Praça é fundamental - Rubens Nóbrega

Não quero ir embora de vez sem antes voltar a morar de frente para uma praça, para que eu possa nela viver boa parte ou a melhor parte que me resta.
Servirá também à revivência de alguns melhores momentos que a velhice é capaz de reprisar, tamanha a saudade da adolescência e  juventude.

Mas tem que ser uma praça completa de tudo. Tem que ter árvores, muitas árvores… Grama, bastante grama… Flores, muitas flores…
Ou seja, tem que ser arborizada e ajardinada, antes de tudo, e de preferência plana.

A praça ideal, top de linha, tem que ter também alamedas na parte interna e uma calçada boa, larga e regular em volta, para desfrute de passeantes e caminhantes.
Se puder agregar uma ciclovia, sem prejudicar o passeio ou a caminhada, será o ouro.

Ah, e não pode faltar o chafariz da passarada nem o coreto no centro onde uma bandinha possa tocar e um casal se esconder vez em quando.
Mais: não fará mal algum, pelo contrário, se a praça tiver um quiosquezinho para vender lanche, café e água. Ou uma banca de revistas. Admite-se ainda uma carrocinha de flores ou carrinhos de pipoca, de sorvete e picolé ou de algodão doce passando por lá todos os dias.

Vamos permitir também alguém carregando um tabuleiro de bombons, de doce americano ou um latão cheio de cavaco chinês e amendoim japonês.
Importante: evidente que não abro mão de uma boa iluminação – forte, generosa, bem distribuída – em todos os canteiros e acessos.Importantíssimo: proteção 24 horas por dia, feita por guardas próprios e uma rádio patrulha da PM que volta e meia nos dê uma olhada.

Vale atentar para o seguinte: o guarda a que me refiro é daqueles que cuidam mesmo, que zelam de verdade pelo bem estar das pessoas e o bom estado das coisas.
Guarda de praça não é pra dar porrada em ninguém, não. Nenhum malquerer ou truculência há de baixar na minha praça.


Guarda de praça é povo bom, além de parte indispensável de uma equipe que se completa com pessoal da manutenção e limpeza.

Manutenção e limpeza que serão permanentes, claro, inclusive na reposição de lâmpadas e, eventualmente, de algumas peças de alvenaria da    praça.

Lembro, a propósito, que a conservação será tanto melhor se contarmos com a educação e a consciência dos usuários.

Para esses não faltará o apoio das lixeirinhas e papeleiras instaladas em pontos estratégicos e protegidas de qualquer vandalismo.

Alguém aí pediu para incuir quadras de esporte, rampas, pistas de esqueite ou de patinação?… Desculpe-me, mas dispenso. Não é pro meu bico nem pra minha faixa.

Quanto ao tamanho… Aí, faço questão. Não pode ser menor que a Pracinha do Pirulito, de Santa Rita, nem maior que a Praça da Independência, de João Pessoa.

Porque essas praças são as referências mais recorrentes das minhas dimensões sentimentais, do que pude fazer de melhor por minha área emocional.

O Pirulito, por exemplo, foi cenário do primeiro namoro. A Independência, por onde comecei o último. O que ainda está valendo, com cara de derradeiro.

Na média, quero uma praça pouco maior que a do Boa Vista (hoje Ipês, na Capital) e pouco menor que a Epitácio Pessoa, de Bananeiras.

A praça do Boa Vista (não a da igrejinha, mas a de cima, mais colada em Mandacaru) foi a primeira e única que me teve como vizinho    de frente.

Das outras fui entre razoável e bom freqüentador. Que voltarei a ser quando a aposentadoria chegar. Se conseguir me aposentar.

Reunindo a turma
Tenho até um plano de chamar os amigos das antigas para nos reencontrarmos na minha praça ideal e revivermos, juntos, as melhores praças de nossas vidas.

Vou falar com Fernando Maia e Neném de Zé do Padre que é pra ver se eles me ajudam a juntar outra vez a turma de Bananeiras.

Eles devem saber mais do que eu por onde andam Meninin, Mamaco, Batista, Joãozinho e os Marquinhos, o Guimarães e o Lira.

A gente pode chamar também Gildin, Guina, Ronaldo e Toinho Cirne, se todos ainda estiverem por lá. Ou cá.

Vamos marcar o dia e o banco. A data é com vocês; o banco, deixa comigo. Vou reservar aquele mais próximo do coreto. Se chover…

Tem que ser um assim, semelhante àquele onde a gente esperava começar a sessão no Cine Excelsior e de onde começava a correr quando a chuva engrossava.

Quanto à hora, sugiro do sol caindo pra cima, após o jantar ou os afazeres domésticos.

E se me refiro às tarefas caseiras é porque não imagino nenhum de nós, a essa altura, ainda penando em escritório, repartição ou empresa.

O esforço máximo será ir comprar o pão na padaria, pegar filho ou neto no colégio, ver telejornal, novela, futebol e ouvir programa de rádio.

Mas só porque esse trabalho rende assunto para discussão na praça, como rendia na praça do Boa Vista nos setenta do século passado.

E por falar em Boa Vista, pedirei a Marcos Pequeno para contatar companheiros das altas horas e dos altos papos na pracinha do velho conjunto.

Talvez seja mais fácil para ele encontrar e convidar Gilmar de Seu Zequinha e Cacau de Zé Pordeus.

De minha parte, ligarei para os meus primos. Acredito que Beto, Marcão e Cone aceitarão o convite.

Que cada um traga e compartilhe com todos a sua melhor lembrança, a mais escolhida, a que mais gosta de lembrar.

Não terei o menor problema em falar das minhas. Até por que na maioria delas esses amigos tiveram alguma participação relevante.

Só espero que todos estejam com saúde boa. Suficiente para depois da boa conversa irmos até as Cinco Bocas.

Onde, em vez de crack e baseado, encontraremos o velho e bom caldo de cana que tomaremos com sanduíche de pão doce e mortadela. E na maior tranqüilidade.

Afinal, se pudermos reviver as nossas praças como há quarenta anos é porque estaremos reencontrando também o que já tivemos de melhor em nossa cidade.