O STF, um senador e o novo tabuleiro

Nilvan Ferreira

Engana-se quem pensa ou tenta passar para a opinião pública a imagem de que o jogo político não mudará em nada com a decisão do STF, determinando a imediata posse de Cássio Cunha Lima, no Senado Federal. É a mesma coisa que tentar “tapar” o sol com a peneira. Só um cego não consegue enxergar que Cássio não anda satisfeito com os últimos acontecimentos, verificados aqui no nosso estado. Ele não pode é dizer, pelo menos por enquanto, mas não lhe agrada algumas atitudes do governo que ele ajudou a eleger nas eleições do ano passado.

O cenário muda. E como muda. Uma coisa é Cássio sem mandato. Outra coisa é Cássio com mandato, respaldado pelo povo e pela justiça, apesar da demora quase interminável. Até agora, com Cássio sem mandato e assistindo outro político sentado na sua cadeira em Brasília, Ricardo Coutinho podia se intitular como a única expressão com mandato, com a caneta, nomeando, exonerando, tomando sozinho as decisões, porque todos os outros ditos parceiros eram tido apenas como simples coadjuvantes.

Para ser mais sincero. Nada no governo que Cássio ajudou decisivamente a eleger tem a sua opinião levada em conta. Ricardo decide tudo sozinho. Na hora das decisões mais importantes, que pode colocar todo o grupo em risco, nos futuros embates, Cássio nunca é chamado para opinar. E tem mais. O atual governo comete um dos piores atentados contra Cássio e sua passagem pela cadeira de governador quando elimina várias ações, principalmente em relação ao funcionalismo público, uma das principais bandeiras de Cássio quando sintetiza sua gestão.

Querem exemplos? Vamos lá. Qual o governador que instituiu o subsídio para os servidores do fisco estadual, garantindo-lhes uma melhor remuneração, baseada, inclusive, no formato de metas de arrecadação? Foi no governo de Cássio. Pois bem. Hoje, Cássio é obrigado a engolir “seco” o fato de o governador Ricardo Coutinho negar o pagamento deste benefício para os servidores do FISCO, levando o estado a enfrentar uma greve da categoria, que provoca um prejuízo de mais três milhões de reais diariamente. E essa não é a única ação positiva do governo Cássio que Ricardo decide destruir. O estado está recheado de exemplo muito claros. Até parece que está em execução um plano para eliminar as principais conquistas do governo tucano.

O atual governo, que Cássio foi o grande cabo eleitoral, dizimou ou alijou grande parte dos PCCR’s – Plano de Cargos Carreira e Remuneração -, que Cássio forçou a aprovação, às vésperas de ser afastado do Palácio da Redenção e que tem sido eixo dos discursos de Cássio, quando refere-se a sua plataforma administrativa. Prova disto é o conceito extremamente positivo que nutre o servidor público estadual em relação ao governo de Cássio.

O governo não respeitou o subsídio do FISCO, não cumpriu parte dos direitos dos servidores de diversas categorias, implementados no governo Cássio, reduziu salários, cortou gratificações, e, além disso, neutralizou parte dos programas sociais, instituídos pela sua gestão. Veja o que fez o atual governo com o programa Bolsa Atleta, responsável pelo incentivo aos praticantes de modalidades esportivas, que o estado ajudava com uma bolsa mensal, demonstrando o compromisso do poder público com a área.

E estes são apenas alguns exemplos concretos do que Cássio e seus fiéis aliados assistem desde o dia primeiro de janeiro. E eu não estou aqui dizendo que vai acontecer um “racha”, uma divisão entre Cássio e Ricardo. Deus me livre. Estou apenas querendo expressar o meu ponto de vista, focando meu comentário no aspecto de que Cássio com mandato de Senador da República vai exigir que seus ditos “parceiros” lhe tratem como verdadeiro parceiro e responsável por parte do projeto que hoje está em vigor.

Ou seja, Cássio, a partir de sua posse, terá que ser visto com outros olhos pelo núcleo do “coletivo girassol”. E quanto ao futuro, o tempo dirá e, é claro, o resultado das eleições do próximo ano, quando o desenho para 2014 será refeito, estabelecendo uma conjuntura, capaz de projetar os passos que cada liderança dará nas batalhas vindouras.