No mesmo dia em que o presidente interino, Michel Temer, reuniu-se no Palácio do Jaburu com o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), e determinou que todo o primeiro escalão do governo seja consultado para que quem tiver envolvimento com irregularidades peça para sair do governo, mais um ministro foi envolvido na Lava-Jato. Desta vez, foi Mendonça Filho (DEM-PE), da Educação. Nesta sexta-feira, após retirada de sigilo de um dos processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), descobriu-se que, em janeiro deste ano, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu abertura de investigação para apurar se o atual ministro da Educação recebeu propina de empreiteira investigada na Operação Lava-Jato. Na época, Mendonça era deputado federal, e só assumiu o ministério em maio.
O pedido de investigação está em inquérito cujo alvo é o ex-ministro da Comunicação Social Edinho Silva. No caso de Mendonça, há suspeita em relação a uma doação eleitoral de R$ 100 mil feita pela UTC em 2014. Janot identificou que a empresa fez duas doações nesse valor, uma em 5 de agosto de 2014 e outra em 5 de setembro de 2014, ao diretório nacional do DEM.
“Além da pessoa do ministro Edson Antonio Edinho da Silva, foram encontrados indícios de possível recebimento de propina por parte do Deputado Federal José Mendonça Bezerra Filho, do DEM/PE, consistente em imagem arquivado em um dos celulares apreendidos em poder de Walmir Pinheiro, compatível com folha impressa identificando o partido Democratas e informando dados bancários de uma conta para doações de campanha eleitoral para o ano de 2014, havendo manuscrito de R$ 100.000,00 (cem mil reais) e do nome do Dep. Mendonça Filho, além de registro impresso do tesoureiro do partido, Romero Azevedo”, escreveu Janot.
GEDDEL ESTARIA NA DELAÇÃO DE CLETO
Walmir Pinheiro, ex-executivo da UTC, é um dos delatores da Lava-Jato. Ele também fez acusações incriminando Edinho. Em nota, o ministro negou ter recebido doação da UTC em 2014. “O deputado foi, à época, procurado por interlocutores da UTC oferecendo doação legal no valor de R$ 100 mil. Neste contato, Mendonça Filho disse que não queria essa doação, mas se a empresa quisesse doar para o partido o fizesse. A doação foi feita ao partido de forma legal e está registrada na prestação de contas do partido de 2014, junto à Justiça Eleitoral”, diz trecho da nota.
Nesta sexta-feira, no Jaburu, Temer discutiu os desdobramentos das delações que envolvem políticos. A demissão de Henrique Alves (PMDB-RN), amigo do presidente interino, do Ministério do Turismo foi o ápice para que Temer pedisse que Padilha e Jucá agissem. Segundo auxiliares presidenciais, ele quer evitar novas baixas por conta de potenciais escândalos.
Na reunião desta sexta, os peemedebistas demonstraram preocupação com a delação de Fábio Cleto, que acabou atingindo Alves e o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha. Segundo um integrante do governo, há citação a Geddel Viera Lima (Secretaria de Governo).
O temor do presidente interino é que a imagem do governo seja contaminada definitivamente pela operação. O curioso é que Temer tratou da questão justamente com o ex-ministro Jucá, investigado pela Lava-Jato e afastado do Planejamento após divulgação de gravação feita por Machado, na qual propunha “estancar a sangria” da Lava-Jato. O próprio Temer foi citado na delação de Machado, que afirmou que o agora presidente interino lhe pediu uma doação para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012.
A ideia de Temer é que todos os seus principais auxiliares façam um “exame de consciência”.
— A prioridade zero do presidente é impedir que a Lava-Jato chegue ao governo. Ao Palácio do Planalto, então, nem se fala. A diretriz dada na reunião foi a de quem tiver qualquer envolvimento peça para sair. Se não sair, será saído — afirmou um interlocutor do Planalto.
Durante a reunião, os ministros e Temer avaliaram que não foram só as “pedaladas” fiscais que levaram ao afastamento da presidente Dilma Rousseff mas, sobretudo, o fato de as investigações terem chegado ao Planalto, afetando os ex-ministros Edinho Silva (Comunicação Social) e Jaques Wagner (Casa Civil).
Segundo este interlocutor, o Planalto avalia que houve desgaste com a queda de três ministros em pouco mais de um mês de governo — Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), e Henrique Alves (Turismo) — mas que ainda é possível estancar a crise.
Nesta reunião, Temer discutiu a situação do Ministério do Turismo. Falou na possibilidade, inclusive, de extinguir a pasta. Caso resolva manter o ministério, o presidente interino quer que seja um nome reconhecido pelo setor. Mas é preciso, também, deixar a pasta como uma espécie de reserva aos peemedebistas da Câmara, caso Temer enfrente turbulências com deputados de seu partido.
Seja qual for a solução, Temer avalia que não pode passar da semana que vem, já que esta é uma área fundamental durante a Olimpíada do Rio, cuja abertura será no dia 5 de agosto.
— É muito difícil arrumar um ministro que não dê problema — reconhece um interlocutor de Temer.
Um assessor lembra que, quando montava o governo, estava previsto o fim do Ministério do Turismo, mas na época Temer precisava de um lugar para alojar Henrique Alves, seu amigo e aliado histórico.
Fonte: O Globo