Para especialistas, está evidente que presidencialismo de coalizão está no limite
RIO — Os recuos do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) na organização de seu eventual governo são vistos por economistas e cientistas políticos como parte do jogo na busca de aliados. Porém, a fragmentação do sistema partidário brasileiro tem levado o sistema de presidencialismo de coalizão ao limite, tamanha a oferta de cargos em troca de apoio para assegurar a governabilidade, alertam os especialistas.
— Não é muito surpreendente tratando-se de PMDB, que sempre trabalhou com a lógica de acordo pragmático em torno de cargos — observa o cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG.
Temer tinha a intenção de reduzir o número de ministérios dos atuais 31 para cerca de 20. Mas, em entrevista ao colunista do GLOBO Lauro Jardim e ao repórter Guilherme Amado, admitiu que o corte seria em torno de três, para acomodar aliados.
— A gente vive um presidencialismo de coalizão num sistema partidário muito fragmentado. Esse número alto de ministérios não é à toa — enfatiza o cientista político Cláudio Couto, da FGV.
A tese é corroborada por Marco Aurélio Ruediger, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da FGV:
— Estamos no limite do presidencialismo de coalizão. Essa fragmentação partidária cria disfunções institucionais.
Do ponto de vista fiscal, um corte maior ou menor de ministérios não fará tanta diferença. Nas contas de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, se fossem cortados todos os cargos comissionados dos ministérios, a economia seria da ordem de R$ 1,5 bilhão, para um déficit fiscal que beira R$ 100 bilhões, em “um efeito mais simbólico que real”.
Já o vaivém do senador José Serra (PSDB-SP) — que foi cotado para uma pasta social e depois para o Itamaraty — é apontado como um momento para repensar o Mercosul.
— É hora de pensar o Mercosul de forma mais pragmática — conclui Rafael Benke, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais.
Fonte: O GLOBO
Créditos: FERNANDA KRAKOVICS / DANIELLE NOGUEIRA