Três meses depois de assumir a presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a educadora Maria Inês Fini faz planos para mudar o exame, mas não anuncia novas medidas. A docente e doutora em educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que passa pela segunda vez pelo órgão, diz que a prova nunca foi planejada como vestibular nacional.
“Se o nosso ministro concordar, já em 2017 teremos alguma mudança”, disse a presidente do Inep. Em entrevista a VEJA, em julho, o ministro da educação José Mendonça Filho já havia adiantado que haverá mudanças no ensino médio brasileiro e também no Enem. Contudo, para a edição deste ano, já pronta, os candidatos não devem esperar novidades.
Em entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo, Maria Inês fez críticas às gestões anteriores do Ministério da Educação (MEC) e disse que a crise econômica motivou uma “racionalização” de recursos. Confira:
Haverá mudanças na edição deste ano do Enem?
Para este ano o Enem já estava planejando, encaminhado, com toda uma operação logística planejada. Só não estava contratada a empresa para fazer a aplicação da prova, e essa foi nossa primeira providência. Em relação à segurança da prova, todos os procedimentos já haviam sido adotados e estão mantidos. A prova já está na gráfica, está sendo manipulada e ainda tem os moldes do modelo anterior, exatamente como vinha sendo.
E a partir do ano que vem? Podemos esperar por reformulações na avaliação?
Estamos em um grande movimento de mudança do ensino médio. O Enem nunca foi planejado como política pública para ser vestibular nacional. Ele foi planejado para ser uma avaliação dos alunos ao final da escolaridade básica, que termina no ensino médio. E ele, em 2009, perde essa característica e ganha as do exame vestibular nacional. Nesse momento, o Brasil discute o projeto de lei, já bastante amadurecido, acerca de uma nova arquitetura para o ensino médio. Então há toda uma flexibilização no currículo e há um impacto da base nacional curricular comum também. Então toda essa movimentação, que o Inep acompanha com bastante celeridade, seguramente vai impactar como uma nova referência da avaliação do ensino médio. Se o nosso ministro concordar, e ele parece aprovar a ideia, já em 2017 teremos alguma mudança. Sem que o exame perca todas as possibilidades de associar a ele as vantagens que vem sendo atribuídas para os jovens, como Sisu, Prouni e Fies.
Mas o que seriam estas mudanças na prática?
Da estruturação pedagógica, científica, metodológica e de medida da prova. Ninguém vai inventar a roda. Não existe outra matemática ou outra linguagem. Apenas serão outras características na estrutura da prova.
A prioridade continua sendo a interdisciplinaridades?
A contextualização dos conteúdos em torno da resolução dos problemas é a mais moderna maneira de avaliar aprendizagem.
Houve cortes no orçamento do MEC que também afetaram o Inep, com demissões. De que forma a senhora lidará com as mudanças?
O que tenho assistido, e acompanho muito as ações do meu ministro, é uma racionalidade de recursos em torno de projetos reais. Nós tínhamos uma série de ações que foram desencadeadas cujo efeito nunca foi acompanhado, monitorado ou medido. Acredito que a racionalidade da aplicação dos recursos não vai prejudicar nenhuma das políticas fundamentais, que garantem alfabetização de crianças e a formação de professores. Trabalhamos com orçamento bastante apertado no Inep, é o menor de todas as autarquias no MEC, mas as ações estruturais não serão prejudicadas.
Que ações são essas que a senhora critica?
Uma série. Por exemplo, bolsa de professores. Tínhamos 23 programas de bolsa de professores sem que se visualizasse nenhum tipo de melhoria de aprendizagem dos alunos em decorrência disso. É necessário rever isto. Professor tem que ter bolsa? Tem sim. Mas com uma direção específica de melhoria da qualidade dos nossos alunos. Todos os programas.