Quem pode com Rubens Nóbrega?

Gilvan Freire

Com 17% de seu tempo de governo já desperdiçado com versões não comprovadas sobre números e índices da administração e buscando encobrir as notórias deficiências de sua gestão, RC está se aproximando de um quinto de todo o seu período governamental sem gerar um mínimo de expectativa boa à população do Estado. Isso já seria bastante preocupante por conta dos problemas administrativos crônicos que a Paraíba vem acumulando há anos, somados às brigas políticas tribais de líderes que giram em volta mais de si e menos em volta dos outros, mas agora a situação se agrava ainda mais, porque o governante atual fracassa também na gerência política, sucumbe diante de promessas feitas e desmancha sua biografia com a qual levou o povo a acreditar que seria ele próprio um instrumento de grandes mudanças na vida da sociedade.

Rubens Nóbrega, jagunço de ancestrais sertanejos que herdou via DNA da família o bom manejo da caneta e tinta como armas poderosas contra os desvios de dever e os abusos da consciência pública, tornou-se faz tempo uma espécie de Inspetor de Quarteirão, figura antiga de guarda de rua encarregado de garantir o sossego de uma comunidade, que não permitia agressões de uns aos outros, muito menos ataques externos a ninguém. Rubens vai além, e como um tranca-ruas de jurisdição estadual, elegeu o povo, os costumes e o patrimônio público como alvos de sua proteção, apontando sempre na direção dos agressores persistentes esse trabuco feito de massa cefálica que funciona como artefato atômico de efeitos físico e moral – mais moral que físico. De guardião dos indefesos, Rubens converteu-se em inimigo número um do governo, somente porque rasgou a roupa e tem deixado o rei nu.

QUANDO UM SÓ HOMEM VALE POR MIL

Há na população milhares de pessoas esclarecidas que pegarão até em armas quando chegar a hora de defender direitos e interesses alheios, contanto que entre esses bens coletivos estejam também interesses seus, e só circunstancialmente cairiam na luta armada para proteger apenas uma sociedade ameaçada em sua paz ou em sua sobrevivência. Especialmente, quando estiver apenas ameaçada, porque se estiver violentada mesmo ninguém escapará e todos lutarão obrigatoriamente.

Na ‘volta’ de Rubão a coisa é diferente. Basta que a sociedade esteja levemente atingida em sua integridade e haja um indício mínimo de que a democracia possa ficar vulnerável diante dos que têm a obrigação de resguardá-la, e ele levanta seu velho trabuco contra os malfeitores com o destemor de quem sabe que causa muito mais medo aos outros do que deve ter pessoalmente. Sua coragem não parece ter qualquer relação de parentesco com o medo que atemoriza os fracos – que não é mãe, filha, irmã, nem sequer prima dele, porque a sua coragem, sim, é que é filha do dever, um atributo da consciência humana que não mede os homens pelo tamanho e nem os deixa submetidos a nenhum poder superior, a não ser o de Deus. Ou, então, o poder de outra razão maior que a sua.

Quando o povo tem em sua defesa uma opinião tão poderosa como a de Rubens Nóbrega, nutrida em longo combate sem trégua ou recuos, fica com a impressão de que ele ataca os gigantes com uma pedra de funda, como fez Davi 1000 anos antes de Cristo derrotando Golias. De lembrar que Golias riu-se de Davi, comparando-o a um cão, diante do que Davi respondeu – “Tu vens a mim com espada, e com lança, e com dardo, mas eu chego a ti com o nome do Deus dos exércitos, o Deus das fileiras combatentes de Israel, de quem escarneceste.” Olhando para Rubens e vendo que ele não agüenta meia tapa, chega-se a conclusão que a força dele não é nada física, é apenas o extravasamento da razão de seu espírito indomável e da valentia moral que recebeu pelo sangue de seus antepassados.