TROCA

Ricardo Coutinho pode deixar o PSB

ricardo coutinho

A hipótese de que o governador Ricardo Coutinho se desfilie dos quadros do PSB ganha força em sincronia com articulações nacionais que aproximam a legenda socialista do PSDB, o ninho tucano, liderado na Paraíba pelo senador Cássio Cunha Lima. Ambos foram aliados mas por razões estratégicas quando combateram a hegemonia intentada pelo ex-governador José Maranhão. Em 2014, houve a ruptura: Cássio e Ricardo enfrentaram-se na prova dos noves para saber quem primeiro acumulava uma derrota de peso no currículo. Coutinho ganhou a aposta. Cássio foi derrotado e, como é da natureza dos derrotados políticos, atribuiu o insucesso à desigualdade de condições para competir, pelo fato de que Ricardo pilotava a máquina administrativa.

Na verdade, ainda quando o ex-governador de Pernambuco e presidenciável Eduardo Campos estava no auge da projeção no cenário político nacional à frente do comando do PSB, o governador da Paraíba vislumbrava outras alternativas, prevendo rumos distintos que seriam tomados na conjuntura. Originalmente, Ricardo ingressou no PSB para fugir da tutela do PT paraibano, que sempre lhe negou espaços para disputar a prefeitura da Capital. Foi como socialista que Ricardo conquistou a prefeitura pela primeira vez em 2004, repetindo o feito em 2008. Nesta última eleição, deu-se ao luxo de formar chapa puro-sangue, indicando Luciano Agra para seu vice e desprezando uma constelação de nomes de aspirantes apresentados por partidos como o PMDB de José Maranhão. RC bancou a aposta porque tinha convicção de que sairia com um trunfo, e assim se deu.

Na campanha pela reeleição ao governo em 2014, ele deixou para indicar o vice na última hora, o que fez supor nos meios políticos que estava encontrando dificuldades para ser absorvido por outras legendas. A premiada com a escolha foi a doutora Lígia Feliciano, mulher do deputado federal Damião Feliciano, do PDT. A chapa foi aprovada nas urnas. Ricardo monitora, a dados de hoje, os passos dos adversários com vistas a 2018. Será a vez de ele voltar a procurar outro mandato, encerrada a segunda passagem pela administração estadual. A tendência natural, em tais situações, é a de disputar uma vaga no Senado – e parece que Ricardo se encaminha nessa direção. Mas ele é imprevisível e desconcertante. Não será surpresa se ao invés de disputar o Senado concorrer a um mandato de deputado federal. O que mais o preocupa é a eleição à sua sucessão.

Pelo estilo personalista que é a sua marca registrada, Ricardo nunca se aplicou à preparação de quadros políticos que pudessem segurar o bastão em seu lugar. Lança nomes por intuição e faz composições por estratégia, interesse ou oportunidade. Em 2012, ele refugou a candidatura legítima de Agra à reeleição como prefeito da Capital e emplacou Estelizabel Bezerra, neófita no ramo, como postulante. Ela teve desempenho surpreendente mas não logrou ir ao segundo turno. Este ano, Ricardo extraiu do bolso do colete o nome da professora Cida Ramos, com militância em ambientes universitários paraibanos. Avaliações isentas dão conta de que Cida teve performance nferior à de Estelizabel. Na prática, ela não passou do primeiro turno e Ricardo ainda teve que contemplar a reeleição de Luciano Cartaxo, com quem rompeu depois de um ensaio de aproximação em 2014.

O governador paraibano foi mentor de inovações na conjuntura local, tornando-se por exemplo, o primeiro gestor da era digital. Ele foi pródigo na utilização do Twitter para se comunicar diretamente com paraibanos e paraibanas, sem estar refém dos conselhos de especialistas em marketing. Ele sempre se considerou seu próprio marqueteiro – assumindo tal figurino nas vitórias ou nas derrotas. Em relação a estas, tem dificuldades muito graves para absorvê-las ou admiti-las, mas é forçado a se compor com a realidade fria e se adequar aos fatos, ao invés de brigar com ele. Não adianta especular que nomes passam pela cabeça do governador para colocar na mesa como alternativas à sua sucessão. Mais uma vez ele lançará mão da sua intuição. Note-se, para situar o estilo político diferente de RC, que ele deu à luz um denominado “Coletivo Ricardo Coutinho”, que causou estranheza semântica porque punha o plural no meio de uma pessoa só – no caso o próprio. Esse denominado Coletivo era o ajuntamento de seguidores – ora de Ricardo, ora do poder. Foi sendo desfeito naturalmente, por inação e por falta de substância. Ricardo é ele – e considera que isso basta para as suas ambições. Um fato incontestável é que, depois de Cássio Cunha Lima e Maranhão terem enfrentado as primeiras derrotas eleitorais, será a vez de Ricardo passar por esse estágio. Em que pleito, em que ano, não se sabe. Nem o próprio Ricardo sabe – ele que dá a impressão de manter linha direta com o Céu.

Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes