O aumento dos casos de microcefalia no Brasil deu início a um movimento de solidariedade. A história de mães com filhos com danos neurológicos sensibilizou uma família de São Bernardo do Campo (SP), que criou o Projeto Cabeça eCoração para conectar quem quer fazer doações a crianças que precisam de ajuda.
A página é hospedada na plataforma Tumblr e reúne depoimentos de mães de diferentes Estados. Ao fim de cada história, há uma lista de itens que a família precisa (leite, fraldas, roupas ou recursos), o endereço para o envio de doações e a conta bancária (para as mães que possuem uma) destinada à ajuda em dinheiro.
Até aqui, são 18 mães de oito Estados diferentes e outras quatro em fase de entrevista.
Doações até de R$ 500
As responsáveis pelo site são a economista Cida Nicolau, e suas duas filhas Maria Clara Vieira e Maria Júlia Vieira. A ideia surgiu em outubro, ainda no início dos relatos sobre a microcefalia, mas só se tornou realidade em 30 de dezembro, quando o primeiro post foi publicado na página. No começo, o grupo procurou mães nas redes sociais. Agora, há até quem procure a página em busca de ajuda.
“No início do projeto, adicionávamos a mãe e mandávamos uma mensagem explicando sobre o Cabeça e Coração. As que demonstravam interesse eram contatadas por telefone para relatarem sua história”, explicou a jornalista Maria Clara Vieira, uma das administradoras da página.
É o caso de Laurineide, de Monteiro, no interior da Paraíba. “Estou desempregada, meu marido ganha pouco e temos outro filho. A despesa é muito grande: temos que ir para Recife com o bebê três vezes por semana para as terapias. É uma distância de quase 400 km. A prefeitura da minha cidade me dá o carro e o combustível de ida, mas tenho que pagar o combustível da volta e ainda precisamos fazer uma refeição por lá. Cada vez que vou para Recife gasto cerca de R$ 120”, disse à página.
“As mães nos mandam fotos de compras que fizeram graças às transferências bancárias. Tem até família que conseguiu comprar carrinho. Em outros casos, o dinheiro precisa ser usado em deslocamento”, afirmou Maria Clara.
O governo oferece assistência para famílias com bebês que enfrentam o problema por meio de um benefício para pessoas com deficiências. Maria Clara lembra, contudo, que isto pode não ser o suficiente.
“As mães que atendemos no programa sabem que esse benefício existe e algumas estão tentando conseguir. Este auxílio funciona como um substituto para o salário que as mães tinham, já que elas precisam deixar seus empregos para cuidar das necessidades especiais do bebê integralmente. Então a ajuda acaba se fazendo necessária em certos casos”, disse.
Tudo pelo bebê
Não faltam, na página, histórias de mães que batalham para dar uma vida melhor aos filhos. Uma delas é de Jaqueline, de Olinda (PE), que até se mudou e deixou o marido para ajudar seu filho.
“A casa onde a gente morava era muito simples, sem reboco, e tinha umidade. Quando fechava a porta para dormir, ficava um cheiro de mofo que fazia mal para o Daniel (bebê com microcefalia). Um dia, ele até ficou roxo por não conseguir respirar. Eu quis me mudar da casa para ele viver melhor, mas o meu marido disse que não iria comigo. Então peguei meus filhos e me mudei, pela saúde do bebê. Desde então, a coisa complicou”, relatou, em depoimento ao site.
Como doar
Para doar, basta acessar o site do Projeto Cabeça e Coração. Em cada post, há uma história da família e os itens necessários, com o correspondente endereço residencial para envio de itens por correio ou presencialmente. Os dados para doações em dinheiro também são disponibilizados para quem possui conta em bancos
Fonte: UOL