Uma demonstração de fragilidade ou apenas mais uma encenação de uma pessoa fria e calculista? Eis a questão. O choro de Eduardo Cunha ao falar de sua mulher, Cláudia Cruz, e de sua filha Danielle Dytz, durante o discurso de renúncia ao cargo de presidente da Câmara, dividiu especialistas. Desde o mês passado, Cláudia é ré em um dos processos da Operação Lava-Jato, sob a acusação de ser beneficiária direta de propina que teria sido recebida pelo marido. Já Danielle segue sendo investigada por acusação semelhante.
“Tendo a achar que é mais um papel para tentar comover a opinião pública, para demonstrar que ele é um bom pai, um bom marido, demonstrar valores de família muito cultuados na sociedade brasileira. Mais uma vez, ele tenta nos manipular, um comportamento comum daqueles considerados pela psicanálise como perversos e, pela psiquiatria, como psicopatas, pessoas que não têm consideração por valores morais”, afirma o psicanalista Joel Birman.
Doutora em psicanálise, Priscila Gasparini tem uma visão diferente. Para ela, apesar de ter demonstrado nos últimos tempos uma postura fria e ditatorial mesmo nos momentos mais adversos, ao se emocionar com a referência da família, o deputado demonstra um lado inseguro, um ponto fraco.
“Na hora em que ele fala da família, cai a máscara. Ele demonstra que não sabe lidar bem com a fraqueza”, avalia a psicanalista, que acrescenta: “O que vejo é que na família ele deve ser uma pessoa bem mais acessível, bastante diferente desse outro papel de figura superpoderosa do Congresso”.
Emoções em pequenos gestos.
O psicanalista Miguel Calmon tem opinião parecida: “Não que chore porque é bonzinho, mas o deputado demonstra ali que tem na sua família uma espécie de santuário, que, na hora em que é tocado, faz com que ele desabe. Não creio necessariamente em uma farsa nesse caso. Pelo contrário”.
Já o psicanalista gaúcho João Gomes Mariante não se convence com a emoção de Cunha. Para ele, o deputado não demonstra culpa em relação a qualquer dos atos de que é acusado.
“Não tenho dúvidas de que enquadraria Cunha em um quadro de psicopata. Para qualquer pessoa normal, as acusações que ele carrega seriam um desastre. O deputado não demonstra nada em relação a isso. Encara até como uma moção de homenagem. Ao chorar pela família, vejo uma tentativa dele de tentar pegar o ponto fraco do sentimento coletivo, que deprime, traz sentimento de pena. É mais uma maneira de buscar elementos externos para modificar objetos internos.”
Durante o discurso, além do choro, deixou escapar emoções em pequenos gestos, como levantar as sobrancelhas, passar a língua nos lábios, mover os lábios, e fazer pausas durante a fala. “As demonstrações são sutis. Cunha é treinado, ele sabe conter as emoções”, acredita João Oliveira, psicólogo especialista em análise comportamental.
Fonte: O Sul