O pior emprego da imprensa brasileira é o de ombudsman da Folha.
Já escrevi isso.
O ombudsman, em vez de defender o leitor, tem agora, pelas circunstâncias, que defender o jornal.
Isso ficou claro na última coluna de Vera Guimarães, a ombudsman da Folha. O tema era previsível: a contratação de Kim Kataguiri.
Vera fez o papel de advogada do jornal diante da reação irada de muitos leitores. Um deles colocou no Facebook a foto da resposta que mandou para o departamento de assinaturas da Folha depois de cancelar a sua e receber um apelo para que reconsiderasse.
A Folha ponderava que aquele assinante já estava há muito tempo com o jornal e perguntava o que acontecera.
A explicação veio numa linha. Ou melhor, num nome: “Kim Kataguiri”.
Foi amplamente compartilhada nas redes sociais a imagem desta troca de mensagens.
Resposta lacônica
Vera, em sua defesa do jornal, usou primeiro o velho expediente do pluralismo. Quem acredita nisso, como disse Wellington, acredita em tudo. Hoje, os colunistas progressistas, absolutamente minoritários, servem essencialmente para que a Folha mantenha a fábula da pluralidade em seu marketing.
Vera citou Guilherme Boulos para provar o pluralismo da Folha. Equiparou-os. Disse que muitos leitores também ficaram inconformados com a contratação de Boulos.
Ora, ora, ora.
Você pode detestar Boulos, mas não pode rebaixá-lo ao nível de Kataguiri. Boulos é culto, lido. Kataguiri é raso, um repetidor de clichês de direita, um ignaro capaz de escrever que Lênin era filho de um “poderoso funcionário do czar”. (Era professor.)
Boulos se revelou por seu talento como organizador de um movimento social. Kataguiri foi inventado pela mídia.
Na própria Folha, Boulos fez uma análise muito mais acurada que a de Vera sobre a chegada de Kataguiri.
Antes do mais, ele lembrou que não era surpresa, dado o perfil conservador do jornal. Uma publicação que contrata Reinaldo Azevedo pode, perfeitamente, contratar também Kim Kataguiri.
Mas onde Boulos foi mais agudo foi na definição de Kataguiri.
Vera chamou-o de “novo”. Boulos deixou claro que é o chamado “novo velho”. Um rosto fresco que repete ideias antigas.
Novos são os secundaristas de São Paulo, em sua luta por uma educação melhor. Novos são os ativistas do MPL, em sua cruzada por transporte público barato.
Velha, ou velhaca, é a Folha, que tenta vender, pelas mãos da ombudsman, Kim Kataguiri como representante do novo.
Diário do Centro do Mundo