Com transmissão de zika por sangue investigada, Hemocentro faz alerta

Paciente recebeu transfusão de 1º homem com zika de SP, em Campinas.
Ministério da Saúde diz que investiga; caso seria o primeiro no Brasil.

transfusao-sangue

A constatação da transmissão do zika vírus por transfusão de sangue mudou o protocolo do Hemocentro da Unicamp, em Campinas (SP). As orientações foram divulgadas nesta quinta-feira (17). A primeira pessoa diagnosticada com a doença no estado de SP – morador de Sumaré (SP) – fez uma doação antes de ter sintomas e o sangue contaminado foi, de fato, doado. Exames comprovaram a circulação do zika no organismo do paciente que recebeu a transfusão. O Ministério da Saúde investiga essa forma de transmissão; o caso seria o primeiro do Brasil.

“As investigações ocorrem na linha de avaliar a capacidade de infecção do vírus por transmissão sanguínea. O que se sabe é que, apesar de o paciente que recebeu o sangue não ter desenvolvido a doença, foi constatado que ele tinha o vírus circulando no organismo. Não desenvolver a doença não é o mesmo que não ter sintomas”, informou o Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa, ao G1.

Contaminação por transfusão é muito rara, sendo [este] o único caso descrito até o momento, pois o período de incubação da doença é muito curto e identifica-se poucas áreas epidêmicas no mundo”
Hemocentro da Unicamp
Segundo o Ministério, não se sabe ainda se o fato de o paciente ter o vírus no corpo seria suficiente para que o mosquito Aedes aegypti se contaminasse e, assim, contaminar outras pessoas. “Embora ainda não esteja registrada em estudo científico, a descrição está entre as diversas  investigações em andamento sobre o comportamento do vírus”, diz o Ministério.

Como o vírus não se desenvolveu no paciente, a Secretaria de Saúde do Estado informou que não se caracteriza como o terceiro caso de zika em SP. Nos dois casos confirmados, de um homem de 52 anos de Sumaré e de um morador de São José do Rio Preto, a infecção se deu diretamente pelo mosquito Aedes aegypti.

No momento não há nenhum outro caso de infecção por zika transfusional em investigação no estado, confirmou a secretaria. Também não foram registrados casos de zika no segundo semestre em SP.

Quem pode doar, e quando
O Hemocentro da Unicamp informou ao G1, por nota, que a “contaminação por transfusão é muito rara, sendo [este] o único caso descrito até o momento, pois o período de incubação da doença é muito curto e identifica-se poucas áreas epidêmicas no mundo. A principal forma de transmissão é a via vetor (mosquitos), sendo este risco muito superior ao por via transfusional”.

As doações de sangue e hemoderivados, como plaquetas, são especialmente necessárias nesta época do ano, quando é registrada queda na frequência de doadores.

Entre as orientações, em conformidade com a Coordenação Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, o banco de sangue alerta que doadores que foram infectados pelos vírus da dengue, chikungunya ou zika, após diagnóstico clínico e/ou laboratorial, estão inaptos a doar por 30 dias, a contar da completa recuperação.

Já as pessoas que tiveram dengue hemorrágica só poderão doar seis meses após a cura. Doadores de regiões endêmicas, com epidemias confirmadas, ou que tenham se deslocado para essas áreas, também são considerados inaptos por 30 dias.

Todos os doadores que foram habilitados a doar serão instruídos a comunicar ao serviço de hemoterapia qualquer sinal ou sintoma de processo infeccioso, como febre e diarreia, que apareça até sete dias após a doação.

O Hemocentro também ressalta que “informações da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde reforçam que a doença causada pelo zika vírus tem uma evolução benigna na grande maioria dos casos, e que é descrita como uma doença febril aguda, autolimitada, com duração de 3 a 7 dias, geralmente sem complicações graves, porém está relacionado com ocorrência de complicações neurológica e microcefalia”.

Atualmente, segundo a instituição, não há um teste comercial registrado no Brasil para identificação do zika vírus disponível para ser usado em larga escala e validado para uso em doações de sangue.

Mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue, zira vírus e chikungunya (Foto: Reprodução/ EPTV)
Transfusão investigada
A transfusão começou a ser investigada em março deste ano e, em maio, o Instituto Adolfo Lutz confirmou o caso de zika no estado pela primeira vez. De acordo com a Prefeitura de Sumaré, o homem diagnosticado com zika tinha doado sangue no Hemocentro deCampinas dias antes de apresentar os sintomas da doença, e foi a partir desta doação que o diagnóstico de zika ocorreu.

Assim que os sinais apareceram, ele mesmo avisou o Hemocentro sobre os sintomas e a suspeita de dengue – doença cogitada na época por conta da epidemia na região. Segundo o Hemocentro, uma amostra do sangue doado pelo morador foi enviada para o laboratório do instituto que descartou a dengue e confirmou a infecção por zika.

A Prefeitura de Sumaré acredita que o morador tenha sido picado pelo mosquito Aedes aegypti na cidade, pois a vítima da doença alegou, na época, não ter viajado para fora do país ou regiões distantes.

Receptor da doação teve zika

O sangue doado chegou a ser usado em uma transfusão para um paciente, que não é morador nem de Campinas e nem de Sumaré. O Hemocentro informou que este receptor do sangue doado passou por exames e ele foi diagnosticado com zika.

No entanto, ele não teve os sintomas da doença, como manchas vermelhas e coceira na pele. A cidade de origem dele não foi divulgada.

Fonte: G1