Gilvan Freire
Alguém disse a Ricardo Coutinho que se ele quisesse tirar um retrato com Fidel Castro em Cuba, como tanto ansiava e queria para exibir na primeira página de um jornal local, quando retornasse da Ilha, precisaria, em princípio, fazer com que o velho Fidel não soubesse nada a respeito da virada anti-socialista que o levou a mudar o conceito de ‘gestão pública democrática’ para ‘gestão pública não-estatal’, um eufemismo criado para mascarar a privatização da coisa pública, prática que RC acaba de implantar na Paraíba e recebe o aval presencial de José Serra, que a inaugurou em São Paulo, pouco mais de 10 anos atrás, e desfalcou os ativos de 80% dos bens públicos hospitalares e ampliou em 114% os custos desembolsados pelo Erário nesse período. Dos 65 hospitais paulistas privatizados, só 25 ainda permanecem em poder de particulares.
Mania de fotos – Como se sabe, RC é chegado a tirar retrato e publicar na imprensa só para criar a falsa impressão de que ele próprio é aquilo que o povo acha que ele nunca foi, ou já foi em algum tempo e não é mais.
RC e FHC – Mas enquanto RC perseverava em Cuba na busca da foto enganadora a qualquer custo, como que combinado Zé Serra chegava à Paraíba e exaltava o espírito neoliberal de RC. Nem Cícero, nem Cássio. Nem Lula, nem Dilma, nem Fidel: Serra é Ricardo e Ricardo é José Serra, dois apóstolos de FHC. Embaralhou tudo. É coragem de bicho sem bom instinto.
Onde entra Guevara nisso – Outro assessor lembrou a RC, em Cuba, que em vez de fazer ameaças de trazer médicos cubanos para a Paraíba e desclassificar nossas universidades e desmoralizar os profissionais do Estado, ele deveria cuidar de associar sua imagem a de Guevara, de alguma forma, para que essa questão neoliberal não fizesse seu corpo arder em chamas perante os socialistas, vez que sua biografia política já virou cinzas desde janeiro, senão antes. ‘Che’ seria um escudo ideológico, mesmo morto, capaz de proteger RC diante da ira dos que fizeram dele o ‘Cavaleiro da Boa Esperança’ da era contemporânea. Foi aí que outro companheiro sugeriu – ‘não precisamos falar ‘Che’, falemos apenas ‘Guevara’, porque tem duplo sentido interessante e apropriado para o nosso projeto político!’
De fato, Guevara, noutro sentido, é também o sobrenome de Don Fernando Nino de Guevara (1541-1609), arcebispo de Sevilha a partir de 1601, um dos maiores inquisidores do Santo Ofício, a fogueira da Igreja Católica que torturou e matou ‘novos cristãos’ na Espanha, Portugal, México, Itália, Filipinas, Peru, Guatemala, Nova Granada (atual Colômbia), Ilhas Canárias, Índia e até o Brasil extra-oficialmente. Somente na Espanha, esse tribunal sórdido e sanguinário queimou 31.912 hereges, pessoas que não podiam exercer a liberdade de opinião e crença, entre 1478 e 1834.
A INQUISIÇÃO NA PB VAI QUEIMAR O DOUTOR VARANDAS
A humanidade toda já viveu e ainda vive formas variadas de opressão política. Papas e reis católicos levaram à inquisição seus inimigos políticos, não por serem hereges, mas porque discordavam do poder da época. Quando não eram queimados vivos, tinham seus bens confiscados, apenas sob o pretexto de que professavam credos religiosos exóticos ou dissidentes. O regime comunista matou e silenciou milhões, da Rússia de Stalin à Cuba de Fidel, onde, apesar de tudo, funciona a melhor medicina e a melhor educação de pobres das Américas, custeadas totalmente pelo poder público.
Quem a fogueira queima em Cuba – A inquisição continua em Cuba. É pura repressão política, que saiu da fase de fuzilamento em paredão público nos primeiros anos de revolução, para detenções de curto prazo, ‘campanhas de desprestígio e sanções sociais’, atualmente. RC foi estudar em Cuba os métodos da repressão política do regime, que envolvem também surras e intimidações freqüentes aos que não pensam de forma conveniente à ditadura de esquerda. 29 jornalistas independentes foram liberados em março deste ano, presos durante a Primavera Negra de 2003. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês), as violações ainda continuam. Entre abril e maio, dezenas de jornalistas dissidentes foram perseguidos e sofreram prisões domiciliares, além de retaliações de todo o gênero, só porque teriam ocorrido ‘fatos políticos sensíveis’.
RC está de volta. Não viu tudo à toa. Sabe que não pode aplicar a lei conforme seu gosto, porque não pode mudar as instituições, que são republicanas, e não paraibanas. A Paraíba não é um Estado independente, pertence à Federação.
Mas quanto aos métodos de ‘intimidação, campanhas de desprestígio e sanções sociais’ contra seus críticos ou desafetos políticos, isso ele já vem fazendo à larga, desde que assumiu o governo. É a nova fase da inquisição de cor girassol vigorando em terras brasileiras.
Quem queima mais na PB – Primeiro foram os jornalistas. Depois foram os servidores públicos, que são caçados a dedo nas repartições do Estado porque não votaram em RC. Todos são enxotados da administração pública de forma sumária. Agora o alvo atende pelo nome de Eduardo Varandas, um jovem jurista talentoso e destemido que não quer nem saber o tamanho que RC acha que tem. Ele quer apenas saber se RC (como todos os cidadãos e autoridades) cabe dentro da Lei, onde só não cabem os delinquentes, e mesmo assim são forçados a caber. O Dr. Varandas sofrerá ‘sanções sociais e campanhas de desprestígio’, porque não se vende e nem se rende a RC. Mas ele não está só.
No próximo artigo saiba mais sobre o Doutor Varandas, a juíza Lúcia Ramalho, os jornalistas e principais dissidentes do regime ditatorial e inquisitorial de RC, e como se dá e quem está por trás do esquemão financiado pelo dinheiro público para punir os ‘hereges’ que não se sujeitam ao reinado de Guevara III. Você já imaginou Rubens Nóbrega e Helder Moura abraçados e queimados vivos numa fogueira, só porque não querem se render a RC? Até quarta-feira, à tarde.