Cartaxo diz em entrevista de visibilidade nacional que desgaste do PT contaminou Nordeste

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Militante do PT há mais de 20 anos, o prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, rompeu com o partido há um mês para se filiar ao PSD, do ministro das Cidades Gilberto Kassab. Com uma tacada só, mirando o pleito de 2016, Cartaxo se livrou de dois fantasmas da eleição municipal passada: a influência do governador Ricardo Coutinho (PSB) dentro do processo interno do PT de escolha do candidato e o desgaste de dar explicações ao eleitor sobre os escândalos nacionais de corrupção no partido durante a campanha.

Aos 51 anos, e tendo o PT como seu único partido político até recentemente, Cartaxo afirma existir uma rejeição à legenda no setor empresarial, na relação com alguns partidos políticos e no próprio eleitorado nordestino de modo geral, especialmente da classe média.

Ao mesmo tempo, o prefeito não ficou com o ônus do rompimento: ele se mantém na base aliada da presidente Dilma Rousseff e e a defende, sempre que provocado sobre o tema. Diz que não acredita em impeachment porque não há provas de envolvimento da presidente em ato de corrupção. “Quem no Congresso tem moral e força política para provocar o impeachment?”, indaga.

No PSD, Cartaxo encontrou autonomia para costurar o processo eleitoral de 2016 em torno de sua candidatura. O PT fica agora sem nenhum prefeito em capital nordestina. Cartaxo levou ainda consigo cerca de 500 militantes do partido para o PSD- entre eles, Lucélio Cartaxo, seu irmão gêmeo – e dois vereadores. Dos 223 municípios paraibanos, o PT só está no comando de seis.

Em João Pessoa, Dilma já não teve uma eleição fácil em 2014. Venceu no primeiro turno na capital paraibana com 40% dos votos, um ponto percentual a menos que a sua média nacional. Marina Silva, então no PSB, ficou com 30% e Aécio Neves, do PSDB, com 25%.

Cartaxo deve enfrentar as mesas forças políticas de 2012 na campanha pela reeleição. Além do PSB, o pleito deve contar com postulantes do PSDB, do senador Cássio Cunha Lima, e do PMDB, do ex-governador José Maranhão.

Embora diga que só vai pensar em reeleição em 2016, Cartaxo está em plena maratona de inaugurações na cidade. Sua gestão promete entregar 70 obras apenas este ano. Apesar da queda nas receitas e dos repasses do governo federal, Cartaxo diz que tem tirado dinheiro dos cofres da prefeitura para não paralisar as obras. O prefeito falou com o Valor no seu gabinete em João Pessoa.

Valor: Quando anunciou a sua saída do PT, o senhor disse que o partido não poderia ser um “empecilho”. Em que sentido o PT estava sendo um empecilho?

Luciano Cartaxo: Foi um decisão amadurecida, que avaliei durante um longo período. Tínhamos dificuldades momentâneas, diante da crise nacional do PT, de estabelecer alianças e diálogos com diversos setores da sociedade. Existe uma rejeição forte à legenda no setor empresarial, na classe média e na relação com alguns partidos políticos. Isso teve um peso importante. Não era justo que a gestão da cidade pagasse um preço por algo com o qual não tem vínculo.

Valor: O PT seria, portanto, um empecilho para o senhor disputar a reeleição no próximo ano?

Cartaxo: Teríamos uma dificuldade maior em formar alianças em torno de uma candidatura do centralizada no PT, por conta da rejeição ao partido. Há ainda uma questão local. O PSB é muito influente no PT aqui. Em 2012, tivemos dificuldade muito grande durante as prévias para lançar o meu nome. Nada garante que isso não iria ocorrer de novo.

Valor: Em 2016, o senhor deve enfrentar novamente o PSB, o PSDB e o PMDB, três forças políticas locais. Quais alianças já costurou?

Cartaxo: Na eleição passada já derrotamos essas forças em João Pessoa. Só vou cuidar de maneira mais trabalhada do processo eleitoral no ano que vem. Por enquanto, vou focar na gestão e em superar esse momento de crise pela qual o país está passando. O municípios e estados estão sofrendo muito com redução das receitas e dos investimentos federais, desde novembro passado. O Minha Casa Minha Vida está com atraso de 60 a 90 dias, várias obras estamos pagando com recursos da prefeitura..

Valor: O rompimento com o PT não pode prejudicar a relação com o governo federal?

Cartaxo: Esse não é o perfil da presidente Dilma Rousseff. Esperamos que os repasses voltem à normalidade.

Valor: O PT sempre teve uma base eleitoral forte no Nordeste. Como o senhor avalia a relação entre PT e o eleitor nordestino?

Cartaxo: Não tem diferença do que acontece em qualquer outra parte do País. Existia uma presença maior das políticas públicas do governo no Nordeste, que fez o Brasil avançar e diminuiu desigualdades, mas as decisões da política econômica atuais afetam o Brasil como um todo. O governo ganhou uma eleição com o país dividido ao meio. Hoje temos problemas sérios com relação a política econômica e a articulação política do governo federal. Isso se reflete no dia a dia do cidadão.

Valor: O que ou quem levou o PT a situação atual?

Cartaxo: Não estou aqui para julgar o PT ou suas lideranças. O momento hoje é do próprio PT fazer uma leitura do que está acontecendo no País, dentro do partido e do fato de estar envolvido em dois escândalos, mensalão e petrolão, em curto espaço de tempo. O mensalão foi pauta permanente em 2012, mas conseguimos mostrar durante a campanha que o que estava acontecendo nacionalmente não tinha a ver comigo nem com o PT da Paraíba. No cenário de 2016, não queremos exatamente ficar dando esse tipo de explicação.

Valor: Por que a escolha pelo PSD?

Cartaxo: Era importante um partido que nos desse estabilidade para trabalhar um projeto de futuro na cidade, com autonomia para costurar o processo eleitoral de 2016 e que, ao mesmo tempo, fosse da base de sustentação da presidente Dilma. O PSD contemplou todas essas questões e ainda tínhamos um relação boa com o deputado federal Rômulo Gouveia, que é presidente do partido na Paraíba.

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