O dia estava planejado para que o presidente interino, Michel Temer, celebrasse apenas boas notícias, com a divulgação do seu mais ambicioso projeto na área econômica até agora: a criação de um teto para os gastos públicos pelos próximos 20 anos.
Temer, porém, deparou-se com uma nova “bomba” que pode atrapalhar os planos de decolagem de seu Governo.
A divulgação da volumosa delação premiada do ex-senador Sergio Machado, que presidiu a estatal Transpetro (um braço da Petrobras) por 11 anos sob a indicação do PMDB, levou Temer e outros 19 políticos para o turbilhão da Operação Lava Jato.
Opositores, correligionários e aliados importantes do peemedebista estão no esquema descrito por Machado à Justiça, que movimentou mais de uma centena de milhões de reais em propinas, divididas entre “mesadas” e doações de campanha eleitorais feitas sob uma falsa legalidade, em suas palavras.
Desde o mês passado, Machado é um dos principais colaboradores do Ministério Público e suas gravações, então vazadas à imprensa,derrubaram dois ministros.
Agora, a avaliação no meio político foi de que a citação a Temer que veio à tona nesta quarta – acusado pelo delator de pedir 1,5 milhão de reais em doações para seu candidato à prefeitura paulistana em 2012 – não é de gravidade extrema para o Planalto.
Acende, porém, uma luz de alerta no que deve vir por aí com as colaborações de executivos de duas empreiteiras que aceitaram colaborar com as investigações, os da odebrecht e da OAS.
O pior: tumultua o cenário do Congresso, enquanto o Senado se prepara para votar o impeachment de Dilma Rousseff e a Câmara está às voltas com o escândalo de seu aliado Eduardo Cunha.
Sérgio Machado expôs ainda mais políticos-chave para a gestão Temer especialmente no Senado. Neste grupo estão os senadores peemedebistas Renan Calheiros (presidente da Casa), Roméro Jucá, Eunício Oliveira, Garibaldi Alves e Jader Barbalho, além de Aécio Neves, que também é senador e preside o PSDB, o principal partido de sustentação ao Governo interino.
Contra eles pesam acusações de terem recebido propina disfarçada de doações eleitorais. A delação levou a consultoria de risco Eurasia emitir um boletim extra a seus clientes, mas sem dramatismos: Machado, no fim das contas, “não tem uma arma fumegante” e, na avaliação da Eurasia, o compêndio não altera as chances de que o impeachment de Rousseff (PT) seja aprovado pelos senadores (80%).
As detalhadas declarações de Machado, para além do desgaste político para os citados, ainda precisam ser confrontadas com uma apuração.
Agora, cabe ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal concluírem as investigações e apresentarem essas provas ao Supremo Tribunal Federal.
Parte delas já haviam sido usadas para embasar o pedido de prisão feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra integrantes da cúpula do PMDB.
Não deu em nada, porque o ministro Teori Zavascki, do STF, entendeu que não havia o flagrante necessário para prender parlamentares que têm prerrogativa de foro privilegiado previsto na Constituição Federal.
Fonte: El País