Rubens Nóbrega
A amiga Isabel Cristina, além de colega de trabalho, deu-me presente sexta-feira última. Entregou-me cópia de uma cartinha de amor – com pedido de namoro – que um adolescente mandou para uma sobrinha dela.
A menina descobriu-se apaixonada aos 13 anos e fez tal confissão à tia, adiantando, contudo, que somente poderia contar aos pais aos 14, completados em agosto último, idade combinada em família para começar a namorar.
Melhor de tudo, o menino por quem a sobrinha de Isabel se apaixonara parecia retribuir – e de forma intensa – os mesmos sentimentos. Tanto que para firmar o seu amor e nobreza de intenções escreveu a carta que reproduzo adiante.
Mas não se preocupem os leitores e os familiares da mocinha. Vou preservar a identidade do casal. Farei quase igual fiz há 44 anos, quando escrevi algo parecido.
Devo dizer, contudo, que bem ao contrário do novo sobrinho de Bel, na minha vez e época o medo de levar um fora era tanto e o desejo de ser discreto tamanho que acabei esquecendo de assinar a carta. Ainda bem que a emissária, uma amiga comum, revelou a identidade do pretendente e teria dado a maior força, procurando convencer a menina de alguma qualidade que eu pudesse ter.
Mas não foi suficiente. Soube pela estafeta que a minha prenda “até gostou da carta”, mas, ao saber quem era o autor do texto, teria reagido um tanto chocada.
– Quem? Aquele menino mago e feio, da cabeça grande, que estuda no 2º B? Oxe, menina! Pelo amor de Deus… Tu acha mesmo que eu vou namorar um presépio daquele?
Fiquei arrasado. Passei uma ou duas semanas de coração amargurado, sentindo-me o ser mais desprezível e mais rejeitado do universo. Minha fossa só acabou porque logo encontraria casualmente a menina que tanto desejava e ela, para minha grande surpresa, cumprimentou-me sorrindo, de semblante terno e convidativo.
Animei-me a abordá-la pessoalmente, diretamente. E foi o que fiz, arranjando coragem não sei onde dentro da minha enorme e quase intransponível timidez. Para minha maior surpresa ainda, disse-me que só não aceitara namorar comigo porque teria problemas em casa. Seus pais não deixariam. Ela seria, e de fato era, muito novinha.
Mas, atenção vocês, nunca, nunca em tempo algum ela teria se referido a minha figura da forma depreciativa como me relatara a portadora, que no bordão popular não merece, mas naquele momento me pareceu bastante merecedora de pancada.
Só não fui atrás da mensageira na mesma hora para tomar satisfações e, quem sabe, dar-lhe uns muxicões, porque soube naquele instante, pela boca da então menina dos meus sonhos, da insuperável surpresa daquele dia.
A nossa alcoviteira, quem diria, ela sim estaria vivamente interessada neste ‘menino mago e feio, da cabeça grande’. Que de imediato transferiu sua grande paixão para a outra menina e correu para casa.
Para se trancar no quarto e escrever uma nova cartinha de amor, com pedido de namoro à criatura que tinha na conta de amiga e veio a ser aquela que me inaugurou verdadeiramente no mundo dos afetos mais chegados.
DE… PARA…
Leiam a seguir a cartinha que certo rapazinho escreveu para a sobrinha de Isabel Cristina. Que ninguém identifique possíveis clichês! Muito menos história de que é pieguice fora de moda a iniciativa do menino.
Ele, ela e a carta que selou esse namoro são a prova mais eloqüente de que é perfeitamente possível a eclosão do amor em seu estado mais puro em meio a tanta valorização de relacionamentos casuais e descompromissados.Não tenho dúvida, compartilhando as expectativas da minha amiga e colega de trabalho, de que esse casal tem tudo para dar certo.Até por que, importantíssimo, o que menino escreveu, da forma como escreveu, foi decisivo para os pais dela não apenas consentirem como abençoarem o namoro.
***
Meu Amor, nunca vou esquecer o dia em que te conheci.
A primeira vez que você sorriu para mim. Desde o dia que te vi passei a olhar a vida de outro modo, de um modo especial.
Confesso que demorei para perceber que estava completamente apaixonado por você, mas, agora que percebi, digo que te amo e sempre amarei.
“Se amar todas as estrelas do céu, todos os grãos de areia da praia, todas as gotas de água do oceano, todas as rosas do mundo e todos os sorrisos que já foram dados na história, começarão a ter uma idéia do quanto eu te quero”.
“Ontem à noite olhei para o céu e comecei a dar a cada estrela uma razão de te amar tanto. Faltaram-me estrelas…”.
“Quando eu te digo ‘Eu te amo’ não é da boca para fora, pois amar não é só olhar nos teus olhos e dizer ‘Eu te amo’ e sim fixar os olhares em uma mesma direção em busca de um novo horizonte”.
“Amar é ter o céu e querer apenas uma estrela; amar é ter o oceano e querer apenas uma gota, amar é ter o universo e querer apenas uma pessoa: você!!!”.
Eu te amo, …, e essa é uma decisão muito importante que vou tomar. Vou te fazer a menina mais feliz do mundo.
Quer namorar comigo?