O Ministério Público do Rio Grande do Sul investiga a suspeita de fraude em um concurso público da prefeitura de Cristal do Sul, na Região Norte do Rio Grande do Sul. Entre os 26 aprovados na seleção, 23 são parentes do prefeito, amigos ou correligionários do prefeito Cesar de Pelegrin (PMDB) ou da vice Maristela Zadinello (PDT), como mostra reportagem do RBS Notícias (veja no vídeo).
A seleção teve quase 700 inscritos. As provas foram aplicadas no dia 13 de dezembro. Uma semana depois, moradores se surpreenderam com o resultado. Entre os aprovados está a filha de Pelegrin. A jovem teve 36 concorrentes, mas passou em primeiro lugar para o cargo de fisioterapeuta.
Já a filha de Maristela Zadinello também foi primeira colocada para enfermeira. Logo em seguida, na segunda colocação, figura uma sobrinha do prefeito. A lista ainda inclui um primo da vice-prefeita em primeiro lugar para cirurgião-dentista, o sobrinho do prefeito na primeira colocação para auxiliar administrativo e até o atual chefe de gabinete do prefeito, primeiro colocado na função de agente de compras e contratos da prefeitura. Maior parte dos outros aprovados tem relação com vereadores dos partidos do prefeito e da vice.
Um homem que não quer se identificar fez o concurso para professor. Ele conta que desconfiou do processo após perceber uma situação durante a realização das provas. “As três pessoas que passaram no concurso foram ao banheiro e, após voltarem do banheiro, começaram a preencher o gabarito. Dentro de 10 minutos, após elas voltarem do banheiro, entregaram a prova”, diz.
Dois dias antes das provas serem aplicadas, uma lista com possíveis nomes que passariam no concurso foi entregue à Justiça por vereadores da oposição. Entre as pessoas citadas, 90% foram aprovadas. “Indícios muito fortes”, destaca a assessora jurídica Ana Paula Alves. “Dentre tantos concorrentes, seria mera coincidência que essas pessoas todas passaram no concurso?”, questiona.
O promotor Marlos da Rosa Martins afirma que, se for comprovada a fraude, os responsáveis poderão ter de responder a processo criminal. “É um indício para que se tenha uma investigação, para verificar o que aconteceu. E se verificar alguma irregularidade nesse concurso público, serão ajuizadas as medidas judiciais cabíveis, tanto cíveis como eventualmente criminais a partir das conclusões desse inquérito”, diz o promotor.
Um grupo de vereadores pede a anulação do concurso e a investigação do caso. “Não fomos traídos só nós, representantes públicos. Foram traídas todas aquelas mentes daquelas pessoas que acreditaram no sonho de um concurso público, estudaram, perderam noites de sono e lá no momento de uma prova foram traídas. E não só essas pessoas aqui de Cristal do Sul. Muita gente de fora também foi traída”, diz o vereador Ariosto de Oliveira (PP).
A Construir Concursos, empresa responsável pelas provas, funciona em um galeria no Centro de Maravilha (SC). Porém, no local, a placa indica outra empresa. Por telefone, a assessoria jurídica da Construir disse que vai esperar a notificação do Ministério Público para se manifestar.
Já o prefeito de Cristal do Sul garante que não houve fraude no processo. Ele atribui o resultado à capacidade da filha e dos outros parentes aprovados. “Já dá bem para dizer como a menina tem inteligência. Ela trabalha, né? Inclusive a minha família, que passou no concurso, atende em seis municípios pelo SUS e eu acho que ela tem competência. Se ela fez e passou, é por competência dela. É isso o que eu tenho a declarar”, diz o prefeito.