A enxurrada de comentários com conotação sexual e ofensivos a respeito de Valentina, 12 anos, participante do programa “Master Chef Júnior” (Band), gerou repercussão nas redes sociais e veículos da mídia. Durante a estreia do reality show culinário na noite de terça-feira (20), a menina foi chamada de vagabunda, entre outras referências ofensivas.
Para Rosely Sayão, psicóloga e colunista da “Folha de S. Paulo”, as mensagens proferidas em relação à Valentina são por essência pedófilas, ainda que nenhum dos homens responsáveis por elas seja de fato um abusador de crianças.
“A sociedade vive hoje no limite entre a civilização e a barbárie, que é o que permite esse tipo de agressão. O que as pessoas precisam entender é que ver esse tipo de coisa e ficar enojado não muda nada. É preciso valorizar a infância e tomar atitudes legais a respeito de fatos como esse”, afirma Rosely.
O “Master Chef Júnior” tem participantes de nove a 13 anos, entre eles meninos e meninas. Loira, Valentina se destaca por ser a mais alta entre as meninas. Mesmo que seja considerada a mais bonita, ainda é uma criança e não tem maturidade emocional para se defender de uma abordagem sexual.
“Esse tipo de comentário cria uma situação de perigo para essa menina, pois ela não está lá para ser desejada. As pessoas que a veem dessa forma e externam uma opinião erótica sobre ela incitam outros a enxergá-la como mulher, o que ela não é”, declara Maria Helena Vilela, educadora sexual do Instituto Kaplan, um centro de estudos sobre a sexualidade humana.
Para a especialista, ainda que, aos 12 anos, Valentina chame atenção por sua aparência física, ninguém tem o direito de violentá-la com palavras e, dessa forma, constranger ela e sua família.
“Na cabeça desses homens, uma menina que se expõe na TV está disponível para esse tipo de situação. Eles podem até pensar, mas não humilhar com opiniões esdrúxulas. Ela tem o direto de participar sem ser agredida.”
Sobre as características físicas de Valentina e sua performance no reality, Rosely diz que a cultura de primeiro analisar a vítima para depois dar um “diagnóstico” da situação precisa acabar. “Mesmo que ela tivesse usado uma roupa provocante ou tido uma movimentação corporal mais adulta, continuamos nos referindo a uma garota de 12 anos. Não interessa como ela é ou o que fez, ela é uma criança.”
As duas especialistas declaram que o episódio com Valentina serve como alerta para os pais, uma vez que a exposição nas redes sociais é uma prática cada dia mais comum. “É preciso tomar muito cuidado, pois as pessoas usam fotos aparentemente ingênuas para fins hostis”, afirma a colunista da “Folha de S. Paulo”.