Brasília e São Paulo – O senador Delcídio Amaral (PT-MS) afirmou nesta quinta-feira, 26, à Polícia Federal, em Brasília, que pretendia “ajudar” o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a sair da prisão por “uma questão humanitária”. Delcídio prestou depoimento na Superintendência da PF, onde está preso preventivamente desde anteontem. Ele negou que buscasse impedir Cerveró de fazer acordo de delação premiada.
Segundo o senador, ele disse a Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró, que iria ajudar o ex-diretor “apenas por uma questão humanitária”, com o intuito de confortar Bernardo. No entender da Procuradoria-Geral da República, no entanto, Delcídio buscava obstruir o avanço das investigações e evitar que Nestor Cerveró firmasse acordo de delação premiada.
Em uma conversa que Bernardo gravou com seu telefone celular no dia 4 de novembro, o senador disse que intercederia no Supremo Tribunal Federal para ajudar Cerveró a conseguir um habeas corpus. Questionado ontem pela PF sobre expressões utilizadas no diálogo, Delcídio afirmou: “Foram com intuito de dar uma palavra de esperança e de conforto para o familiar de um réu que está preso, mas jamais falei com qualquer ministro do STF sobre o assunto.” De acordo com o petista, ele foi procurado pelo filho do ex-diretor da Petrobras por meio do advogado.
“Apenas dei essa palavra de conforto vendo o desespero do filho de um dos presos. Ele (Bernardo) se apresentou a mim pedindo ajuda. Eu disse que ia ajudar e tentar interceder, mas isso foi apenas uma questão humanitária, para confortar o familiar do réu preso da Lava Jato”, afirmou o senador à PF
No diálogo gravado por Bernardo, Delcídio, um assessor de seu gabinete e o advogado Edson Ribeiro chegam a planejar um roteiro de fuga para Cerveró deixar o Brasil após conseguir a liberação pelo Supremo. A intenção, conforme os relatos, era levar o ex-diretor da Petrobras para a Espanha.
‘Relação próxima’
A PF quis saber de Delcídio sobre a participação do advogado, ex-defensor de Cerveró e até ontem procurado pela Interpol também por envolvimento no episódio. O senador disse que o advogado entrou em contato com ele e pediu uma reunião. “Levou junto (na reunião) o Bernardo. Eu o recebi. Eu tinha uma relação próxima com Nestor Cerveró e com a família do Nestor Cerveró. Por esse motivo, eu os recebi. Na conversa, Edson Ribeiro começou a relatar que tinha entrado com habeas corpus (para Cerveró), relatou o drama pessoal, o sofrimento pessoal que Nestor Cerveró está passando. Eu disse que ia tentar ajudar, mas foi uma palavra de conforto ao filho (Bernardo)”, reiterou.
Delcídio deverá ser ouvido novamente pela PF. Existem outras questões que os investigadores querem submeter ao senador, como, por exemplo, sua ligação com o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual, que, conforme as tratativas gravadas por Bernardo, ficaria responsável por uma mesada de R$ 50 mil para a família de Cerveró em troca do silêncio do ex-diretor da Petrobras.
O senador foi confrontado com o áudio da conversa com o filho de Cerveró e reconheceu sua voz na gravação.” “O senador deu as explicações de maneira contundente”, afirmou o advogado. Maurício Silva Leite. Ele disse que o petista aguarda “sereno o desenrolar das investigações, mas muito chateado”.
Segundo Leite, o senador não tentou subornar Cerveró nem obstruir a Lava Jato. “Isso não ocorreu.” Colaborou Dida Sampaio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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