Referência em parto de alto risco, no Instituto Cândida Vargas (ICV) nascem mensalmente cerca de 700 crianças. Muitos dos partos realizados na maternidade contam com o auxílio das doulas, acompanhantes treinadas, que além do apoio emocional, fornecem às partuirentes, informações sobre o desenrolar no trabalho de parto, intervenções e procedimentos necessários de forma que as mulheres participem das decisões acerca das condutas a serem tomadas nesse período.
Neste sábado (19), após a aprovação da Câmara Municipal de João Pessoa, na última quarta-feira (16), do projeto de lei que obriga os hospitais a aceitarem a presença de doulas, nasceram de forma natural e humanizada, trigêmeos que receberam durante o pré-parto os cuidados e orientações das profissionais.
“A paciente já se encontrava internada há mais de uma semana sendo assistida por uma equipe multiprofissional da maternidade e pelas doulas que atuam como voluntárias na instituição, tendo em vista que os bebês eram pré-maturos. Sábado, a mãe começou a sentir as contrações e levando em consideração à saúde da mãe e dos bebês, a equipe optou em fazer um parto normal, que é o mais biológico e natural” explicou o médico obstetra e diretor técnico da área de Obstetrícia do ICV, Juarez Augusto.
Ainda, de acordo com o diretor técnico da Obstetrícia, o nascimento de forma natural dos três bebês contou com a experiência e capacitação em partos de alto risco dos médicos da maternidade. “Para o nascimento do terceiro bebê que apresentava anômala, foi preciso manobras de versão interna e externa. O sucesso nesses procedimentos é que dão o reconhecimento à instituição pelo Ministério da Saúde em parto de alto risco e redução no número de cesárias, no que diz respeito à saúde da mulher”, informou.
“O Instituto Cândida Vargas atua dentro de uma política pública, juntamente com o Ministério da Saúde para estimular o parto normal, tendo em vista os benefícios trazidos e para minimizar os riscos de uma cesária. Atualmente 54% dos partos na maternidade são naturais e as doulas já agregam muito valor ao trabalho que é realizado junto à equipe multiprofissional durante o período da gestação, com as orientações e aconselhamentos, como também no momento do nascimento dos bebês”, completou o médico Juarez Augusto.
A mãe dos trigêmeos, que já passou por outros dois partos normais, há 14 e 17 anos, falou da assistência recebida no hospital antes, durante e após o parto. “Vim de Sertãozinho para João Pessoa porque sabia que aqui teria um cuidado adequado para um parto dessa natureza, de risco. Tudo indicava que seria um parto cesário, mas logo cedo chegaram às contrações e a dilatação e os médicos viram que eu tinha condições de ter normal. Graças a Deus e ao profissionalismo da equipe estamos todos bem e com saúde, o mais importante”, disse a dona de Casa Shirlei Cláudia Monteiro da Rocha.
Julia, que nasceu com 1.400 quilos, Sheila, com 1.700; e Guilherme com 1.900 irão permanecer na maternidade em observação. “Vamos continuar em observação e eles recebendo os cuidados necessários, já que são bem pequeninos. Logo voltaremos para casa e eu nunca vou me esquecer desse dia, em que os três conseguiram vir para meus braços de forma natural”, completou a mãe.
ICV – No Instituto, aproximadamente 60% dos atendimentos de urgência são realizados em pacientes residentes em João Pessoa, enquanto o restante são casos de urgência de pacientes de outros municípios e Estados vizinhos. Já do total de mulheres internadas na maternidade, 52% são de outras cidades e Estados.
Realizando cerca de 700 partos por mês, a maternidade do ICV funciona 24 horas por dia, durante todo o ano. O local dispõe de uma estrutura adequada para atender grávidas em toda a sua totalidade, incluindo três alojamentos para gestantes, UTIs maternas e Neonatais, Unidade de Cuidados Intermediários (UCI), enfermarias, salas de partos e bloco cirúrgico. O Instituto está localizado na Avenida Coremas, s/n, Jaguaribe.
Projeto de Lei – O projeto de lei aprovado recentemente na Câmara estabelece que as maternidades públicas e privadas na Capital paraibana devem aceitar a presença das doulas para acompanhar as mulheres, caso seja solicitada pelas gestantes, durante as consultas, exames pré-natal, parto e pós-parto. O projeto institui ainda que as doulas poderão acompanhar a gestante no local do parto, seja ele normal ou casario, sem excluir a presença de algum parente escolhido pela gestante para participar acompanhar também o momento do parto.
Capacitação – A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), por meio da Secretaria Extraordinária de Políticas Públicas para as Mulheres (SEPPM)
tem realizado Curso de Formação de Doulas. O curso tem duração de sete meses, sendo que um mês é voltado exclusivamente para as aulas teóricas, onde são abordados temas como: o trabalho de uma doula; voluntariado; ética profissional; dinâmicas do parto; aleitamento materno e práticas integrativas (exercícios preparativos para o trabalho de parto).
As aulas práticas duram seis meses e são realizadas no Instituto Cândida Vargas (ICV). As alunas, que são supervisionadas, trabalham diretamente com as mães e a equipe multiprofissional da unidade hospitalar.
Doulas – Palavra que vem do grego e significa “mulher que serve”. Essas profissionais trabalham no suporte físico e emocional de outras mulheres antes, durante e após o parto. Após o curso, elas poderão contribuir para o trabalho de humanização do parto desenvolvido pela PMJP, através do trabalho voluntário do ICV.
As doulas formadas pela SEPPM já acompanham cerca de 600 mulheres no ICV, e esse trabalho de humanização do parto é perceptível através dos números, pois entre 2013 e 2014, os partos normais realizados na Maternidade Cândida Vargas passaram de 51,8% para 54,12%. A presença das doulas também representa uma redução em 20% na duração do trabalho de parto, diminuição de 60% nos pedidos de anestesia e redução de 40% no uso de oxitocina e do fórceps.