A turista francesa Jade Thomassine jamais imaginou a surpresa que teria dez meses depois de passar por uma desagradável experiência no Brasil. Após ter o celular roubado no centro de Porto Alegre (RS), em outubro de 2014, ela recebeu o aparelho de volta pelo correio em sua casa, na França. O responsável por isso é um policial civil gaúcho, que pagou do próprio bolso o envio do aparelho para o exterior.
O roubo aconteceu durante um intercâmbio no final do ano passado. Um homem tomou das mãos da artista plástica francesa seu iPhone 5S durante um passeio no Mercado Público municipal.
Cerca de um ano depois, o escrivão Paulo Nunes, da 2ª Delegacia de Polícia, no bairro Menino Deus, identificou o aparelho de Jade em uma carga de telefones celulares roubados apreendidos pela Brigada Militar de vendedores ambulantes no centro. A rotina do policial, já repetida centenas de vezes, é vasculhar os aparelhos à procura de pistas que identifiquem o proprietário para, depois, encontrá-lo pelas redes sociais e, por fim, entregar o equipamento perdido.
Dessa vez, no entanto, a dificuldade do escrivão foi maior. Como o aparelho era importado, ele não conseguiu identificar a operadora pelo IMEI (espécie de chassi do aparelho). Geralmente é pelas empresas de telefonia que ele consegue, com autorização judicial, chegar aos proprietários.
Sem sucesso, recorreu às anotações no aplicativo bloco de notas. Ali encontrou, entre anotações em francês e espanhol, um número de telefone que poderia ser brasileiro e um nome em português. Foi como o policial encontrou um amigo brasileiro que Jade havia feito na capital gaúcha.
O homem não possuía o telefone nem o contato da francesa, mas apenas seu primeiro nome. “Fui no Facebook e levei uns 15 dias para encontrá-la. Depois foram mais uns 15 dias para convencê-la e me mandar o endereço”, lembra Nunes.
“Mandei fotos do telefone e, depois de uns dias, ela retornou o contato com o endereço em Lille, onde mora.” Em posse dos dados da proprietária do celular, Nunes pagou do próprio bolso os cerca de R$ 70 pelo envio. “Eu pedi que quando ela recebesse, publicasse no Facebook”, conta. Cerca de 25 dias depois, foi com surpresa que viu seu pedido ser atendido.
No dia 6 de agosto, Jade o citou em uma publicação no Facebook. “Bom dia a todos. Uma pequena história que acalentou meu coração. Eu estive em Porto Alegre de outubro a janeiro. Uma viagem iniciática. Meu único contratempo material aconteceu com meu telefone. Eu fui roubada no Mercado Público, e os assaltantes o revenderam. Mas em uma reviravolta do destino a polícia de Porto Alegre desmantelou a rede. O senhor Paulo Nunes, com o apoio da Polícia Federal, me enviou meu telefone aqui para a França. E aqui estou eu com meu celular. Obrigada Paulo, obrigada polícia, obrigada Porto Alegre”, escreveu Jade em francês.
O texto foi acompanhado por fotos do embrulho com o endereço do remetente, a 2ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, e do celular recuperado.
“Não sabia que ia dar tanta repercussão. Estou acostumado a entregar aparelhos recuperados todo dia. Isso não é novidade nenhuma para mim. É o que se espera de um policial”, comenta Nunes sobre o episódio.
De 2014 até agora, ele diz ter recebido cerca de três mil celulares recuperados. Sozinho, tenta identificar cada proprietário para devolver o maior número possível de aparelhos. “Tento dar esse exemplo. Mas é trabalho de uma andorinha sozinha”, afirmou.
Para ele, o esforço vale a pena. “Por trás de cada celular existe um menino que foi saqueado, um empresário roubado, uma pessoa que trabalhou o dia todo e foi assaltada enquanto ia para casa”, justifica o policial.