Os médicos assustam como espantalho

Gilvan Freire

900 médicos estão mobilizados para enfrentar em seus espaços de influência a privatização do Hospital do Trauma, o primeiro de uma série de pactos pela gestão privada da saúde pública na Paraíba. Sabem todos que o governador do Estado, que aderiu ao modelo privatista são-paulino com coragem maior do que deveriam ter os aliados locais de José Serra, não quer apenas entregar a administração e o dinheiro público desse setor às empresas privadas, quer mesmo é afastar os médicos conterrâneos e a medicina praticada aqui de qualquer ingerência na área do Estado. Só porque os profissionais médicos são muito esclarecidos e independentes economicamente e não se submetem ao estilo autoritário de nosso pajé. RC tem nojo e raiva dos que não aceitam conformados suas determinações facistas.

A melhor pergunta que se pode fazer é porque um governante da era moderna, logo um suposto democrata (sem ser do DEM e nada ter a ver com ele) adota conduta tão primitiva, a ponto de penalizar a administração e o interesse popular só porque não gosta de certas categorias de servidores públicos. E não é apenas com relação aos servidores da área de saúde, mas de outras importantes categorias também.

O pior de tudo, porém, é que RC exige que o Estado massacre as pessoas de quem ele não gosta e impõe à Assembleia Legislativa, via de sua maioria parlamentar, a obrigação de aprovar suas cotas de perversidade, através de instrumentos legiferantes, leis e medidas provisórias. Os deputados de RC estão no limite do desgaste perante o funcionalismo e sabem que nunca serão recompensados por solidariedade tão cara.

Nessa questão da saúde, onde o segmento tem poder de pressão e possui um saldo grande de contribuição reiteradamente dada nas eleições, e de ajuda profissional prestada a todos os políticos, e mais diretamente a deputados, a coisa está de cinzenta a preta.

HÁ TEMPO PARA TUDO

É certo que RC pode muito no governo, porque a capacidade dos governantes de fazer o bem ou o mal é ilimitada. Mas RC já estourou os termômetros da temperatura em sua deliberada ação malfazeja e esgotou sua cota de perversidades. Já será o bastante para ele rifar seu futuro político, como fez colocando sua biografia debaixo de entulhos neoliberais.

Os parlamentares estão insones. Quase todos acham que estão assumindo uma parceria governamental de muitos riscos, sob a liderança de um homem ainda desconhecido em sua capacidade de brincar com fogo. Eles preferem que RC, que gosta de brasas, enfrente a fogueira sozinho. Já os médicos colocaram o problema como uma questão de honra – de fato, se eles querem ter e precisam de honra a ora de salvar é essa quando a vassoura de RC (que não limpa seu terreiro) está varrendo a honra de quase todos os servidores, inclusive os médicos do serviço público de saúde.

Os deputados do governo terão de optar entre o futuro de um governo incerto e a certeza da solidariedade médica de todas as eleições. Quando não forem fantasmas que assustam os medrosos, esses doutores são lobisomens que causam medo até aos mais destemidos e afoitos.