Os partidos pioram os políticos

Quando os costumes de uma sociedade se deterioram gravemente, como é o caso do Brasil hoje, todas as instituições sociais se aviltam. Se Steve Jobs fosse brasileiro, sua morte prematura teria um sentido mais condoído do que foi para o resto do mundo. Talvez o povo dissesse em prantos: – ‘ele foi a última certeza de que o país não estava totalmente perdido’.

Essa experiência de ídolos individuais no lugar das instituições o Brasil já teve várias. Na música, nas artes, no esporte, aqui e acolá surge uma Paula Fernandes, um Guga, um Senna ou uma Marta. No futebol onde surge ícones em profusão a toda hora, Neymar seria o melhor exemplo atual, não fosse o fato de que tanto jogando ou comendo bola os craques como os ditos homens públicos brasileiros apodrecem antes de ficar maduros e enquanto enriquecem. Ou seja, o povo não tem a quem amar sem riscos. Ou sem traumas.

OS POLÍTICOS PERDERAM O SENSO

Intérprete de uma nação atordoada com a insensatez de seus dirigentes e com a agressividade humana que reina intra-muros. Lya Luft parece ser a única professora de um país cuja educação beira a tragédia e onde a pedagogia não consegue saber o que deve ensinar a alunos que não sabem o que aprender. Lya Luft é a escritora que fala como se o Brasil todo fosse uma simples sala de aula, onde ela leciona numa linguagem de indignação educativa, ternura lúcida, amor tricotado e esperança. Talvez seguindo seus exemplos de firmeza e perseverança numa sociedade ressurgente, o povo brasileiro possa remodelar seu destino – que em muito pouco dependerá dos homens públicos e seus maus exemplos. Dos políticos não se espera nada, porque eles são incapazes de gerar um mínimo de confiança. Segundo pesquisas de opinião pública, freqüentemente realizadas no Brasil, são por grupos da sociedade um dos mais repudiados pela população, muito embora, contraditoriamente, seja precisamente esse agrupamento aquele que a própria sociedade escolheu livremente para representá-la. Isso dificulta qualquer explicação.

PARA QUE VALEM OS PARTIDOS?

Se o povo tem dificuldade de entender para que servem os políticos, porque eles demonstram cada vez mais que querem servir primeiramente a si mesmo, a dificuldade aumenta quando é para entender a que servem os partidos – agremiações políticas encarregadas de formar cidadões para o exercício pleno das atividades democráticas nas instâncias dos poderes providos pelo voto popular(executivo e legislativo). No grosso da população, ninguém quer nem saber dessas entidades que parecem a muita gente como um antro de proteção a malfeitores públicos, onde todas são parecidas e cúmplices .

Nesses últimos momentos, na Paraíba, com essa migração de líderes fugindo pela janela de uma instituição pecaminosa a outra, através de um canal de fuga criado para saciar interesses escusos, o que se expõe ao escárnio não são apenas os mutantes, são também os partidos políticos, que não se acham com o direito moral de cobrar pelo menos a lealdade devida.

O silêncio dos líderes políticos e ausência de ações enérgicas e de cobrança pública dura com relação aos que desertam do mandato pertencente ao partido (conforme entende a lei da fidelidade partidária) é muito mais comprometedor do que a evasão dos fugitivos pela rota de fuga. É como se, entre mortos e feridos, não tenha escapado ninguém. Só porque durante essa noite mal assombrada em que vive o país, todos os gatos são pardos.