seus os turbilhões alheios. Contornava. Abdicava. Incorporava. Impunha. Dividia. Chorava. Sorria,

Irradiava sol onde houvera sombra. Vivia. Vive, aliás. Aninha vive! Tatuada em nossas almas, esse anjo fugaz estará por aqui até o último suspiro dos que tiveram o privilégio em tê-la ao lado, adornando memórias vãs. Manto místico onde fora emoção. O brusco voo da ave só fará algum sentido se o retorno estiver assegurado, através das pistas de pouso cravadas nos corações dos que aguardam a própria hora de bater asas. Nesses em em outros instantes, ela estará presente. Esvoaçante. Passarinho transformado em ninho, pela nobreza de quem plainou mas deixou o rastro da rota. Eternizada na saudade, soerguida da dor. Plena, como a nuvem que se vê no alto sem poder pegar – mas envia a chuva que lava o sal da face, seguindo o curso do rio, até adocicar o mar. Vai, amiga! Seguem em paz e voa leve, que o Pai te chama ao peito antes de nos chamar.

Fernando Moura