Rubens Nóbrega
Sob as trevas da Inquisição, por decisão do Concílio de Trento (1545-1563) e medo do avanço do protestantismo no mundo, a Igreja Católica instituiu em 1559 o Index Librorum Prohibitorum, o Índice dos Livros Proibidos.
O Índex vigeu até 1966, quando foi revogado pelo Papa Paulo VI. Enquanto durou, indexou pelo menos 4 mil títulos, muitos dos quais da autoria de alguns dos romancistas, poetas e pensadores mais aclamados de toda a aventura humana na Terra.
Pois bem, vem do Índex original o verbo indexar, que na literatura política adquiriu o sentido de marcar, carimbar, estigmatizar e excluir quem não rende, não se vende nem se verga aos ditames ou diatribes dos poderosos da vez.E todo poderoso, posso garantir, tem o seu próprio Índex. Sei disso por experiência própria e desde quando, por ossos deste ofício, foi-me dada a tarefa de acompanhar e avaliar a vida política do meu Estado e do meu País.
Na Paraíba, não lembro de um único regime, governo ou gestão – nos últimos quarenta anos – que não tenha criado, mantido e atualizado periódica e regularmente o seu Index Maledictus Prohibitorum, que seria o Índice dos Malditos Proibidos.
Por todos esses anos de análises e reflexões sobre os homens públicos da brava e heróica Pequenina, posso garantir ainda que jamais vi um governo tão empenhado na alimentação do seu Índex quanto o atual. É impressionante.
Dá pra assegurar também que o elenco de proscritos em cartaz é o mais diversificado de todos os tempos. Antes do Ricardo I, tenham certeza, a indexação concentrava-se nos tradicionais adversários políticos e eventuais dissidentes.O monarca de agora parece gostar mesmo de variar. Digo isso porque desde a sua entronização o que se vê é uma frenética atualização do Índex governamental com expoentes de diversas categorias profissionais ou segmentos sociais.
A lista abarca de alunos a diretores de escolas públicas estaduais. Aqueles porque saem às ruas para protestar contra a demissão de seus diretores. Estes, porque ousam exercer seus cargos com autonomia e altivez diante do governo.Não é só. A lista estende-se a empresários, advogados, professores, médicos, policiais e alcança até mesmo representantes do Ministério Público, tanto Estadual como Federal. Dela não escapa nem mesmo a magistratura paraibana.
E para figurar no Índex ricardiano basta dizer uma palavra, fazer um gesto, tomar uma atitude ou decisão que contrarie a vontade do soberano ou os negócios de Estado entabulados com pessoas ou empresas do agrado de Sua Majestade.Foi o que aconteceu e acontece com as personalidades indicadas no tópico a seguir (por ordem alfabética). Salvo melhor juizo, elas compõem o grupo mais representativo, ilustre e conhecido dos indexados do Ricardo I.
OS INDEXADOS
• Abraão Alves de Carvalho – Eleito por larga maioria ano passado para dirigir o Liceu Paraibano até o final de 2012, foi cassado pelo Ricardo I no começo de junho deste ano após desmoralizar uma lista de ‘funcionários fantasmas’ armada por uma publicação especializada em queimar o filme de opositores do regime.
• Clilson Júnior – Jornalista que vem se especializando e se aprimorando no jornalismo investigativo que traz a público feitos memoráveis dos girassolaicos em postos de mando, a exemplo de contratos milionários da Emlur com próspera empresa que tem como sócio proprietário um dos mais empreendedores garis da Capital.
• Dércio Alcântara – Jornalista e publicitário que montou e mantém um dos mais visitados blogs da Paraíba pela coragem com que faz denúncias de altíssima gravidade contra o governante, como aquela que expôs um desembargador pedindo emprego ou melhorias salariais para a esposa e um cunhado.
• Eduardo Varandas – Atual procurador chefe do Ministério Público do Trabalho na Paraíba, mandou fazer auditoria no Hospital de Trauma da Capital terceirizado à ‘Cruz Vermelha’, detectou irregularidades e apontou ilegalidades no milionário contrato firmado entre o governo e aquela ‘organização social’.
• Gilvan Freire – Ex-deputado estadual e federal, advogado e consultor político, é um dos mais ácidos e contundentes críticos do Ricardo I, crítica que exerce através da produção e publicação de demolidores artigos contra as principais realizações do atual governo: o troca-troca de terrenos e a privatização disfarçada de terceirização do HT.
• Major Fábio – Ex-deputado federal, transformou-se na principal liderança do movimento pela melhoria substancial na remuneração dos policiais (Pec 300), tendo rompido com o governador tão logo viu que era conversa fiada a promessa do Ricardo I de atender às reivindicações da PM, Polícia Civil, bombeiros e agentes penitenciários.
• Maria de Fátima Lúcia Ramalho – Juíza de Direito da 5ª Vara da Fazenda Pública da Capital, indexada depois de ordenar bloqueio de recursos do Estado para o pagamento de direito conquistado judicialmente, há mais de dez anos, por servidores do velho Ipep de guerra, e também por sustar terceirizações na Prefeitura da Capital.
• Patrícia Poeta – Isso mesmo, a bela apresentadora do Fantástico, a revista eletrônica dominical da Rede Globo de Televisão, deve ter entrado em definitivo para o Index Maledictus Prohibitorum do Ricardo I depois de ter introduzido anteontem à noite aquela reportagem sobre ambulâncias sucateadas e escondidas na Paraíba.