“Eu cheguei a pensar que eu poderia morrer, sim”. Assim o deputado Fausto Pinato (PRB-SP), em seu primeiro mandato, resume as pressões que passou a sofrer desde que foi escolhido como relator do processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética da Casa.
Nesta quarta-feira (9), quando o parecer de Pinato pela abertura do processo iria ser votado no conselho, Cunha fez uma manobra junto à mesa diretora para destituir o deputado do cargo.
Pinato afirmou que sofreu ameaças de morte e registrou um boletim de ocorrência confidencial junto à Secretaria de Segurança de São Paulo. Diz que também fez uma representação ao Ministério da Justiça. Segundo ele, sua família estava usando um carro blindado e um policial militar passou a dormir em sua casa para fazer sua proteção.
“Fui abordado em aeroporto, o meu motorista foi abordado, recebi alguns recados em aeroporto de pessoas desconhecidas. Sofri todo tipo de pressão que você pode imaginar”, disse em entrevista à imprensa. E detalhou: “Falaram para pensar na minha família, que eu tinha filho pequeno, filha pequena, irmão pequeno”.
Segundo ele, foi por causa das ameaças que o deputado resolveu apresentar antes do prazo seu parecer a favor da admissibilidade do processo contra Cunha.
“Eu protocolei, sim, antes, porque eu fiquei com medo de morrer”, afirmou. Ele declarou, contudo, que não tem como dizer de onde partiram as ameaças.
Pinato disse ainda que os aliados de Cunha na Câmara, sem citar nomes, também lhe pressionaram, sugerindo “aconselhamentos” em favor do arquivamento. “Recebo recados dia e noite de que estaria brigando com um exército de 200 e tantos deputados”, contou.
Ainda com as pressão, o deputado disse que vai manter seu voto pela admissibilidade do processo contra Cunha e pede que as outras legendas da Câmara iniciem uma obstrução contra Cunha, porque o caso pode se repetir com outros. “Fiz um relatório isento, pautado na legitimidade, estou com a minha consciência tranquila”.
“O único relator que consegue sobreviver hoje no Conselho de Ética é um relator que arquive o processo. Esse é o sentimento deste deputado”, afirmou.
É o segundo caso relacionado a investigações contra Cunha de pessoa que se diz ameaçada. Em julho, a advogada Beatriz Catta Preta, que cuidou da delação premiada de um lobista que afirmou ter pago propina a Cunha, Julio Camargo, veio a público afirmar que também se sentia ameaçada por integrantes da CPI da Petrobras, que apresentaram requerimento para lhe convocar.
Cunha tem negado relação com as ameaças. No caso de Pinato, o presidente da Câmara pediu à Polícia Federal que instaurasse inquérito sobre o caso.
RECURSOS
O líder do PRB na Câmara, Celso Russomano (SP), afirmou que a legenda vai entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal e recursos ao plenário da Câmara e à Comissão de Constituição e Justiça para tentar reverter a derrubada de Pinato.
“Como se toca o parlamento desse jeito, se não existe independência para que um deputado trabalhe em sua relatoria?”, declarou. “Não podemos aceitar esse tipo de coisa. É por que o relator estava agindo da forma correta?”, disse.
Russomano criticou que os outros integrantes da mesa diretora não foram consultados sobre a decisão.
A representação contra Cunha, protocolada pelo PSOL e pela Rede, acusa-o de ter mentido aos seus pares ao declarar, na CPI da Petrobras, que não teria contas no exterior. O Ministério Público da Suíça enviou ao Brasil a descoberta de quatro contas no exterior do deputado e familiares.
A defesa de Cunha, porém, argumenta que três dessas contas se constituíam em trustes, espécie de investimento no qual ele entrega os recursos a um banco para que administre e diz que ele não tinha mais responsabilidade sobre esse dinheiro. A outra conta pertence nominalmente à sua mulher, Cláudia Cruz.
Folha