Época: governo Dilma ‘flexibilizou’ regra para garantir financiamento do BNDES na África

"Esses mercados representam importantes parceiros comerciais do Brasil"

dilma rousseffReportagem publicada pela revista Época, na edição deste final de semana, revela como o governo atuou para assegurar que um investimento do grupo Andrade Gutierrez se viabilizasse em Moçambique, por meio de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

De acordo com a revista, a própria presidente Dilma Rousseff, em viagem ao continente africano em março de 2013, recebeu pedido do presidente de Moçambique, Armando Guebuza, para permitir o financiamento de US$ 320 milhões ao empreendimento da empresa brasileira, a construção da barragem de Moamba Major. Porém, as regras do banco dificultariam a realização da operação.

A reportagem da Época, no entanto, afirma que em setembro de 2013, em reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), o então ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, fez prevalecer entendimento favorável à flexibilização de garantias para conceder o empréstimo. Pimentel, hoje, é governador de Minas Gerais.

Em julho de 2014, durante a campanha eleitoral no Brasil, afirma a reportagem, o financiamento ao empreendimento na África foi concedido pelo BNDES.

Segundo Época, no mês seguinte à assinatura do contrato com o BNDES, no dia 20 de agosto, às 8h54, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha presidencial à reeleição de Dilma, visitou Otávio Marques de Azevedo no escritório da Andrade Gutierrez, em São Paulo. A conversa durou quase uma hora. Nove dias depois desse encontro, a empreiteira realizou uma transferência no valor de R$ 10 milhões para a campanha de Dilma. Em seguida, do dia 23 setembro a 22 de outubro de 2014, a construtora doou ao todo mais R$ 10 milhões, em três parcelas. Entre as empreiteiras brasileiras, a Andrade foi a principal contribuidora da reeleição de Dilma, desembolsando quase o triplo do total repassado pela UTC.

Questionada por ÉPOCA a respeito da negociação, a Presidência da República informa, por meio de sua área de comunicação, que o governo Dilma Rousseff sempre teve como estratégia expandir as exportações de produtos manufaturados e bens e serviços para os mercados da África e América Latina. “Seguindo essa diretriz, com total autonomia e sem nenhuma ingerência de qualquer instituição do governo, o Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, colegiado responsável por avaliar as condições de financiamentos do governo federal a operações de exportação) e a Camex tomam suas decisões”, afirma a Presidência, por escrito. “Cabe ainda ressaltar que as doações feitas à campanha de 2014 não tem nenhuma relação com as ações de governo.”

Em nota, o BNDES afirma que o controle na concessão dos créditos à exportação se baseia em critérios técnicos e tem permitido apoio às empresas brasileiras com uma inadimplência extremamente baixa. E também que “não é incomum que uma operação seja aprovada na Camex e depois transcorra, até a contratação, um prazo similar ao observado na operação”. O banco não divulga o fluxo de desembolsos dos financiamentos à exportação.

Procurado pelo GLOBO, o Palácio do Planalto afirmou que as doações feitas à campanha de 2014 “não tem qualquer relação com as ações de governo”. Em nota enviada à redação, a assessoria informou ainda que a política de Comércio Exterior do governo da presidente Dilma Rousseff sempre teve como estratégia expandir as exportações de produtos manufaturados e bens e serviços para os mercados da África e América Latina.

“Esses mercados representam importantes parceiros comerciais do Brasil. Seguindo essa diretriz e com a total autonomia e sem nenhuma ingerência de qualquer instituição do governo, o CONFIG e a CAMEX tomam suas decisões”.

 

O Globo