Assédio

Escritoras eróticas enfrentam assédio de leitores e ira de conservadores

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O mercado de literatura erótica está bombando de presença feminina. Uma nova geração de escritoras, dos mais diversos lugares do mundo, vem produzindo histórias que abordam desde aventuras sexuais, fantasias delirantes, reais ou inventadas, em formato de quadrinhos, romances picantes e até guias de como melhorar o desempenho na cama. E, ao mesmo tempo em que chegam os lançamentos, vem junto o assédio de leitores exaltados. Elas também entraram na mira dos conservadores.

Autora de um dos livros mais apimentados dessa nova safra, “Fêmea Alfa” (editora Matrix), Nalini Narayan relata em detalhes as orgias das quais já participou. Não demorou para ser perseguida por leitores querendo uma “experiência” com ela, além de sofrer ataques de pessoas que não gostaram do que escreveu.

Mas ela não se intimida. “Não vou fazer coro com bela, recatada e do lar”, diz. Segundo Nalini, suas fotos foram denunciadas e proibidas no Facebook, além de ter perfis bloqueados em diversas redes sociais. “Reclamaram de imagens artísticas. Não dá para entender o ódio que o sexo livre desperta em algumas pessoas”.

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A escritora Juliana Frank, autora do recém-lançado “Uísque e Vergonha” (Editora Oito e Meio), narra a história barra pesada cheia de sexo e drogas de uma menina de 14 anos (algo semelhante já havia sido feito em 1978, com “Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada e Prostituída”). Em julho deste ano, durante a 14° edição da Flip (Festa Literária de Paraty), a autora participou de uma mesa sobre sexo, erotismo e pornografia, mas o debate que prometia ser quente não decolou.

Para parte da mídia e do público, a performance de Juliana foi “confusa” e “histriônica”. Teve críticas até mesmo por causa de uma minissaia “muito curta”. Segundo uma fonte próxima a autora, ela teria sido pressionada pela editora de seu livro a se desculpar em um programa de rádio, após o evento. “Fui brutalmente censurada”, diz a escritora. “Fui perseguida e tive até a vida ameaçada. Foi violento demais”, declara ela, que diz ainda estar fora do circuito literário.

A peruana Gabriela Wiener, autora de “Sexografias” (Editora Foz), também lançado na Flip, e que dividiu a mesa com Juliana Frank em Paraty, disse que ficou indignada com o que aconteceu e lamentou que o debate sobre a sexualidade acabou não acontecendo. Ela afirma que alguns meios de comunicação foram muito agressivos com a escritora brasileira, e disse que presenciou pessoas tentando agredi-la pelas ruas.

“Se tivesse sido um homem com uma postura mais ousada teriam dito que era um gênio, um escritor maldito, filho de Bukowski. Mas como foi uma mulher, a chamam de louca, histérica, prostituta ou viciada em drogas”, dispara a escritora estrangeira. “Choca ainda mais ter ocorrido em um evento que homenageava uma escritora famosa por sua rebeldia, a Ana Cristina Cesar [um dos principais nomes da poesia marginal da década de 1970]”.

 

Fonte: Uol